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| Conteúdo retirado do livro '''Lu Petersen: militância, favela e urbanismo, '''publicado em 2009 pela Editora FGV'''.''' __FORCETOC__
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| = Uma ideia fixa: favela =
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| “Uma loira que fala a linguagem da favela”. É assim que Nilza Rosa dos Santos, liderança comunitária do morro da Formiga, a descreve. Para o jornalista Xico Vargas, ela é uma das poucas pessoas da administração pública realmente capacitada a falar de favela. Já o prefeito Cesar Maia diz que não há “ninguém melhor do que ela” para contar a história das intervenções urbanísticas em áreas de pobreza. Nos últimos anos, em nossas pesquisas, cansamos de ouvir frases como essas. Seja no trabalho de campo junto a lideranças comunitárias, seja em entrevistas em gabinetes públicos, ou em conversas com agentes privados, o refrão se repetia: “Vai lá, trata de ouvir a Lu”.
| | Conteúdo retirado do livro '''Lu Petersen: militância, favela e urbanismo, '''publicado em 2009 pela Editora FGV'''.''' __FORCETOC__ |
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| Aceita a recomendação geral, demos início, em fins de 2006, a uma série de entrevistas com Lu Pertersen que agora disponibilizamos em livro. Carioca, criada no clima de Ipanema das décadas de 1950 e 1960, quando conheceu e conviveu com alguns dos mentores da bossa nova e da Banda de Ipanema, Lu mergulhou fundo na luta contra o regime militar brasileiro, como muitos de sua geração. Depois de presa durante o célebre Congresso da UNE em Ibiúna, prisão essa que lhe valeu um processo, Lu, já com um diploma de arquitetura na mão, seguiu o caminho do exílio, deslocando-se, em um primeiro momento, para o Chile socialista de Salvador Allende. Em 1973, em meio à diáspora que se seguiu ao golpe militar de Augusto Pinochet, tomou o rumo da Europa, fixando-se na Suíça até o seu retorno ao Brasil, em 1979, quando da aprovação da Lei da Anistia.
| | = Sobre o trabalho = |
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| No começo dos anos 1980, Lu passou a integrar o corpo técnico da prefeitura do Rio de Janeiro, colocando-se na linha de frente de importantes projetos que estabeleceram as bases para uma nova política governamental voltada para as favelas cariocas, bastando-se citar, entre outros o projeto Mutirão e o Favela-Bairro. Mais recentemente, tem desenvolvido esforços no sentido de consolidar o Museu a Céu Abertodo morro da Providência, além de coordenar a implantação do projeto Célula Urbana, cujo objetivo consiste em estimular e multiplicar iniciativas autossustentáveis nas favelas cariocas.
| | Reunimos aqui um pedaço do livro "'''Lu Petersen: militância, favela e urbanismo" '''que fala da vida da Lu Petersen, importante personalidade responsável pela criação de programas sociais para as favelas, entre eles o Favela-Bairro. |
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| O depoimento de Lu Petersen abre a coleção Protagonistas Urbanos, cujo objetivo é o de divulgar entrevistas com figuras-chave nos debates e no desenvolvimento de ações e políticas em torno da cidade contemporânea. Este volume é fruto do trabalho de pesquisadores vinculados ao Laboratório de Estudos Urbanos (LEU) do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea (Cpdoc) da Fundação Getulio Vargas (FGV) e dá continuidade à linha de publicações levadas a efeito pelo projeto Memórias do Urbanismo Carioca, coordenado no Cpdoc/ FGV pelos pesquisadores Américo Freire e Lúcia Lippi Oliveira.
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| = Uma garota de Ipanema =
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| <blockquote><p style="text-align: right;"><span style="font-family:Lucida Sans Unicode,Lucida Grande,sans-serif;">'''''“Apesar da aparência de gringa, eu sou uma mistura tipicamente brasileira”'''''</span></p> </blockquote>
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| '''Vamos começar com a sua formação. Você nasceu no Rio de Janeiro?'''
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| Meu pai Silas de Cerqueira Leite era comandante da base aérea e responsável pelo Correio Aéreo Nacional (CAN), e eu nasci em Campo Grande, Mato Grosso do Sul; mas, em 40 dias, viemos para cá. Ele veio pilotando o avião da Força Aérea Brasileira que nos trouxe ao Rio. Com um ano e pouquinho, depois que meu pai morreu, fui morar no Leblon. Na rua Cupertino Durão, que era uma das saídas da favela da praia do Pinto. E as mulheres, predominantemente negras, trabalhavam nas casas de famílias do bairro. Eram lavadeiras, babás, empregadas domésticas. O Leblon se caracterizava por muitos terrenos baldios, casas e uns poucos prédios baixos. Eu morava numa casa perto da praia. E nós gostávamos muito de subir o morro Dois Irmãos.
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| '''Você e seus irmãos?'''
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| Eu tenho uma irmã que se chama Anna Maria Wendel. Nós duas subíamos junto com a nossa turminha. Nessa época já existia o embrião da favela do Vidigal, com casebres de madeira, onde todos eram negros. Não existia o bairro ali no morro. Então, é aí que começa uma convivência muito de perto com essa história de favela. E posteriormente com os efeitos das remoções, quando a praia do Pinto é removida, lá pelos anos 60, aquelas lavadeiras começaram a ter problemas sérios para pagar a condução para o Leblon, trazer o pacote de roupa... E vinha tudo amassado. Então começou a volta de famílias, da Cidade de Deus e de outras áreas periféricas, para morar no Pavão e Cantagalo principalmente.
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| '''Você transitava pela praia do Pinto?'''
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| Quem controlava a praia do Pinto? Como eu disse, eu entrava na favela com minha irmã e uma amiga, e nunca houve qualquer problema. Ninguém controlava, mas era a área principal de repressão da delegacia de polícia. Ladrão roubava pela terceira vez, o delegado acabava com a raça do ladrão. O interessante é que existia a guarda conhecida como “Cosme e Damião”, que além de apoiar a classe média, cuidava das pessoas da favela e levava para o hospital Miguel Couto. Eles viviam a nossa realidade e a da favela. Do Leme ao Leblon, se desenvolveram alguns aspectos culturais, de uma classe média diferente dos moradores da Tijuca, por exemplo. Quem morava na praia era considerado muito liberal. Moças sérias não moravam em Copacabana [risos]. Estou falando dos anos 40. Era uma vida mais livre e mais esportiva. As praias eram espaços de lazer e esporte, de jogar vôlei, de pegar onda, de peteca e futebol de areia. Quando chovia, a turminha ia para a minha casa. Tinha arrasta-pé — toda sexta e sábado —, pipoca e suco de fruta em pó. O pessoal da favela só ia à praia a partir das quatro da tarde. E eles se enrolavam na areia, ficavam iguais a peixe antes de fritar, porque achavam que a areia protegia do sol. Então tinha aquele monte de negros... A carapinha cheia de areia... Eu chamo de negro sem preconceito, não chamo de preto. É claro que existia também uma divisão espontânea de horários, os adultos saíam depois de meio-dia, o que não valia para nós, crianças e jovens. Ou seja, existiam preconceitos na encolha sim.
