Mil dias

Autor: Hércules da Silva Xavier

"A noite não adormece
nos olhos das mulheres
a lua fêmea, semelhante nossa,
em vigília atenta vigia
a nossa memória"

Conceição Evaristo

Ainda que dos olhos surjam lágrimas de saudades de um tempo que não será vivido, haverá sempre uma força escondida para por no rosto de cada uma, de cada um, o marcante sorriso de confiança, certeza e fé, pois segue-se adiante pelo caminho, deixando mais perto o que parecia longe. E ainda se a estrada parecer dura ou algum peso se fizer sentir, sempre se pode dividí-lo com a colega, o colega ao lado, que resolveu acompanhar os mesmos firmes passos. Afinal, vale a pena a luta por tratar-se, acima de tudo, daquela palavra-vontade que é a Esperança: vontade de ver acontecer. De fazer acontecer.

Páginas de livro escrito contém palavras marcadas de sentido. Feridas no corpo contém as cascas de pele que marcam a cicatrização. Entre as estradas que interligam as cidades há os marcos rodoviários: são pedras. No tempo que passa, as horas assomam-se para os dias, desde aquele, marcado, em noite não dormida e prolongada na constante vigília que insiste naquela mesma pergunta, gerando a numérica marcação das múltiplas centenas, cuja grande quantidade demonstra a tragédia do acontecimento com a ausência das respostas.

Enquanto isso, nas mesmas passagens dos dias, as sementes lançadas começam por desabrochar e florescer, gerando novos amanheceres, acrescentando outras vozes, lançando novas palavra-semente que, encontrando bom solo, darão bons frutos. A mútua troca de saberes, no comum objetivo da justiça, permite que a firme mensagem permaneça presente no lugar que mais importa, em corpos desejosos de boa mudança, influenciados por aquela boa flor, hoje saudade, mas cuja memória segue nos corações que admiram, vigiam e comunicam; porque o tempo futuro demanda atenção para com os marcos, ímpares e singulares.

Este dia, oito de dezembro de 2020, que adveio de madrugada chuvosa, resulta como um grande despertar de mil relógios, que dará ensejo - senão à definitiva resposta -, para a decisiva pergunta. O coração de cada leitora, cada leitor, saberá fazê-la e entregá-la. Em coro, ao alto, se preciso for.

{este texto seguirá em constante revisão}