Diquinho: Liderança (entrevista): mudanças entre as edições

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'''Autoria: Dicionário de Favelas Marielle Franco'''
'''Autoria: Dicionário de Favelas Marielle Franco e matéria cedida pelo RioOnWatch.'''


 
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= Biografia =


Diquinho, morador e liderança do Complexo do Alemão, foi uma figura histórica do movimento de favelas. Completou 71 anos no último dia 12 de abril de 2020, e tinha a vitalidade e a indignação daqueles que acreditam que o socialismo vai enterrar essa sociedade apodrecida pela concentração de riquezas nas mãos de um punhado de capitalistas e na superexploração do proletariado e opressão dos povos. Atualmente, na laje de sua residência, no Complexo do Alemão, mantinha um curso pré-vestibular para moradores da região, organizado pelo "Conselho Popular", do qual foi fundador.
Diquinho, morador e liderança do Complexo do Alemão, foi uma figura histórica do movimento de favelas. Completou 71 anos no último dia 12 de abril de 2020, e tinha a vitalidade e a indignação daqueles que acreditam que o socialismo vai enterrar essa sociedade apodrecida pela concentração de riquezas nas mãos de um punhado de capitalistas e na superexploração do proletariado e opressão dos povos. Atualmente, na laje de sua residência, no Complexo do Alemão, mantinha um curso pré-vestibular para moradores da região, organizado pelo "Conselho Popular", do qual foi fundador.
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No ano em que Diquinho se mudou com sua mãe e irmãos para o Rio de Janeiro, em 1967, a ditadura militar brasileira já havia abolido partidos políticos e ratificado uma nova e opressora constituição. Tendo destituído o Presidente João Goulart em um golpe supostamente temporário três anos antes, o regime militar deixou claro desde então que não iria a lugar nenhum. Para movimentos de oposição, incluindo grupos armados como o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), isso marcaria o começo de uma resistência ativa e subterrânea. Para Diquinho, que acabava de completar 18 anos, era o início de um despertar político.
No ano em que Diquinho se mudou com sua mãe e irmãos para o Rio de Janeiro, em 1967, a ditadura militar brasileira já havia abolido partidos políticos e ratificado uma nova e opressora constituição. Tendo destituído o Presidente João Goulart em um golpe supostamente temporário três anos antes, o regime militar deixou claro desde então que não iria a lugar nenhum. Para movimentos de oposição, incluindo grupos armados como o Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), isso marcaria o começo de uma resistência ativa e subterrânea. Para Diquinho, que acabava de completar 18 anos, era o início de um despertar político.
[[File:Foto 1980, da esquerda para a direita Arnaldo, José de Arimatéia, Irineu Guimarães, um membro da FAFERJ, e Diquinho. Foto Eladir Nascimento via Irineu Guimarães..png|thumb|center|500px|Foto 1980, da esquerda para a direita Arnaldo, José de Arimatéia, Irineu Guimarães, um membro da FAFERJ, e Diquinho. Foto Eladir Nascimento via Irineu Guimarães..png]]