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| '''Em que escola você estudou?'''
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| Estudei no Ginásio Mello e Souza de Ipanema, feminino, na praça General Osório. Uma escola laica, apesar da diretora linha dura. Eram judeus, filhos de pais separados, de intelectuais simpatizantes ou militantes de esquerda. Minha irmã e eu não éramos batizadas, não tínhamos formação religiosa alguma.
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| '''Fale-nos um pouco sobre as sua origens familiares.'''
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| A minha mãe, Ingeborg Wendel, tinha uma origem interessante. O pai era dinamarquês, que veio morar no Brasil em 1889. Tinha sete filhos com uma dinamarquesa que veio com ele. Ficou viúvo, conheceu a minha avó e tiveram uma filha e três filhos. A minha avó era filha de uma índia mestiça do Paraná que tinha olhos verdes, filha de um imigrante italiano. O meio-irmão da minha bisavó era índio puro. Ela foi sequestrada por um bandoleiro do Paraná e conseguiu fugir e voltar lá para a cidade, grávida de oito meses da minha avó. A minha avó foi criada por um pastor protestante alemão. E depois ela virou presbiteriana.
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| A minha mãe nasceu em São Paulo e depois foi morar em Santos. Era bem morena, de cabelo liso e com traços europeus. Bonita. Era obrigada a ir à igreja nos fins de semana e cantava no coral. Quando chegou aos 15 anos, ela perguntou para o pastor sobre a existência de Deus, e ele respondeu com uma repreensão. Dali em diante, a religião passou a ser questionada e criou um grande problema com a mãe dela.
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| O meu avô Guilherme Wendel era diácono da igreja para agradar a “indiazona”, que era meio linha dura... Porque no fundo, no fundo... ele era ateu [risos]. Era um cientista, engenheiro, e astrônomo nas horas vagas; materialista que tinha estudado na Politécnica de Munique. No Brasil, ele passava meses no meio do mato com uma equipe. Entre muitos trabalhos pioneiros de engenharia, fez o levantamento topográfico, que viabilizou a estrada de ferro Noroeste.
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| '''E a família paterna?'''
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| A minha avó paterna Isolina era mulata aça e o avô era pastor, neto de portugueses, mas acho que a origem era “cristão novo” porque lia em hebraico. Meu pai era louro também, de olhos azuis. Do que eu sei, não era nenhum fanático pela religião e dançava samba muito bem. A família era também presbiteriana, mas a minha mãe contava que havia divergências de correntes na mesma Igreja e entre as duas famílias. A mãe dela não gostou muito daquele casamento. Apesar da aparência de gringa eu sou uma mistura tipicamente brasileira.
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| '''Você terminou o ensino médio no Mello e Souza?'''
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| Eu fiz primário e ginásio. Depois fui fazer o curso técnico de estatística, que equivalia ao ensino médio, na Faculdade de Ciências Estatísticas do Instituto Brasileiro de Geografia Estatística. Excelentes professores de física, de química, de português, de matemática e estatística. Mas quando percebi que o curso superior era de matemática pura desisti de vez.
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| '''Você foi uma criança inquieta?'''
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| Até que não... Eu era uma criança tímida, chorona e muito mimada. A minha irmã foi convidada pelo Fluminense Futebol Clube para jogar vôlei. Eu, com 12 anos, fui convidada para fui nadar lá porque o colégio havia participado dos Jogos Colegiais e foi quando ganhei a minha primeira medalha. Era meio complicado porque a gente tinha que atravessar a rua Farani a pé e voltar de noite... Era um clube muito elitista. Então a minha irmã — que tinha uma cabeça bem diferente do pessoal da idade dela; ela lia Monteiro Lobato, Bertrand Russel... — resolveu ir para o Botafogo de Futebol e Regatas. E lá fui eu atrás. Daí acabou a piscina do clube, eu parei durante uns três anos. Joguei vôlei um tempo, mas não deu certo. Eu era lenta por causa da musculatura de natação que não é compatível com esportes em terra. Estou contando isso porque é um dos fatores importantes para a militância na esquerda. Disputar campeonatos e competir já foi, naquela época, um início de superação da timidez e da insegurança. No esporte individual é com você mesmo... Não dá para dividir responsabilidades.
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| '''Qual era a posição política do seu pai?'''
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| Ele manteve ligações com o brigadeiro Eduardo Gomes? Eduardo Gomes era uma liderança forte na Aeronáutica e meu pai era um “afilhado” dele, embora tivesse uma prática de caráter humanitário e progressista. O CAN foi tão pioneiro como o projeto Rondon porque saía aí pelos confins do país levando remédios, cartas, alimentos etc. Piloto da FAB era tudo meio doido... Os aviões superprecários... Aqueles jovens morriam como moscas. Eu não posso falar porque eu estou falando mal do velho [risos]. Na realidade estou repetindo comentários da minha mãe. Quando ele morreu, a minha mãe resolveu se afastar das duas famílias. Ela trabalhava fora quando solteira. Era secretária, taquígrafa e datilógrafa bilíngue e conseguiu emprego na Panair do Brasil, uma empresa estatal de aviação.
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| '''E a sua mãe se casou novamente?'''
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| Não. Mas também nunca foi uma viúva triste... Era uma viúva alegre [risos]. Ela votava na União Democrática Nacional, a UDN, que naquela época era oposição de direita à ditadura de Getúlio Vargas e sofria perseguição também, como o próprio Partido Comunista. Meu pai, provavelmente, teria integrado o movimento golpista de Jacareacanga. Ele ia querer que a gente casasse muito cedo, meninas casadoiras enfim, donas de casa.
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| '''Então, sua mãe era uma mulher muito moderna para a época. Vocês tiveram uma criação bastante liberal.'''
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| Minha mãe era assim... Linha dura com relação a estudos, ética, virgindade... E por outro lado era pra frente, muito viva, liberal em relação à vida saudável e praia. Ela era das poucas mães que liberavam a casa: podia jogar pingue-pongue em dia de chuva, na mesa de sucupira, e era a maneira que tinha de nos manter sob controle porque ela trabalhava o dia inteiro. Ela deixava quase tudo, desde que estivesse em casa... Arrasta-pé era todo fim de semana, inclusive, mais raramente, nas casas de outras meninas, ao som das orquestras do Glenn Miller, Artie Shaw, Tommy Dorsey, e muito samba também.
