Lu Petersen: mudanças entre as edições
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Consegui um panfleto muito bemfeito. O símbolo era uma inofensiva abelhinha... A minha irmã conseguiu uns depoimentos importantes, que resumiam alguns momentos da minha trajetória. Tem depoimento do poeta Ferreira Gullar, da escritora Ana Maria Machado (amiga de primário e ginásio), do cineasta Paulo César Saraceni. O Ruy Castro escreveu um texto sobre a minha participação na origem da bossa nova. A minha equipe de campanha era a Bianca Povoleri, ex-secretária na gerência, e a família dela, que morava na Zona Oeste; minha irmã, o meu filho, e alguns amigos da SMH que me apoiavam na encolha. Eu tinha uma mesinha em frente ao Barril 1800, em Ipanema, onde se reunia um grupo de apoio de amigos da praia. O panfleto atraía muita gente, mas não dava voto. Aconteciam coisas que me assustavam. Como eu já disse, passei a ser impedida de entrar na maioria das favelas que eu conhecia muito bem. Apesar disso, ainda consegui duas áreas onde tinha lideranças de mulheres com quem eu tinha relações de amizade, como a Guará, do morro do Sossego, e a Sandrinha, que era presidente na favela da Grota. Consegui uma casinha de graça, com um amigo, em frente ao morro do Sereno, no complexo do Caricó. Uma noite, apareceu uma turma pressionando o meu amigo e a família, e lá se foi o comitê da Lu do Favela-Bairro. Militância política é uma coisa, porque os fatos bons ou maus são mais ou menos previsíveis. Mas campanha eleitoral é para profissional. Caramba! Eu não entendia nada! Por outro lado foi uma campanha hilária, com “causos do arco da velha”. Concentrei a campanha no Jacarezinho. Nosso grupo era um bando de mulheres que faziam um “auê” danado, e a Zeza — um homossexual que era uma verdadeira mãe para os três filhos. Ela se vestia de mulher, mas não fazia a barba, e a gente tinha que dar duro nela. Quando marquei uma visita do Cesar Maia lá, ela apareceu toda feliz da vida, toda pimpona de cabelo penteado, unhas feitas... uma figura! Um dia fomos para o forró e demos de cara com ela dançando com um velhinho, de rosto colado... Não teve jeito, a gozação foi geral! Como sempre, eu e a “fiel escudeira” Bianca, fomos num forró lá nos cafundós da Zona Oeste. Lá tive eu que dançar a noite inteira. Avisei para a mulher que nos convidou que não tinha dinheiro. Pois não é que ela veio, no final da festa, me pedir para pagar os músicos? Saímos dali de fininho. Por ironias do destino, ninguém pedia obras ou material de construção... Era bujão de gás, panela, um arsenal de coisas... Tem muito mais situações esdrúxulas que nem me lembro mais. Terminada a eleição, com a vitória do Cesar Maia, lá vêm as lideranças: “Lu e Bianca, está tudo liberado... Nunca quisemos prejudicar vocês e... blá-blá-blá”. E assim foi o nosso tempo de campanha nas favelas... É a partir daí que vamos consolidar o projeto Célula Urbana. | Consegui um panfleto muito bemfeito. O símbolo era uma inofensiva abelhinha... A minha irmã conseguiu uns depoimentos importantes, que resumiam alguns momentos da minha trajetória. Tem depoimento do poeta Ferreira Gullar, da escritora Ana Maria Machado (amiga de primário e ginásio), do cineasta Paulo César Saraceni. O Ruy Castro escreveu um texto sobre a minha participação na origem da bossa nova. A minha equipe de campanha era a Bianca Povoleri, ex-secretária na gerência, e a família dela, que morava na Zona Oeste; minha irmã, o meu filho, e alguns amigos da SMH que me apoiavam na encolha. Eu tinha uma mesinha em frente ao Barril 1800, em Ipanema, onde se reunia um grupo de apoio de amigos da praia. O panfleto atraía muita gente, mas não dava voto. Aconteciam coisas que me assustavam. Como eu já disse, passei a ser impedida de entrar na maioria das favelas que eu conhecia muito bem. Apesar disso, ainda consegui duas áreas onde tinha lideranças de mulheres com quem eu tinha relações de amizade, como a Guará, do morro do Sossego, e a Sandrinha, que era presidente na favela da Grota. Consegui uma casinha de graça, com um amigo, em frente ao morro do Sereno, no complexo do Caricó. Uma noite, apareceu uma turma pressionando o meu amigo e a família, e lá se foi o comitê da Lu do Favela-Bairro. Militância política é uma coisa, porque os fatos bons ou maus são mais ou menos previsíveis. Mas campanha eleitoral é para profissional. Caramba! Eu não entendia nada! Por outro lado foi uma campanha hilária, com “causos do arco da velha”. Concentrei a campanha no Jacarezinho. Nosso grupo era um bando de mulheres que faziam um “auê” danado, e a Zeza — um homossexual que era uma verdadeira mãe para os três filhos. Ela se vestia de mulher, mas não fazia a barba, e a gente tinha que dar duro nela. Quando marquei uma visita do Cesar Maia lá, ela apareceu toda feliz da vida, toda pimpona de cabelo penteado, unhas feitas... uma figura! Um dia fomos para o forró e demos de cara com ela dançando com um velhinho, de rosto colado... Não teve jeito, a gozação foi geral! Como sempre, eu e a “fiel escudeira” Bianca, fomos num forró lá nos cafundós da Zona Oeste. Lá tive eu que dançar a noite inteira. Avisei para a mulher que nos convidou que não tinha dinheiro. Pois não é que ela veio, no final da festa, me pedir para pagar os músicos? Saímos dali de fininho. Por ironias do destino, ninguém pedia obras ou material de construção... Era bujão de gás, panela, um arsenal de coisas... Tem muito mais situações esdrúxulas que nem me lembro mais. Terminada a eleição, com a vitória do Cesar Maia, lá vêm as lideranças: “Lu e Bianca, está tudo liberado... Nunca quisemos prejudicar vocês e... blá-blá-blá”. E assim foi o nosso tempo de campanha nas favelas... É a partir daí que vamos consolidar o projeto Célula Urbana. | ||
</blockquote> <p style="text-align: center;">'''Para saber mais, leia o livro na íntegra! '''</p> | </blockquote> <p style="text-align: center;">'''Para saber mais, leia o livro na íntegra! '''</p> | ||
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