Se estabelecendo no crescente bairro do Complexo do Alemão com sua mãe e irmãos, Diquinho seguiu com seu trabalho como tipógrafo e começou a participar de reuniões do sindicato, depois fazendo contato com membros do MR-8. Logo, com vinte e poucos anos, Diquinho se juntou com quatro ativistas do MR-8 que estudavam na UFRJ. Juntos, os cinco trabalharam para fundar uma escola preparatória para o ensino médio voltada para adultos. Diquinho, que por sua vez nunca completou o ensino médio, participou das aulas ministradas pelos estudantes universitários pelos próximos ano e meio, mergulhando na questão do treinamento político. Ele iria se integrar formalmente ao MR-8 em 1974, participando na Associação de Moradores Joaquim Queiroz (Grota) pelo próximo ano. Lá, na associação, Diquinho enfrentou o governo e agências de serviços públicos, lutando por melhorias na infraestrutura sanitária e por uma cobrança justa da energia elétrica para a favela. A mobilização de Diquinho no Complexo do Alemão logo chamou a atenção da Federação de Favelas do Estado do Rio de Janeiro (FAFERJ).
Se estabelecendo no crescente bairro do Complexo do Alemão com sua mãe e irmãos, Diquinho seguiu com seu trabalho como tipógrafo e começou a participar de reuniões do sindicato, depois fazendo contato com membros do MR-8. Logo, com vinte e poucos anos, Diquinho se juntou com quatro ativistas do MR-8 que estudavam na UFRJ. Juntos, os cinco trabalharam para fundar uma escola preparatória para o ensino médio voltada para adultos. Diquinho, que por sua vez nunca completou o ensino médio, participou das aulas ministradas pelos estudantes universitários pelos próximos ano e meio, mergulhando na questão do treinamento político. Ele iria se integrar formalmente ao MR-8 em 1974, participando na Associação de Moradores Joaquim Queiroz (Grota) pelo próximo ano. Lá, na associação, Diquinho enfrentou o governo e agências de serviços públicos, lutando por melhorias na infraestrutura sanitária e por uma cobrança justa da energia elétrica para a favela. A mobilização de Diquinho no Complexo do Alemão logo chamou a atenção da Federação de Favelas do Estado do Rio de Janeiro (FAFERJ).
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Para Diquinho, a única esperança remanescente está no trabalho de base: na luta pelas demandas de moradores de favelas, na formação de comitês organizadores, e no treinamento político. Portanto, quando o governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou R$600 milhões em serviços públicos para o Complexo do Alemão sob o Programa de Aceleração de Crescimento (PAC), agendado para ter início em 2008, Diquinho começou a trabalhar.
Para Diquinho, a única esperança remanescente está no trabalho de base: na luta pelas demandas de moradores de favelas, na formação de comitês organizadores, e no treinamento político. Portanto, quando o governo do Presidente Luiz Inácio Lula da Silva anunciou R$600 milhões em serviços públicos para o Complexo do Alemão sob o Programa de Aceleração de Crescimento (PAC), agendado para ter início em 2008, Diquinho começou a trabalhar.
[[File:Diquinho, segundo da esquerda, sentado ao lado do amigo Eladir Nascimento e do professor Boaventura de Sousa Santos. Foto - Eladir Nascimento..jpeg|thumb|center|500px|Diquinho, segundo da esquerda, sentado ao lado do amigo Eladir Nascimento e do professor Boaventura de Sousa Santos. Foto - Eladir Nascimento..jpeg]]


Evitando o diálogo com associações de moradores locais, Diquinho trabalhou através de uma série de comitês já existentes ou recém criados para desenvolver uma agenda propositiva das demandas dos moradores a serem incluídas nos trabalhos do PAC e apresentou-as diretamente aos coordenadores do programa. Isso incluiu o Conselho Popular do Complexo do Alemão, um grupo co-fundado por Diquinho em 2009; o Comitê de Desenvolvimento Local da Serra da Misericórdia (CDLSM-RJ), um grupo criado em 2000; e comitês de saúde e educação recém formados.
Evitando o diálogo com associações de moradores locais, Diquinho trabalhou através de uma série de comitês já existentes ou recém criados para desenvolver uma agenda propositiva das demandas dos moradores a serem incluídas nos trabalhos do PAC e apresentou-as diretamente aos coordenadores do programa. Isso incluiu o Conselho Popular do Complexo do Alemão, um grupo co-fundado por Diquinho em 2009; o Comitê de Desenvolvimento Local da Serra da Misericórdia (CDLSM-RJ), um grupo criado em 2000; e comitês de saúde e educação recém formados.
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{{#evu:https://www.youtube.com/watch?v=jArZaomZtRo}}
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= Referência =
 
[https://rioonwatch.org.br/?p=48392 Nilton ‘Diquinho’ Gomes Pereira, uma Vida Revolucionária Dedicada às Favelas: 1949-2020, RioOnWatch.] 
 
 
 
[[Category:Entrevista]][[Category:Vídeo]][[Category:Complexo do Alemão]][[Category:Temática - Lideranças]]