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| Então, não era assim repressiva, mas ela tinha lá seus instrumentos sutis. Ela era uma figura engraçada... Um dia, começou a campanha do Fiúza no Leblon, que era o candidato do Partido Comunista à presidência da República. A turma da praia do Pinto tocava um samba em frente de casa e dizia que “quando o Fiúza for eleito, a primeira casa que nós vamos entrar é na casa da madame aí... a viúva”. Eu me lembro até hoje, meu Deus do céu, ela foi lá para fora, deu uns tiros para o alto, sumiu todo mundo; virou a viúva louca, nunca mais entrou ladrão, nunca mais ninguém se meteu a besta... “Nego” passava longe da casa da viúva [risos].
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| '''E os outros membros da família?'''
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| Tinha três irmãos diretos dela. O caçula, Lourenço, morava conosco. O Olivério e o Job vinham nos fins de semana e feriados, porque eram da Aeronáutica. Eles também morreram muito jovens. Ela era a bugrinha querida do meu avô, muito influenciada por ele. Então, é bem atípica a história. Éramos muito amigas da Suzana de Morais, filha do Vinicius e da Tati, uma intelectual simpatizante do Partido Comunista, que tinha por amigos a fina flor da intelectualidade, que frequentava a casa dela. O Rubem Braga, Fernando Sabino, essa turma toda. Vinícius era ex-diplomata afastado do Itamaraty por suas posições de esquerda. Um dia, a Tati chamou para um passeio num Cadillac rabo de peixe, conversível e amarelo do Antonio Maria. E subimos a estrada das Canoas. Estava um dia magnífico, o sol, de tarde. E na volta, ele disse:
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| “Tati, eu fiz uma nova música”. E começou a cantarolar: “Vento do mar no meu rosto e o sol a queimar...” A depois famosa Valsa de uma cidade. Eu me achando o máximo, no meio de intelectuais; combinava com aquele carrão, combinava com o Rio. A minha aproximação com a esquerda e com o mundo da música começou nessa época. Depois veio a convivência com o pessoal de Ipanema e de Copacabana.
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| '''Era o pessoal da bossa nova?'''
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| O contato com a futura bossa nova começou no Leblon ainda, mas são dois momentos que se consolidam também no conhecimento de jazz. Eu era muito amiga de colégio da Nara Leão. Conheci o Roberto Menescal, que tocava com um conjunto no Clube Leblon, em 56. Logo depois mudamos para a Urca, para a avenida Portugal, em frente à praia, um apartamento térreo, como se fosse uma casa. Ali foi um dos locais em que, historicamente, a bossa nova começou. Acabei conhecendo o Carlinhos Lyra, o Oscar Castro Neves e o Mário Castro Neves, o Chico Fim de Noite Feitosa, Ronaldo Bôscoli e outros. Muitas músicas foram feitas lá. Ouvíamos a Julie London, com a guitarra do Barney (Kessell), Gerry Mulligan, o Jazz West Coast. A turma tocava MPB também, Dick Farney, Lucio Alves, Johnny Alf. Um belo dia o Menescal me falou: “Ô Lu, eu vou levar um baiano aí, que é sensacional”. Eu falei: “Legal, traz”. Era o João Gilberto. Então, eu sou testemunha viva da situação. O mentor e grande iniciador da bossa nova é o João Gilberto. Inteiramente neurótico e enjoado [risos]. Com aquele ouvido absoluto, não é? Bastava o Edinho, do Trio Irakitan, tentar fazer um coro... e lá vinha ele: “Alguém desafinou” [risos]. Essas coisas rolavam até de manhã cedo, porque os meninos não tinham como voltar para casa. Era só música. Mas muito militar morava na Urca, lugar muito isolado e provinciano. Começaram a reclamar, e depois de um ano e meio voltamos para a civilização... Que alegria... Frequentávamos também o Copa Golf, que era um clube entre o Arpoador e Posto Seis, que promovia jam sessions de músicos de jazz brasileiros e estrangeiros aos domingos, e a gente dançava com passos de rock pra valer. Fomos dançar no programa do Carlos Imperial [risos]. Aí, eu tinha um parceiro que me jogava por debaixo da perna, jogava para cima, e eu, com um rabo de cavalo, o rabo de cavalo voava assim... [risos]. Minha irmã conheceu o Robert Celerier, um francês profundo entendedor de Jazz East Coast, e fanático pelo Charlie Parker, que promovia seções de jazz na casa dele. Ela respondeu sobre jazz em 1962 no programa Música para Milhões da TV Rio, e só perdeu na fase final.
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| '''Você também tocava?'''
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| Não. Bem que a turma brincava que o João Gilberto queria casar comigo e criar uma nova cantora. Que acabou sendo a Astrud Gilberto. Ele levou o Aloísio de Oliveira da gravadora Elenco para me ouvir cantar lá em casa. A minha má vontade era visível. Não tinha nada a ver com a minha cabeça. Eles eram totalmente alienados. Coisas de músicos. Em 1958, fomos morar em Ipanema, na Rainha Elizabeth. Depois que acabou o Copa Golf, apareceu o Little Club que promovia jam sessions nos finais de tarde de domingo e, ao lado, no mesmo Beco das Garrafas teve também o Bottle’s Bar, onde o Johnny Alf cantava e tocava piano. Pouco depois surgiu o samba jazz, um importante desdobramento da bossa nova, liderado por figuras como Johnny Alf, Luiz Carlos Vinhas, Luisinho Eça, Sergio Mendes e outros.
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| '''E o esporte?'''
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| A partir de uma determinada época, me distanciei da bossa nova e voltei a nadar. O técnico era inteiramente fanático... Não dava sossego. Natação é um esporte muito restritivo, ou você adota uma autodisciplina ferrada ou então você não consegue. Você é capaz de arrebentar com o treinamento forte de um ano inteiro por causa de má alimentação, tomar refrigerante, essas coisas que, hoje, os atletas fazem. E nessa brincadeira, com uma equipe bem pequena do Clube de Regatas Guanabara, ganhamos o campeonato carioca do invencível Fluminense. Fui campeã carioca e brasileira. Em 1961, entrei para a Escola de Educação Física da Universidade do Brasil, porque ia ter um campeonato mundial universitário, o que me abria possibilidades de viajar para a Europa. E eu fui a única mulher da delegação brasileira a participar da “Universíade”, na Bulgária.
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| '''E como foi essa história?'''
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| Eu tinha uma encrenca, porque achava que tinha ombro largo, que eu era muito forte e era mais alta do que a média das mulheres. Participaram do evento atletas dos países comunistas. Aí, quando eu chego na raia, começam a pintar a alemã do Leste, a russa, a polonesa e todas as outras. Eu pensei: “caramba! eu sou a nanica aqui; estou ferrada”. Cada mulher do tamanho de um bonde, e entrei em último lugar na final dos 100 m costas.
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| '''Você viajou pela Bulgária?'''
