Transformações Urbanas e Remoções de Favelas: mudanças entre as edições

 
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<span style="font-size: medium; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify; color: black;">No caso das remoções realizadas no Rio de Janeiro, muitas formas foram mobilizadas pelos agentes públicos para lidar com as pessoas nestas situações de erradicação. Destacam-se as práticas de pressões diárias, tais como aquelas feitas por estes agentes quando dizem aos moradores: &nbsp;“ou você aceita a ´proposta`ou vai ficar sem nada”, “se não aceitar, vai para a rua”, “não adianta chamar ninguém para ajudar, a gente virá derrubar de qualquer maneira”; o imenso e intenso esforço de fazer com que os próprios moradores entrassem em conflito entre si, através da manipulação da informação sobre a situação local (informações conflitantes são repassadas a cada um), limitando, em alguns casos, sua articulação contra o despejo; a emissão de autos de interdição (alegando risco) sem especificação e exigindo saída imediata, sem alternativa; a falta de identificação, por parte dos moradores, dos agentes com os quais são obrigados a lidar nestas situações; espalhar, a partir de contatos individualizados, que a prefeitura conseguiu liminares e que a qualquer momento poderia ocorrer o despejo, o que levava a um estado de constante ansiedade; para evitar resistências, agentes do Estado afirmavam que iriam resolver a situação particular de cada um, solução esta que nunca chegava, postergando o resolução ao máximo, levando ao extremo a agonia dos moradores; falta de acesso aos projetos a partir dos quais as remoções são justificadas; demolições sem compensação financeira; destruição de casas geminadas como forma de pressão (já que o morador ao lado fica apreensivo quanto ao que pode lhe acontecer com a desestabilização da casa vizinha); cortar ou limitar o acesso à serviços públicos, como água e eletricidade (compreendidas pelos moradores como uma forma de pressão); </span><span style="font-size: medium; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">a prática comum de “deixar/fazer morrer” ao tornar a vida local inviável através das demolições e suas sobras que, ao permanecerem no terreno, tornam-se inúmeros obstáculos que levam ao limite as forças destes indivíduos. Um cenário de extremo sufocamento e asfixia; </span><span style="font-size: medium; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify; color: black;">desqualificação moral de quem criticava a situação.</span>
<span style="font-size: medium; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify; color: black;">No caso das remoções realizadas no Rio de Janeiro, muitas formas foram mobilizadas pelos agentes públicos para lidar com as pessoas nestas situações de erradicação. Destacam-se as práticas de pressões diárias, tais como aquelas feitas por estes agentes quando dizem aos moradores: &nbsp;“ou você aceita a ´proposta`ou vai ficar sem nada”, “se não aceitar, vai para a rua”, “não adianta chamar ninguém para ajudar, a gente virá derrubar de qualquer maneira”; o imenso e intenso esforço de fazer com que os próprios moradores entrassem em conflito entre si, através da manipulação da informação sobre a situação local (informações conflitantes são repassadas a cada um), limitando, em alguns casos, sua articulação contra o despejo; a emissão de autos de interdição (alegando risco) sem especificação e exigindo saída imediata, sem alternativa; a falta de identificação, por parte dos moradores, dos agentes com os quais são obrigados a lidar nestas situações; espalhar, a partir de contatos individualizados, que a prefeitura conseguiu liminares e que a qualquer momento poderia ocorrer o despejo, o que levava a um estado de constante ansiedade; para evitar resistências, agentes do Estado afirmavam que iriam resolver a situação particular de cada um, solução esta que nunca chegava, postergando o resolução ao máximo, levando ao extremo a agonia dos moradores; falta de acesso aos projetos a partir dos quais as remoções são justificadas; demolições sem compensação financeira; destruição de casas geminadas como forma de pressão (já que o morador ao lado fica apreensivo quanto ao que pode lhe acontecer com a desestabilização da casa vizinha); cortar ou limitar o acesso à serviços públicos, como água e eletricidade (compreendidas pelos moradores como uma forma de pressão); </span><span style="font-size: medium; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">a prática comum de “deixar/fazer morrer” ao tornar a vida local inviável através das demolições e suas sobras que, ao permanecerem no terreno, tornam-se inúmeros obstáculos que levam ao limite as forças destes indivíduos. Um cenário de extremo sufocamento e asfixia; </span><span style="font-size: medium; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify; color: black;">desqualificação moral de quem criticava a situação.</span>


= <span style="font-size:larger;"><span style="color: black; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif;">Resistências</span></span> =
==Resistências==


<span style="font-size: medium; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify; color: black;">Os exemplos destas práticas foram muitos. Elas se renovavam e se atualizavam a partir de cada nova situação de remoção. E</span><span style="font-size: medium; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">stas práticas estavam a serviço da consolidação do controle estatal sobre estas populações e, no caso do Rio de Janeiro, alterando não somente a circulação e localização destas no espaço da cidade, mas também aumentando a reprodução de capital imobiliário. Se estas situações, por um lado, podem nos esclarecer os pontos de incidência dos mecanismos de poder, sua construção e reconstrução cotidiana, por outro, também nos apresentam a possibilidade de verificar como se elaboram diversificadas estratégias de resistência à sua efetivação e de afirmação de modos diferentes de viver na cidade.</span>
<span style="font-size: medium; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify; color: black;">Os exemplos destas práticas foram muitos. Elas se renovavam e se atualizavam a partir de cada nova situação de remoção. E</span><span style="font-size: medium; font-family: Arial, Helvetica, sans-serif; text-align: justify;">stas práticas estavam a serviço da consolidação do controle estatal sobre estas populações e, no caso do Rio de Janeiro, alterando não somente a circulação e localização destas no espaço da cidade, mas também aumentando a reprodução de capital imobiliário. Se estas situações, por um lado, podem nos esclarecer os pontos de incidência dos mecanismos de poder, sua construção e reconstrução cotidiana, por outro, também nos apresentam a possibilidade de verificar como se elaboram diversificadas estratégias de resistência à sua efetivação e de afirmação de modos diferentes de viver na cidade.</span>