Gírias: mudanças entre as edições

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<p style="text-align: center;">__FORCETOC__O&nbsp;presente verbete reúne gírias a partir da contribuição de diferentes autores, de diferentes favelas. Colabore contando também as gírias que você usa no seu dia a dia!&nbsp;</p>  
<p style="text-align: center;">__FORCETOC__O&nbsp;presente verbete reúne gírias a partir da contribuição de diferentes autores, de diferentes favelas. Colabore contando também as gírias que você usa no seu dia a dia</p>
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'''Autora:&nbsp;'''Sonia Fleury
'''Autora:&nbsp;'''Sonia Fleury


As gírias são parte do processo de comunicação e se se caracterizam por serem rápidas, ágeis, pouco duradouras e cujo significado, na maioria das vezes, não se corresponde com o sentido literal da palavra. Ou seja, trata-se da atribuição de um novo significado a um significante já existente. Uma palavra, ou signo se compõe de significante e significado. O significante corresponde à imagem acústica e o significado ao conteúdo ou conceito atribuído. Enquanto o significante é formal e estático o significado é dinâmico. As gírias fazem parte desse movimento de inovação da língua falada. Anteriormente vistas com preconceito e associadas a grupos de marginais, as gírias passaram a ser objeto de estudo da sociolinguística, o ramo da linguística que estuda as relações entre a linguagem e a sociedade, a partir do trabalho pioneiro de Labov<ref>LABOV, W. Sociolinguistics patterns. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1963
As gírias são parte do processo de comunicação e se se caracterizam por serem rápidas, ágeis, pouco duradouras e cujo significado, na maioria das vezes, não se corresponde com o sentido literal da palavra. Ou seja, trata-se da atribuição de um novo significado a um significante já existente. Uma palavra, ou signo se compõe de significante e significado. O significante corresponde à imagem acústica e o significado ao conteúdo ou conceito atribuído. Enquanto o significante é formal e estático o significado é dinâmico. As gírias fazem parte desse movimento de inovação da língua falada. Anteriormente vistas com preconceito e associadas a grupos de marginais, as gírias passaram a ser objeto de estudo da sociolinguística, o ramo da linguística que estuda as relações entre a linguagem e a sociedade, a partir do trabalho pioneiro de Labov <ref>LABOV, W. Sociolinguistics patterns. Philadelphia: University of Pennsylvania Press, 1963</ref> &nbsp;sobre as variantes linguísticas. No Brasil, o estudo da língua falada foi bastante desenvolvido pelo linguista Ataliba T. Castilho <ref>https://revistapesquisa.fapesp.br/ataliba-teixeira-de-castilho-o-linguista-libertario/</ref> .
</ref>&nbsp;sobre as variantes linguísticas. No Brasil, o estudo da língua falada foi bastante desenvolvido pelo linguista Ataliba T. Castilho<ref>https://revistapesquisa.fapesp.br/ataliba-teixeira-de-castilho-o-linguista-libertario/</ref>.
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Assim foi possível identificar a dinâmica da língua falada, que varia com os territórios, faixa etária, grupos específicos e gênero etc. Em geral, as gírias têm origem em grupos mais fechados, servindo como parte da construção e afirmação de sua identidade, podendo ou não serem expandidas para outros grupos sociais com o passar do tempo, perdendo assim a sua marca de origem. Antes se atribuía a origem das gírias apenas aos grupo sociais de classes populares, mas, constatou-se que as elites também utilizam gírias e outros símbolos identitários. Por exemplo, os supremacistas brancos aparecem em vídeos tomando leite como marca de sua visão supremacista<ref>https://noticiapreta.com.br/durante-live-bolsonaro-toma-copo-de-leite-simbolo-nazista-de-supremacia-racial/</ref>.
Assim foi possível identificar a dinâmica da língua falada, que varia com os territórios, faixa etária, grupos específicos e gênero etc. Em geral, as gírias têm origem em grupos mais fechados, servindo como parte da construção e afirmação de sua identidade, podendo ou não serem expandidas para outros grupos sociais com o passar do tempo, perdendo assim a sua marca de origem. Antes se atribuía a origem das gírias apenas aos grupo sociais de classes populares, mas, constatou-se que as elites também utilizam gírias e outros símbolos identitários. Por exemplo, os supremacistas brancos aparecem em vídeos tomando leite como marca de sua visão supremacista <ref>https://noticiapreta.com.br/durante-live-bolsonaro-toma-copo-de-leite-simbolo-nazista-de-supremacia-racial/</ref> .
 
As gírias, como forma de comunicação, vão muito além dos signos (significante+significado), pois elas traduzem diferentes valores e conteúdos de acordo com o contexto (ou grupo onde está sendo utilizada), o tom de voz (xingamento ou afetuoso), e a própria expressão corporal. Ou seja, elas fazem parte da riqueza e dinâmica da linguagem falada, que vai muito além da linguagem formal escrita.&nbsp;&nbsp;&nbsp;</div></div>


As gírias, como forma de comunicação, vão muito além dos signos (significante+significado), pois elas traduzem diferentes valores e conteúdos de acordo com o contexto (ou grupo onde está sendo utilizada), o tom de voz (xingamento ou afetuoso), e a própria expressão corporal. Ou seja, elas fazem parte da riqueza e dinâmica da linguagem falada, que vai muito além da linguagem formal escrita.&nbsp;&nbsp;&nbsp;
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= Coió =
= Coió =


'''Autor:&nbsp;'''Rodolfo Viana.
'''Autor:&nbsp;'''Rodolfo Viana.