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| Ah! E aconteceu um lance engraçado, lá. Nós queríamos ir bordejar um pouco pela Europa quando soubemos da renúncia do presidente Janio Quadros e aquela confusão toda. E daí... nós resolvemos sair de trem para Viena, porque os aviões estavam repletos. Fui também a Dusseldorf, Londres e Paris. Bom, enfim, deu para conhecer um pouco a Europa. A cidade de onde voltaríamos para o Brasil era Genebra, onde ficamos dois dias por problemas com o avião. Eu cheguei em casa e disse assim: “A Suíça é um lugar onde eu não vou morar nunca na minha vida. Aquilo é o fim da picada”. Tempos depois, nunca mais na minha vida disse dessa água não beberei [risos]. Voltei para o Brasil e fui fazer o vestibular para arquitetura em 62.
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| '''Mas, enquanto estava fora, continuava a acompanhar o que vinha ocorrendo no Brasil?'''
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| Eu não acompanhei. Só tinha notícia de uma revolução no Brasil, que era a resistência do Brizola no Sul. Só fiz uma entrevista na rádio búlgara, e o entrevistador me perguntou por que o presidente tinha saído. Eu falava francês mais ou menos e confundi l’argent, o dinheiro, com la monnaie, a moeda. Eu disse: “Acho que foi por causa de monnaie, à cause de la monnaie”. O cara deu um pigarro, mudou de assunto e logo depois encerrou a entrevista. Eu não entendi nada [risos]. É bem provável que tenha pensado, essa moça vai desandar a falar aqui, na Bulgária, sobre questões da economia brasileira... Mas não era nada disso.
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| '''Você disse que tudo isso foi importante para a militância. Por quê?'''
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| Essa viagem me abriu os olhos para o comunismo e para a Europa. E então... eu me encantei pelo comunismo na Bulgária. Mas não foi um fato isolado porque, nessa mesma época, minha irmã já estava na faculdade de arquitetura na praia Vermelha e ela se ligou ao Centro Popular de Cultura da UNE. Era uma época de grande efervescência política e cultural. E ela conheceu o Vianninha, Ferreira Gullar, o Armando Costa, e se relacionava, no nível profissional, com arquitetos simpatizantes ou militantes do Partidão. E acabou assumindo a militância na base de arquitetos e engenheiros. Ela era mais velha, tinha uma influência muito grande sobre mim; quem ficava comigo era ela. Eu desenhava muito bem e era excelente aluna de descritiva sem estudar nada; era um dom natural. E lá fui eu para a faculdade de arquitetura no Fundão em 63. Eu tinha tudo para ser de esquerda.
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| '''Era uma época quente...'''
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| Éramos um grupo grande, de amigos todos de esquerda, que estávamos em Paraty na Semana Santa, às vésperas do golpe militar. E aí nós voltamos para o Rio a tempo de ver o capitão Montanha tomar o quartel do Posto Seis a tapa. Foi tudo televisionado porque a TV Rio era em frente. Era o antigo Cassino Atlântico, dos bailes de Carnaval, (o baile infantil era uma maravilha). E eu pensava: “Que nada, a gente derruba esses militares em dois segundos”. Tinha velas acesas nas janelas por tudo que é lado da rua. A minha mãe começou a chorar. Ela dizia: “Essa ditadura vai durar uns 15 anos”. Foi a única pessoa que me falou isso. Claro que ela sabia das coisas, da ditadura Vargas, da revolução de 30 em São Paulo e, principalmente, pela convivência com o pessoal da base comunista da Panair, que era muito forte. Eles viviam querendo cooptá-la, e ela nunca quis saber de militância. Até por medo, porque tinha duas filhas pequenas.
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| As lideranças do golpe militar de 1o de abril tinham uma posição ambígua, provavelmente em função das diversas correntes internas. Liderados pela intelectualidade da Escola Superior de Guerra, uns defendiam a implantação de uma ditadura imediata, e outros que era só para botar ordem no país. Era o que contava o pai de um namorado meu.
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| '''E como foi aquele ano de 64?'''
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| Em dezembro de 64, começaram os bailes de Reveillon que o Albino e o Jaguar promoviam. A grande maioria que ia era da turma de esquerda. Então, o mesmo pessoal que frequentava o bar Jangadeiros há muitos anos resolveu fazer a Banda de Ipanema. Acho que vale aqui contar o início da banda porque foi um marco importante na história do Rio de Janeiro, que mostra o perfil do carioca de combater situações adversas com bom humor. É uma tônica, que eu não sei se tem algum repeteco no mundo, mas o carioca é bem assim. A banda sai pela primeira vez no Carnaval de 65. Então foi combinado que os próprios participantes tocariam o que bem entendessem, e teria uma base de fundo, de uma bateria mínima. A ideia era fazer Carnaval na rua. Não tinha uma perspectiva imediata de denunciar ditadura. E combinou-se que todo mundo iria de tamanco.
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| '''Por algum motivo?'''
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| Para fazer barulho no chão: tlec-tlec-tlec. Bom. O que é que aconteceu? Cada um se vestiu lá da sua maneira, como bem entendia e tal... Era uma música dodecafônica muito louca, porque um gritava daqui, o pistão gritava de lá e... era uma loucura. A gente ia cantando. Daí, em 1966 o Hugo Bidê resolveu se vestir de marechal, e apareceu com um cavalo em frente ao bar Jangadeiros, e com uma espada; e ele levantava a espada assim... E saiu ele na banda. A banda foi um sucesso. Eu dava uma parada ali no Bip-Bip, tomava uma caipirinha muito boa. No ano seguinte, a polícia exigiu que a banda assinasse um documento com uma série de compromissos e, entre eles, não poderia ter meninas de biquíni... A gente não ia de biquíni, porque não andávamos de biquíni no meio da rua. E não se poderia fazer nenhuma alusão às Forças Armadas, em hipótese alguma. Esse documento foi entregue para a minha mãe, que também saía na banda, porque ela já era uma senhora e ficava lúcida [risos]. Ela guardou esse documento. O documento é um primor de coisas da ditadura; realmente, é incrível.
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| '''Eu lembro que a banda tinha um lema engraçado...'''
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| O lema é, ainda hoje, “Yolhesman Crisbelis”. E o Albino por sua vez, sempre arranjava uma esticada, depois da banda, e fazia um baile de Carnaval. Ou era na gafieira Elite, ou era em outro lugar... Um belo dia ele virou assessor do Ricardo Cravo Albin, que era o secretário de Turismo, e tinha colocado um navio ali no Aterro, que ainda estava todo de terra. Como não apareceram pessoas, nós fomos para lá. A entrada era gratuita, só pagamos o consumo... Uma maravilha, a gente fez a maior farra. Até que uma vez resolveram que todo mundo se vestiria de tropicália, já saudando mais a história do Gil e do Caetano. Acredito que tenha sido 67. E sai todo mundo de tropicália, os homens saíam de um laço colorido e a gente de pareô (a canga de hoje), supertropicália. Eram pessoas que não pensavam igual, mas que aderiam a essa forma sutil de protesto contra a ditadura através de uma irreverência carnavalesca. Se não me engano essa foi a primeira vez em que apareceu a Leila Diniz. Depois de 69 eu não fui mais à banda porque não tinha condições. Aí já é a militância, é uma outra história.
