Drogas na Cidade de Deus: mudanças entre as edições
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'''Autora: Maria de Lourdes da Silva''' | |||
<span style="line-height:150%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">A história da Cidade de Deus começa com uma ação violenta do Estado: a remoção compulsória de favelas das áreas “nobres” da cidade do Rio de Janeiro. Promovida às custas de invasões de domicílio, despejo dos moradores e incêndios criminosos, a proposta era realocar populações inteiras em conjuntos habitacionais construídos em regiões distantes, de difícil acesso aos locais de emprego e ocupação dessas populações. Assim como as favelas de origem, contudo, esses conjuntos habitacionais também não contavam com infraestrutura de serviços, eram desassistidas de serviços públicos essenciais e contavam com escasso sistema de transporte público. O</font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''leitmotiv''</font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">das remoções de favelas era a valorização dos terrenos ocupados, associado ao esforço de ordenamento do espaço da cidade pelo Estado, sempre precário, seletivo e excludente. Esse modelo de comprometimento do Estado republicano brasileiro com a modernização tem nas reformas Pereira Passos o primeiro grande investimento à modelagem do espaço urbano da cidade do Rio de Janeiro. Orientado às necessidades do capital e interesses das elites, não constava da proposta o fornecimento de serviços essenciais à população, como saneamento básico, água encanada, eletricidade, educação, saúde, trabalho e segurança, exceto esse último item, a força policial foi o único serviço ofertado de modo ostensivo pelo Estado desde o início.</font></font></font></span> | | ||
= '''<span style="line-height:107%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Origens da Cidade de Deus</font></font></font></span>''' = | |||
<span style="line-height:150%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">A história da Cidade de Deus começa com uma ação violenta do Estado: a remoção compulsória de favelas das áreas “nobres” da cidade do Rio de Janeiro. Promovida às custas de invasões de domicílio, despejo dos moradores e incêndios criminosos, a proposta era realocar populações inteiras em conjuntos habitacionais construídos em regiões distantes, de difícil acesso aos locais de emprego e ocupação dessas populações. Assim como as favelas de origem, contudo, esses conjuntos habitacionais também não contavam com infraestrutura de serviços, eram desassistidas de serviços públicos essenciais e contavam com escasso sistema de transporte público. O </font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''leitmotiv ''</font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">das remoções de favelas era a valorização dos terrenos ocupados, associado ao esforço de ordenamento do espaço da cidade pelo Estado, sempre precário, seletivo e excludente. Esse modelo de comprometimento do Estado republicano brasileiro com a modernização tem nas reformas Pereira Passos o primeiro grande investimento à modelagem do espaço urbano da cidade do Rio de Janeiro. Orientado às necessidades do capital e interesses das elites, não constava da proposta o fornecimento de serviços essenciais à população, como saneamento básico, água encanada, eletricidade, educação, saúde, trabalho e segurança, exceto esse último item, a força policial foi o único serviço ofertado de modo ostensivo pelo Estado desde o início.</font></font></font></span> | |||
<span style="line-height:150%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Os demais serviços foram sendo criados aos poucos e à medida em que novos conjuntos habitacionais eram agregados pelo Estado ao projeto inicial. A Cidade de Deus não foi construída de uma única vez e por um único expediente. A distribuição discricionária dos serviços prestados pelo Estado à comunidade permanece como uma estratégia de ação, denunciada, nesse espaço, por sua presença precária e seletiva ao longo das décadas subsequentes, estabelecendo um padrão de asfixia lento e constante das populações que ali vivem, exilando gerações sucessivas do desenvolvimento e do uso pleno de suas potencialidades.</font></font></font></span> | <span style="line-height:150%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Os demais serviços foram sendo criados aos poucos e à medida em que novos conjuntos habitacionais eram agregados pelo Estado ao projeto inicial. A Cidade de Deus não foi construída de uma única vez e por um único expediente. A distribuição discricionária dos serviços prestados pelo Estado à comunidade permanece como uma estratégia de ação, denunciada, nesse espaço, por sua presença precária e seletiva ao longo das décadas subsequentes, estabelecendo um padrão de asfixia lento e constante das populações que ali vivem, exilando gerações sucessivas do desenvolvimento e do uso pleno de suas potencialidades.</font></font></font></span> | ||