O termo “coió” – que, simplificadamente, pode ser entendido como sinônimo de homofobia – tem origem na linguagem conhecida como “pajubá”, uma fusão da língua portuguesa&nbsp;provenientes de diversos idiomas africanos. Trata-se de um linguajar informal, negro, ligado a religiões de matriz africana, como o candomblé – que, curiosamente, foi apropriado por parte da comunidade LGBT&nbsp;como um linguajar próprio. Contudo, se o “coió” guarda alguma relação com a cultura oral negra, é possível que a violência que o termo sinaliza também mantenha laços estreitos com a vivência negra.<br/> Diz-se “não vá por aí que você pode tomar coió”, alertando para casos de agressões físicas; ou “corre, viado, que é coió!”, um grito de alarme quando se avista uma agressão física já em curso. Ou apenas se faz algum tipo de observação pejorativa sobre uma vestimenta,&nbsp;por exemplo,&nbsp;“todo mundo me olhava, tomei muito coió”.
O termo “coió” – que, simplificadamente, pode ser entendido como sinônimo de homofobia – tem origem na linguagem conhecida como “pajubá”, uma fusão da língua portuguesa&nbsp;provenientes de diversos idiomas africanos. Trata-se de um linguajar informal, negro, ligado a religiões de matriz africana, como o candomblé – que, curiosamente, foi apropriado por parte da comunidade LGBT&nbsp;como um linguajar próprio. Contudo, se o “coió” guarda alguma relação com a cultura oral negra, é possível que a violência que o termo sinaliza também mantenha laços estreitos com a vivência negra.<br>Diz-se “não vá por aí que você pode tomar coió”, alertando para casos de agressões físicas; ou “corre, viado, que é coió!”, um grito de alarme quando se avista uma agressão física já em curso. Ou apenas se faz algum tipo de observação pejorativa sobre uma vestimenta,&nbsp;por exemplo,&nbsp;“todo mundo me olhava, tomei muito coió”.


= Brabo =
= Brabo =
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Situações do adj. brabo:
Situações do adj. brabo:
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<blockquote>&nbsp;“O corte tá brabo!”
&nbsp;“O corte tá brabo!”


&nbsp;“O moleque é brabo jogando."
&nbsp;“O moleque é brabo jogando."


&nbsp;“Ontem na festa foi brabo.”
&nbsp;“Ontem na festa foi brabo.”</blockquote>
</blockquote>  
 
= Suave =
= Suave =


'''Autoria''': [[Marginal_(coletivo)|Marginal]]
'''Autoria''': [[Marginal_(coletivo)|Marginal]]


SUAVE<br/> Adjetivo.<br/> Significado: Leveza, sossegado, delicado, calmo, pouco intenso.<br/> Aplicação: Suaves prestações.
SUAVE<br>Adjetivo.<br>Significado: Leveza, sossegado, delicado, calmo, pouco intenso.<br>Aplicação: Suaves prestações.


SUAVE<br/> Gíria.<br/> Na favela: Ok, tudo certo, de acordo, combinado, sem estresse.<br/> Aplicação: Suave, pô.
SUAVE<br>Gíria.<br>Na favela: Ok, tudo certo, de acordo, combinado, sem estresse.<br>Aplicação: Suave, pô.


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= Mandado =
= Mandado =
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'''Autoria''':&nbsp;[[Instituto_Entre_o_Céu_e_a_Favela|Instituto Entre o Céu e a Favela]]
'''Autoria''':&nbsp;[[Instituto_Entre_o_Céu_e_a_Favela|Instituto Entre o Céu e a Favela]]


Usado de forma pejorativa, fazendo referência a pessoas com personalidades ou ações negativas ou duvidosas.<br/> Adjetivo usado comumente entre jovens e adultos dentro das comunicações e diálogos internos da favela.
Usado de forma pejorativa, fazendo referência a pessoas com personalidades ou ações negativas ou duvidosas.<br>Adjetivo usado comumente entre jovens e adultos dentro das comunicações e diálogos internos da favela.


Exemplo do uso da palavra:
Exemplo do uso da palavra:
<blockquote>
<blockquote>“...essa mulher chegou falando demais aqui, ela está mandada...”
“...essa mulher chegou falando demais aqui, ela está mandada...”


&nbsp;“...ele veio mandado, só ficou aqui p ouvir a conversar..."
&nbsp;“...ele veio mandado, só ficou aqui p ouvir a conversar..."


&nbsp;“...chegou aqui mandadão falando outra coisa...”
&nbsp;“...chegou aqui mandadão falando outra coisa...”</blockquote>
</blockquote>
 
= <span style="font-size:x-large;">Qual foi?</span> =
= <span style="font-size:x-large;">Qual foi?</span> =


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[[Category:Gírias]] [[Category:Temática - Cultura]] [[Category:Temática - Sociabilidade]]
= <span style="font-size: x-large;" >Arrombado</span>&nbsp;=
 
Autoria: Léu + Coletivo Cine&Rock
 
&nbsp;Arrombado<br>Adjetivo<br>ar·rom·ba·do<br>(particípio de arrombar)<br>1. Que se arrombou.<br>2. Que têm rombos.<br>3. Pessoas que cometeu um erro muito grande, que vacilou entre os amigos,<br>3. [Brasil: Rio de Janeiro, Informal] Que tem muita sorte. Um sortudo ou que tenha<br>conquistado algo ,muito bom.<br>Substantivo masculino<br>5. [Brasil: Rio de Janeiro,Tabuísmo]<br>Homem que, numa relação sexual homossexual, é penetrado no sexo anal.
 
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