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| '''Mas a banda continuou?'''
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| Continuou. Daí, quando a mamãe morreu, a minha irmã descobriu esse primeiro alvará da banda. Até hoje é obrigatório o alvará para qualquer evento de rua. E nós entregamos para o Albino Pinheiro, que na época já estava bem doente, e ele disse que entregaria ao Museu da Imagem e do Som. Faz uns 10 anos. Não sei se o Cláudio Pinheiro entregou. Mas é um poderoso documento que mostra o besteirol que era a ditadura, aquelas bobagens que, do ponto de vista histórico, para historiógrafos, é interessante
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| '''Você acompanhou também a criação d’O Pasquim?'''
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| Eu só acompanhei. Porque era o Jaguar, era o Ziraldo, era tudo da mesma turma. O Jaguar era muito amigo nosso; a Olga Savari, que era a mulher dele, poetisa, era muito amiga da minha mãe. E O Pasquim também é um marco importante do jornalismo.
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| '''Então, você pode colocar no currículo: “fundadora da Banda de Ipanema”...'''
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| Há a lista com os nomes dos 28 fundadores da banda feita pelo Jaguar, que não faz e nunca fez até hoje jus às mulheres fundadoras. Eu não fui exatamente uma fundadora, eu fui no embalo. Mas a Olga Savari, Denyr Campos, minha irmã e uma série de outras mulheres deveriam ser consideradas como tal.
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| '''Hoje em dia, quem está na linha de frente?'''
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| Quem, realmente, pegou agora a banda nas mãos, há um tempo já, foi o Cláudio Pinheiro. E ela está incrementando de novo. Porque teve uma época que era predominantemente de travestis.— o que acho interessante também, porque provavelmente, fora os desfiles e prêmios de fantasia, o gay também não tinha muito espaço; e o Albino abriu esse espaço, que eu acho que era importante para a turma. Agora... acho fantástica a duração da banda.
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| '''E a militância política pós-64?'''
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| Desde fins da década de 1950 minha mãe era secretária do deputado Mário Tamborindeguy, do Partido Social Democrático, ligado ao Juscelino e ao Amaral Peixoto. Ela era uma secretária muito especial, porque redigia os discursos dele junto com o Olimpio Guilherme, dublê de diplomata e escritor, que havia servido no Vietnã quando era colônia francesa. Enfim, era assessora, consultora política, ou seja, jogava nas 11. E ele dizia que ela era comunista e aquelas coisas; mas tinha uma confiança total nela. Então terminou por acompanhar muito de perto a política do país desde os tempos de JK e mesmo durante uma parte da ditadura. Política pra valer... Cada história do arco da velha. E o deputado era um chefe complicado. Só ela é que aturava aquele homem [risos]. Então toda aquela encrenca com ditaduras foi-se transformando em aproximação com a esquerda. Mas vejam que situação esdrúxula: a pensão do meu pai não dava nem para o aluguel... E ela acabou se aposentando com uma bela pensão durante o regime militar.
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| '''Nesse período, você continuava na faculdade de arquitetura?'''
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| Eu estava no segundo ano em 64. E aí entrei para o diretório acadêmico e para a base estudantil do Partido Comunista Brasileiro. Era a época em que a formação teórica era feita em grupos de estudos com base na Academia Soviética, coordenados pelo assistente do partido. Era interessante porque tinha uma cartilha de princípios de comportamento ético fora e dentro da cadeia. Em uma ditadura, você, para ser liderança de alguma coisa, tem que mostrar o exemplo, ser bom aluno e tem que estudar. Foi quando comecei a entender algo sobre Marx, Lenin e Engels. O meu rompimento com o PCB se deu muito mais por causa da truculência da luta interna e, principalmente, pela linha do comportamento do jornal A Voz Operária, que citava nominalmente as lideranças dissidentes. Nessa época tive acesso às teses de Mao Tsé-tung e Ho Chi Minh. A partir da revolução cubana, começaram a aparecer teses de foco guerrilheiro no campo de Fidel Castro e Che Guevara. Pedi desligamento do PCB e fui para Corrente Revolucionária, de onde surgiu o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR).
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| '''E como andava o clima na faculdade?'''
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| Durante os quatro anos de faculdade, fui representante de turma; eu era boa aluna, tanto que passei por média do segundo ano em diante. Passado o golpe militar, a primeira greve que teve no Rio de Janeiro foi puxada pelo nosso diretório acadêmico, em 1966. As reivindicações eram tipicamente estudantis. A greve durou 45 dias. A estudantada mobilizada. Antes disso, o Castello Branco foi lá na faculdade, inaugurar uma biblioteca que fica no anexo, no Fundão. E nós ficamos esperando... “O que é que a gente faz na presença do presidente, vamos aprontar uma, vamos não sei o quê.” Resolveram pegar um macaco.
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| '''Um macaco de verdade?'''
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| Para soltar o macaco quando ele saísse. De verdade [risos]. Coisas de jovens. Para muitos de nós, a ditadura não era séria. Então, o que é que aconteceu? O pessoal da medicina conseguiu o macaco em um laboratório e o botou na mala do carro... O garoto da medicina dá uma injeção para sossegar o macaco, para não ficar pulando dentro da mala do carro, mas caprichou na dose, o macaco apagou. O macaco... [imita ronco] dormia a sono solto [risos]. A inauguração rolando solta. O Castello descendo as escadas. Estava para ir embora e ninguém sabia o que fazer. De repente, um rapaz começou: “Uuuu...” [vaia]. Aí começou assim, todo mundo: “U... [timidamente]. uuuuu...” A vaia! Aquele negócio teve uma repercussão violentíssima na imprensa. E foi um auê. Voltando ao que eu estava falando, a Faculdade Nacional de Filosofia, então, entrou em greve também. Tem um episódio durante a greve que vale contar. Uns colegas da minha turma resolveram dar de espiões e gravar uma reunião do diretor com os professores. Daí subiram e ficaram no espaço entre a laje de dois pisos. A gravação estava muito ruim, mas eles nos passaram o que havia sido falado. Fizemos uma assembleia de denúncia e paramos a nossa greve. Conseguimos ganhar um inquérito interno e o início de um dossiê, que não deu em nada.
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| '''E a repressão também...'''