<span style="line-height:150%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Aspectos da remoção das favelas originárias que compuseram a Cidade de Deus indicam a fragmentação dessas populações, incluindo separação de núcleos familiares, obrigando-os a reestruturação dos laços societários, especialmente quanto à vizinhança. Em Cidade de Deus acresce o fato de diferentes glebas terem sido construídas em diferentes momentos do percurso de formação da comunidade e tenha sido um dos fatores pelo qual ela tenha estabelecido uma identidade social local mediada por essa vizinhança: Quadra 141, Vacaria, Apês, Quadra 13, Moquiço, Pantanal, etc. Dentre as diversas formas associativas criadas no processo de sociabilidade pelas diferentes populações das favelas removidas àquele conjunto, denominado Cidade de Deus, tais como escolas de samba, associações de moradores, times de futebol, grupos ligados às organizações religiosas em suas diversas matrizes, das afrodescendentes às cristãs, temos aquelas ligadas às ações criminosas como grupos ligados às ações criminosas, como assaltos e roubos e, na sequência, venda de drogas, etc. Desde que diferentes grupos ligados às atividades criminosas passaram a conviver nesses territórios, uma dinâmica de reconhecimento mútuo e de definição e repartição do território se estabeleceu na comunidade. A venda de maconha vai se configurando, ao longo das décadas de 1960-70, como uma atividade rentável e mais segura do que os assaltos e roubos aos estabelecimentos comerciais, por exemplo, entre outras coisas, porque seus praticantes não precisavam se arriscar em outros territórios. Tal disputa está na origem da guerra pelo controle do tráfico de drogas no local.</font></font></font></span> | <span style="line-height:150%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Aspectos da remoção das favelas originárias que compuseram a Cidade de Deus indicam a fragmentação dessas populações, incluindo separação de núcleos familiares, obrigando-os a reestruturação dos laços societários, especialmente quanto à vizinhança. Em Cidade de Deus acresce o fato de diferentes glebas terem sido construídas em diferentes momentos do percurso de formação da comunidade e tenha sido um dos fatores pelo qual ela tenha estabelecido uma identidade social local mediada por essa vizinhança: Quadra 141, Vacaria, Apês, Quadra 13, Moquiço, Pantanal, etc. Dentre as diversas formas associativas criadas no processo de sociabilidade pelas diferentes populações das favelas removidas àquele conjunto, denominado Cidade de Deus, tais como escolas de samba, associações de moradores, times de futebol, grupos ligados às organizações religiosas em suas diversas matrizes, das afrodescendentes às cristãs, temos aquelas ligadas às ações criminosas como grupos ligados às ações criminosas, como assaltos e roubos e, na sequência, venda de drogas, etc. Desde que diferentes grupos ligados às atividades criminosas passaram a conviver nesses territórios, uma dinâmica de reconhecimento mútuo e de definição e repartição do território se estabeleceu na comunidade. A venda de maconha vai se configurando, ao longo das décadas de 1960-70, como uma atividade rentável e mais segura do que os assaltos e roubos aos estabelecimentos comerciais, por exemplo, entre outras coisas, porque seus praticantes não precisavam se arriscar em outros territórios. Tal disputa está na origem da guerra pelo controle do tráfico de drogas no local.</font></font></font></span> | ||
<span style="line-height:150%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Há na base histórica da</font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''Cannabis | = '''<span style="line-height:150%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">A formação das bocas de fumo de maconha</font></font></font></span>''' = | ||
<span style="line-height:150%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Há na base histórica da</font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''Cannabis<ref> Nome científico da maconha, podendo ser das variedades sativa, indica e ruderalis.</ref><sup> </sup>''</font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">no Brasil uma associação dessa droga com os negros e pessoas consideradas de vida errante. Como resultado dos poucos registros até aqui encontrados sobre a</font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''Cannabis''</font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">em época remotas da história do país e das dificuldades para rastreá-los, até recentemente acreditava-se que a</font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''Cannabis''</font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">tinha sido trazida para o Brasil pelos escravos africanos, o que não é exatamente verdade já que muitos marinheiros portugueses envolvidos no comércio entre Portugal, suas colônias e o Oriente a conheciam e faziam uso de suas propriedades recreativas e terapêuticas (FRANÇA, 2015). No início do século XX, quando a proibição legal das drogas foi estabelecida no país, os “homens de ciência” a associaram aos negros, justificando vigilância e interferência nos costumes e na cultura de afrodescendentes brasileiros, como as investidas policiais nos terreiros das religiões de matriz africana no início do século XX (SILVA, 2015).</font></font></font></span> | |||
<span style="line-height:150%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Até a metade do século XX, em que pese a inclusão da maconha na lei de proibição às drogas em 1932, havia um sem número de pequenos cultivadores espalhados pelo país afora, sendo parte dessa produção vendida por comerciantes da planta de norte a sul do país, transitando entre as regiões rurais e os centros urbanos. O plantio da</font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''Cannabis''</font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">, assim como o aproveitamento de suas propriedades terapêuticas, recreativas, ritualísticas, etc., ao que parece, era popular como os alambiques domésticos de cachaça.</font></font></font><font face="Times New Roman, serif">É provável que muito das </font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">tradicionais formas de uso pela população tenham chegado à periferia dos grandes centros.</font></font></font></span> | <span style="line-height:150%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Até a metade do século XX, em que pese a inclusão da maconha na lei de proibição às drogas em 1932, havia um sem número de pequenos cultivadores espalhados pelo país afora, sendo parte dessa produção vendida por comerciantes da planta de norte a sul do país, transitando entre as regiões rurais e os centros urbanos. O plantio da</font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''Cannabis''</font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">, assim como o aproveitamento de suas propriedades terapêuticas, recreativas, ritualísticas, etc., ao que parece, era popular como os alambiques domésticos de cachaça.</font></font></font><font face="Times New Roman, serif">É provável que muito das </font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">tradicionais formas de uso pela população tenham chegado à periferia dos grandes centros.</font></font></font></span> | ||