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| Um dia ocupamos a faculdade de medicina e a ideia era resistir ao frio e à fome. E, realmente, foi violento aquele negócio que aconteceu de madrugada. Eu não apanhei porque dei muita sorte... Ou presença de espírito... sei lá... Em vez de ir lá para cima, fiquei debaixo de uma escada, com dois rapazes; um era irmão de uma amiga minha. E eles subiram, bateram em todo mundo; foi um massacre, um negócio brabo. A minha mãe tinha ido junto com a minha irmã, me entregar um agasalho. E acabaram ficando lá fora. Se não fosse ela, que escreveu uma carta aos principais jornalistas que só foi publicada pelo Stanislaw Ponte Preta e pelo Paulo Francis, ninguém saberia o que aconteceu. É o único depoimento existente daquele vandalismo militar. Inquéritos na filô, inquérito na arquitetura, direito (Caco). Uma coisa complicada. A opção era ir para a rua. E assim começaram as passeatas. Passeata tinha lá seu lado divertido. Era um programa provocar a PM. Palavrão a gente não dizia, não podia. Hoje, eu digo à beça, mas não podia. E saíamos correndo, não é, e tal, até que pegavam um de jeito, eles sentavam o cacete. Podem desenvolver a teoria que quiserem; na prática, muitos concluíram que ficar dentro pegava inquérito, a polícia prendia; vamos para a rua. Eu fui para a rua por causa disso... Mas o PCB era sistematicamente contra as passeatas.
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| '''O PCB não queria muita agitação, movimento de rua?'''
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| Eles tentavam segurar as manifestações, mas a indignação era mais forte. A polícia começou a usar armas, pela primeira vez, em uma manifestação no Centro em 68. Naquela noite, duas pessoas morreram. O episódio do estudante Edson Luiz morto no Calabouço. Tudo indicava para um endurecimento que vai dar origem à passeata da missa do rapaz e à passeata dos Cem Mil... E então eu fui fazer pós-graduação por motivos profissionais e de militância.
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| '''Em termos profissionais, o que fazia a cabeça de vocês naqueles anos? A arquitetura modernista?'''
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| A escola modernista era predominante, mas a minha ideia fixa era a favela. De uma maneira geral, à exceção de projetos no governo de Carlos Lacerda em torno da urbanização da favela que não deram maiores resultados, a linha predominante nos órgãos públicos era a de promover uma política de remoção de favelas, política essa que era combatida por caras sérios do IAB como Alfredo Brito e outros, ou seja, por gente de esquerda. Nesse contexto, fui atuar na favela como arquiteta e quadro estudantil do PCBR junto ao projeto de urbanização da favela de Brás de Pina,1 que era muito interessante. A proposta era a de construir a infraestrutura urbana e promover a distribuição de material de construção, com apoio técnico, para transformar os barracos de madeira em alvenaria. Mas então, a base política do partido na favela começou a reclamar porque eu chamava a atenção, porque era muito lourinha, e de minissaia... Não estava dando, eu não podia ficar. Então eu digo: “Nesse caso também saio do trabalho, porque não tem sentido ficar ralando aqui”. Era difícil ir até Brás de Pina, longe pra caramba, um calor de rachar. Saí.
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| '''Como é que você estabeleceu contatos com um dos mentores do projeto, o arquiteto Carlos Nelson Ferreira dos Santos?'''
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| O Carlos Nelson era recém-formado, ligado à Juventude Universitária Católica da Igreja. Então, muitas pessoas do diretório da faculdade, com passagem pela esquerda estudantil, foram fazer o estágio com ele. Ele era uma figura, porque conseguia, desde muito antigamente, falar da questão com naturalidade. Ele era um show à parte. Tinha aquela capacidade de encarar a favela com tranquilidade, e não medo ou preconceito, ou isso ou aquilo. Ele já entendia que a favela é parte do desenvolvimento urbano da cidade.
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| Lá no Leblon, quando teve o boom imobiliário nos anos 50, as construtoras só contratavam trabalhadores nordestinos, que iam morar na Rocinha. O noivo da nossa empregada, que era o capataz da obra, morava no barracão de obras e virou porteiro do edifício depois que ficou pronto. E depois veio o resto da família, que não cabia na casa dele. Isso era muito comum ali. E dali surge a ocupação da encosta da Rocinha. Mas não tem origem negra. A Rocinha e a Maré são representativas de uma mudança grande dentro das favelas, que passam a ter predominância essencialmente nordestina. A praia do Pinto tinha, sim [origem negra]. E era originária, diz-se, de um quilombo que tinha na Gávea, lá por aquela área.
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| '''E depois do projeto? O que você foi fazer?'''
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| Comecei a trabalhar em escritórios de arquitetura na feitura do Plano Diretor de Duque de Caxias e de Betim. Eu já não frequentava as reuniões do Diretório Central de Estudantes, mas recebia informações nas reuniões, porque fazia parte da célula da juventude do PCBR e fazia pós-graduação na faculdade. E então... começaram as discussões sobre o congresso da UNE, já ilegal, e a direção estudantil do Rio disse que não tinha condições de realizar. Nesse meio-tempo, o movimento de São Paulo se responsabilizou pela montagem do congresso em Ibiúna. Ninguém do diretório da arquitetura estava querendo ir. A direção estudantil do partido me deu um “dá ou desce”, disse: “É uma tarefa, você vai”. Lembro que o meu assistente era o René, filho do Apolônio de Carvalho. Ele é uma graça. A gente o chamava de Alain Delon. É bonito, moreno de olhos azuis. Um rapaz de esquerda bonito. Era... uma raridade [risos]. Naquela época, não sei se vocês sabem, a militância feminina não usava calça comprida.
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| '''Era um código?'''
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| Porque calça comprida era porrada da polícia na certa. Então a gente andava de saia. Eu tinha uma saia especial para correr. Usava tênis e saia. É engraçado porque tinha todo um conjunto de códigos... Como tem os códigos, hoje... E a esquerda estudantil era assim. Então, voltando ao assunto, eu acabei indo para Ibiúna. Só que eu tinha ficado muito doente. Eu tinha tido um problema sério, pulmonar, e quase morri. E eu não podia ir, de jeito nenhum. Meu vizinho era o ator Carlos Eduardo Dollabela, que era próximo à esquerda de teatro. Eu falei: “Dolla, faz o seguinte. Se esse congresso cair, você avisa para minha mãe”. E ele: “Tudo bem”. Lá vou eu para o congresso. Uma zona, o congresso; longe pra caramba, eram quilômetros depois de Ibiúna. Pernoitamos numa casa no campo. Tinha que dormir sentado porque não tinha espaço para deitar. Lá, eu conheci os gaúchos da dissidência gaúcha e me encantei com um deles, o João Antônio Heredia. Depois, acabei por viver com ele e fomos juntos para o exílio na Suíça. Bom, quando cheguei finalmente em Ibiúna, vi que não havia a menor estrutura: o anfiteatro era uma barraca e desandou a chover. E chovia, chovia a cântaros e fazia frio e eu preocupada com o meu estado de saúde. Eu tinha que dormir num lugar fechado e não tinha mais como entrar no barracão, e mais uma vez estava todo mundo dormindo sentado porque não tinha espaço para deitar. Tive uma breve encrenca com o José Dirceu, porque ele estava guardando a porta e não queria deixar ninguém entrar. E me disse: “Você não vai entrar”. Eu digo: “Vou entrar”. E entrei na marra. E a Jussara Ribeiro de Oliveira, a baixinha, que estava comigo, entrou. O gaúcho veio na rebarba e dormimos lá, sentados. No dia seguinte, de manhã cedo, eu estou escovando os dentes, vejo aquela tropa descendo, armada... Eu lembrei do Encouraçado Potemkin. 3 E os caras descendo... Eu digo: “Caramba!” Cavalos, tinha de tudo. Pegaram todo mundo. Saímos dali, botaram a gente para andar naquele lamaçal até a cidade de Ibiúna, atolando na lama, aquele negócio. Um desespero. Paramos num posto. Eu peguei uma caneca, estou lá bebendo água, não prestei atenção; um repórter d’O Estado de S. Paulo, do Estadão, me fotografou. Sai a fotografia do jornal, deste tamanho. O meu cunhado Peter Sievers, que morava com a minha irmã em São Paulo, viu o jornal e disse assim para ela: “Olha onde é que está a f da p da sua irmã, aqui na primeira página do jornal”. Minha irmã contou para minha mãe que queria ir para São Paulo. Enfim, foi aquela confusão.
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| '''Vocês ficaram presos em São Paulo?'''
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| Ficamos presos no Tiradentes, em São Paulo, entre os dias 12 e 20 de outubro. Juntaram as mães lá e elas começaram um movimento, aquelas coisas. Muitos fizeram depoimento lá. Eu também tive que ir depor, porque o delgado Vilarinho e seu assistente Mario Prata me reconheceram de agito de rua. E aí botaram a gente num camburão e levaram para a base aérea de Cumbica, onde pegamos um avião da FAB. Só o pessoal do Rio. Todo mundo algemado nos bancos. Aquela maluquice. Fomos sequestrados de São Paulo, porque ninguém avisou nada, ninguém soube... Quer dizer, a minha irmã sabia. Ela ficava grudada lá, na porta da cadeia. Ela viu o camburão sair. E começou a entrar em pânico com essa história e avisou para minha mãe. Abriram lá... E aí nós começamos a gritar. Preâmbulos de endurecimento da ditadura mesmo.
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| '''Abriram a porta do avião?'''
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| É. Porque era avião de hélice e não tinha problema abrir a porta. Ameaçando jogar lá embaixo, na baía de Guanabara. Havia vazado na mídia uma história do Para-Sar...4 Que os presos políticos iam ser jogados no mar. O escândalo foi tão grande que esse projeto do FAB abortou. Assim mesmo tocaram um terror. Um garoto desmaiou lá. Uma confusão. Quando eu cheguei aqui, eles me pegaram para depoimento de novo e me soltaram logo em seguida.
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| '''Onde você ficou presa no Rio?'''
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| No presídio feminino São Judas Tadeu. Hoje é o Comando de Operações Especiais da Polícia Civil. Fiquei mais uns cinco dias lá. Fui para casa e continuei. Encontrei a turma, vamos para lá, vamos para cá... Deixa estar que depois, agora recentemente, é que eu fui saber do meu histórico da ditadura.
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| '''E o que diz o dossiê?'''
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| A história é a seguinte. A Jussara, minha companheira no congresso de Ibiúna, entrou com um pedido na Comissão Especial de Reparação da Secretaria de Justiça do estado e me pediu para ser testemunha dela. Então ela me disse para procurar o meu dossiê e eu falei: “Tá bom, assim eu vou também saber a história”. E realmente, o dossiê é... Kafka. São umas 40 páginas. É brincadeira. Nesse caso, eu estava sendo acusada de ter liderado um assalto à Usina de Furnas, comandando um grupo. Fui reconhecida pela segurança de lá. E não teve nada, porque eu estava em cana; tinha um comprovante que eu estava presa e não podia ser eu de jeito nenhum. Mas a coisa vai mais longe quando eu já estava no Chile. Fui condenada a 12 anos, em 71, pela Justiça Militar, sob a acusação de comandar um grupo que assaltou uma viatura, roubou as armas e amarrou quatro PMs em um poste na praça Avaí, no Cachambi. Eu teria roubado um outro carro e seguido para assaltar a Ligth. O codinome que me deram foi a loura do terror, é mole?
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| '''E depois da prisão?'''
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| Continuei militando no PCBR, e a coisa foi começando a ficar encrencada nos anos 70. Nesse meio-tempo, o gaúcho me apareceu no Rio, veio estudar e morar aqui. Ele era dissidência do PC gaúcho, que depois virou Partido Operário Comunista (POC). Aí, nós fomos morar juntos. Saí do PCBR em 69 e acabamos ficando na Política Operária (Polop)5 depois do racha no POC, onde peguei uma sólida formação marxista-leninista: lia todos os teóricos. É uma formação bem consistente. Por exemplo: comecei a ter acesso às linhas programáticas da Polop, aos princípios trotskistas, através dele e do Isaac Deutscher: A revolução permanente e a trilogia sobre Trotsky — O profeta armado, O profeta desarmado e O profeta banido —, enfim teorias que me deram o fundamento e a clareza sobre os “rachas” da esquerda brasileira e internacional.
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| '''Você estava trabalhando? E a arquitetura?'''
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| Eu fiquei semiclandestina; então eu era perita do juiz Martinho Campos. Eu vivia disso. Tive de parar a pós-graduação de urbanismo. O Proença, secretário da faculdade, me disse para sumir. Eu larguei e fui embora. As manifestações de rua já não acontecem, dando lugar às ações armadas, ao endurecimento e às prisões de militantes. E daí, começou a cair. Eu falei: “Está na hora de sair”. E aí nós resolvemos ir para o Chile.
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| <p style="text-align: center;">'''O livro ainda tem mais 5 capítulos, onde são apresentados momentos de sua vida e suas ações políticas mais prioritárias em cada momento. Para fins metodológicos, apresentaremos aqui apenas os capítulos "Multirão" e "Favela-Bairro" que tem mais relação direta com o tema de favelas. '''</p> <p style="text-align: center;"> </p> | | <p style="text-align: center;">'''O livro ainda tem 6 capítulos, onde são apresentados momentos de sua vida e suas ações políticas mais prioritárias em cada momento. Para fins metodológicos, apresentaremos aqui apenas os capítulos "Multirão" e "Favela-Bairro" que tem mais relação direta com o tema de favelas. '''</p> <p style="text-align: center;"> </p> |
| = Mutirão = | | = Mutirão = |
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| Linha 366: |
Linha 176: |
| De 1984 até 1992 atuamos em umas cento e muitas comunidades, com infraestrutura urbana, creches e participação da equipe de educação ambiental em parte dessas comunidades. Reflorestamos áreas desmatadas com cerca de 200 ha plantados em 30 comunidades. Mas em muitas favelas não dava para concluir. Tem mais tempo de continuidade do Mutirão na gestão do prefeito César Maia. | | De 1984 até 1992 atuamos em umas cento e muitas comunidades, com infraestrutura urbana, creches e participação da equipe de educação ambiental em parte dessas comunidades. Reflorestamos áreas desmatadas com cerca de 200 ha plantados em 30 comunidades. Mas em muitas favelas não dava para concluir. Tem mais tempo de continuidade do Mutirão na gestão do prefeito César Maia. |
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| = Favela-Bairro = | | = Favela-Bairro = |
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| Linha 448: |
Linha 257: |
| <blockquote> | | <blockquote> |
| Consegui um panfleto muito bemfeito. O símbolo era uma inofensiva abelhinha... A minha irmã conseguiu uns depoimentos importantes, que resumiam alguns momentos da minha trajetória. Tem depoimento do poeta Ferreira Gullar, da escritora Ana Maria Machado (amiga de primário e ginásio), do cineasta Paulo César Saraceni. O Ruy Castro escreveu um texto sobre a minha participação na origem da bossa nova. A minha equipe de campanha era a Bianca Povoleri, ex-secretária na gerência, e a família dela, que morava na Zona Oeste; minha irmã, o meu filho, e alguns amigos da SMH que me apoiavam na encolha. Eu tinha uma mesinha em frente ao Barril 1800, em Ipanema, onde se reunia um grupo de apoio de amigos da praia. O panfleto atraía muita gente, mas não dava voto. Aconteciam coisas que me assustavam. Como eu já disse, passei a ser impedida de entrar na maioria das favelas que eu conhecia muito bem. Apesar disso, ainda consegui duas áreas onde tinha lideranças de mulheres com quem eu tinha relações de amizade, como a Guará, do morro do Sossego, e a Sandrinha, que era presidente na favela da Grota. Consegui uma casinha de graça, com um amigo, em frente ao morro do Sereno, no complexo do Caricó. Uma noite, apareceu uma turma pressionando o meu amigo e a família, e lá se foi o comitê da Lu do Favela-Bairro. Militância política é uma coisa, porque os fatos bons ou maus são mais ou menos previsíveis. Mas campanha eleitoral é para profissional. Caramba! Eu não entendia nada! Por outro lado foi uma campanha hilária, com “causos do arco da velha”. Concentrei a campanha no Jacarezinho. Nosso grupo era um bando de mulheres que faziam um “auê” danado, e a Zeza — um homossexual que era uma verdadeira mãe para os três filhos. Ela se vestia de mulher, mas não fazia a barba, e a gente tinha que dar duro nela. Quando marquei uma visita do Cesar Maia lá, ela apareceu toda feliz da vida, toda pimpona de cabelo penteado, unhas feitas... uma figura! Um dia fomos para o forró e demos de cara com ela dançando com um velhinho, de rosto colado... Não teve jeito, a gozação foi geral! Como sempre, eu e a “fiel escudeira” Bianca, fomos num forró lá nos cafundós da Zona Oeste. Lá tive eu que dançar a noite inteira. Avisei para a mulher que nos convidou que não tinha dinheiro. Pois não é que ela veio, no final da festa, me pedir para pagar os músicos? Saímos dali de fininho. Por ironias do destino, ninguém pedia obras ou material de construção... Era bujão de gás, panela, um arsenal de coisas... Tem muito mais situações esdrúxulas que nem me lembro mais. Terminada a eleição, com a vitória do Cesar Maia, lá vêm as lideranças: “Lu e Bianca, está tudo liberado... Nunca quisemos prejudicar vocês e... blá-blá-blá”. E assim foi o nosso tempo de campanha nas favelas... É a partir daí que vamos consolidar o projeto Célula Urbana. | | Consegui um panfleto muito bemfeito. O símbolo era uma inofensiva abelhinha... A minha irmã conseguiu uns depoimentos importantes, que resumiam alguns momentos da minha trajetória. Tem depoimento do poeta Ferreira Gullar, da escritora Ana Maria Machado (amiga de primário e ginásio), do cineasta Paulo César Saraceni. O Ruy Castro escreveu um texto sobre a minha participação na origem da bossa nova. A minha equipe de campanha era a Bianca Povoleri, ex-secretária na gerência, e a família dela, que morava na Zona Oeste; minha irmã, o meu filho, e alguns amigos da SMH que me apoiavam na encolha. Eu tinha uma mesinha em frente ao Barril 1800, em Ipanema, onde se reunia um grupo de apoio de amigos da praia. O panfleto atraía muita gente, mas não dava voto. Aconteciam coisas que me assustavam. Como eu já disse, passei a ser impedida de entrar na maioria das favelas que eu conhecia muito bem. Apesar disso, ainda consegui duas áreas onde tinha lideranças de mulheres com quem eu tinha relações de amizade, como a Guará, do morro do Sossego, e a Sandrinha, que era presidente na favela da Grota. Consegui uma casinha de graça, com um amigo, em frente ao morro do Sereno, no complexo do Caricó. Uma noite, apareceu uma turma pressionando o meu amigo e a família, e lá se foi o comitê da Lu do Favela-Bairro. Militância política é uma coisa, porque os fatos bons ou maus são mais ou menos previsíveis. Mas campanha eleitoral é para profissional. Caramba! Eu não entendia nada! Por outro lado foi uma campanha hilária, com “causos do arco da velha”. Concentrei a campanha no Jacarezinho. Nosso grupo era um bando de mulheres que faziam um “auê” danado, e a Zeza — um homossexual que era uma verdadeira mãe para os três filhos. Ela se vestia de mulher, mas não fazia a barba, e a gente tinha que dar duro nela. Quando marquei uma visita do Cesar Maia lá, ela apareceu toda feliz da vida, toda pimpona de cabelo penteado, unhas feitas... uma figura! Um dia fomos para o forró e demos de cara com ela dançando com um velhinho, de rosto colado... Não teve jeito, a gozação foi geral! Como sempre, eu e a “fiel escudeira” Bianca, fomos num forró lá nos cafundós da Zona Oeste. Lá tive eu que dançar a noite inteira. Avisei para a mulher que nos convidou que não tinha dinheiro. Pois não é que ela veio, no final da festa, me pedir para pagar os músicos? Saímos dali de fininho. Por ironias do destino, ninguém pedia obras ou material de construção... Era bujão de gás, panela, um arsenal de coisas... Tem muito mais situações esdrúxulas que nem me lembro mais. Terminada a eleição, com a vitória do Cesar Maia, lá vêm as lideranças: “Lu e Bianca, está tudo liberado... Nunca quisemos prejudicar vocês e... blá-blá-blá”. E assim foi o nosso tempo de campanha nas favelas... É a partir daí que vamos consolidar o projeto Célula Urbana. |
| </blockquote> <p style="text-align: center;">'''Para saber mais, leia o livro na íntegra! '''</p> | | </blockquote> <p style="text-align: center;">'''Para saber mais, leia o livro na íntegra! '''</p> |
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