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<span style="line-height:150%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Ainda carece de mais pesquisas os modos como o fornecimento da maconha à época deixa de ser feito pelos pequenos cultivadores espalhados pelo país e é agregado ao aparato do tráfico internacional. Porém, tais questões nos levam a entender que o tráfico de drogas tem percurso próprio e distinto e que somente em algum momento de seu desenvolvimento as favelas passaram a compor um aspecto dessa trajetória. As vulnerabilidades e potencialidades que fazem da favela um espaço propício à venda dessas substâncias deita raízes especialmente no fato de estarem para além de onde o Estado concentrava suas atenções através de suas instituições de assistência e amparo social e, sobretudo, de controle social, quando a “vista grossa” da polícia, por um lado, e o seu envolvimento na construção do aparato do tráfico de drogas no país, por outro, fazem a atividade tomar as proporções que tem hoje.</font></font></font></span> | <span style="line-height:150%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Ainda carece de mais pesquisas os modos como o fornecimento da maconha à época deixa de ser feito pelos pequenos cultivadores espalhados pelo país e é agregado ao aparato do tráfico internacional. Porém, tais questões nos levam a entender que o tráfico de drogas tem percurso próprio e distinto e que somente em algum momento de seu desenvolvimento as favelas passaram a compor um aspecto dessa trajetória. As vulnerabilidades e potencialidades que fazem da favela um espaço propício à venda dessas substâncias deita raízes especialmente no fato de estarem para além de onde o Estado concentrava suas atenções através de suas instituições de assistência e amparo social e, sobretudo, de controle social, quando a “vista grossa” da polícia, por um lado, e o seu envolvimento na construção do aparato do tráfico de drogas no país, por outro, fazem a atividade tomar as proporções que tem hoje.</font></font></font></span> | ||
= '''<span style="line-height:150%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">As guerras criadas pela “Guerra às Drogas”</font></font></font></span>''' = | |||
<span style="line-height:150%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Nos anos 1960, o crescimento da criminalidade na cidade aliada à máxima quanto a impossibilidade de recuperação de certos “bandidos”, aliado ao regime instalado após o Golpe de 1964, cria a ambiência necessária à origem dos grupos de extermínios, também conhecidos como esquadrões da morte e, mais recentemente, por milícias. O ambiente político repressivo da Ditadura Militar justifica atividades de extermínio do inimigo irrecuperável, seja ele vadio, bandido, assassino, viciado, traficante, subversivo, comunista, maconheiro. Apesar desse vasto leque aparente de alvos, a corrupção entre os poderes é o que permite aos grupos de extermínio tirarem vantagens de contravenções, como a prostituição, o jogo do bicho, e ações criminosas, como assaltos, homicídios e tráfico de drogas e de armas. Assim, o processo de sedimentação do tráfico de drogas nas favelas passa pela ação seletiva de organizações criminosas, que lucram com a cobertura às atividades ilegais e eliminam os adversários quando necessário. Em 1979, a Falange Vermelha nasce no presídio da Ilha Grande, a facção criminosa criada pelos próprios criminosos ligados ao tráfico de drogas. Vê-se que esse modelo de organização não era devedor apenas das trocas entre presos políticos e bandidos comuns, mas o desdobramento dessa forma associativa voltada ao crime e à corrupção alimentada pelo Estado.</font></font></font></span> | <span style="line-height:150%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Nos anos 1960, o crescimento da criminalidade na cidade aliada à máxima quanto a impossibilidade de recuperação de certos “bandidos”, aliado ao regime instalado após o Golpe de 1964, cria a ambiência necessária à origem dos grupos de extermínios, também conhecidos como esquadrões da morte e, mais recentemente, por milícias. O ambiente político repressivo da Ditadura Militar justifica atividades de extermínio do inimigo irrecuperável, seja ele vadio, bandido, assassino, viciado, traficante, subversivo, comunista, maconheiro. Apesar desse vasto leque aparente de alvos, a corrupção entre os poderes é o que permite aos grupos de extermínio tirarem vantagens de contravenções, como a prostituição, o jogo do bicho, e ações criminosas, como assaltos, homicídios e tráfico de drogas e de armas. Assim, o processo de sedimentação do tráfico de drogas nas favelas passa pela ação seletiva de organizações criminosas, que lucram com a cobertura às atividades ilegais e eliminam os adversários quando necessário. Em 1979, a Falange Vermelha nasce no presídio da Ilha Grande, a facção criminosa criada pelos próprios criminosos ligados ao tráfico de drogas. Vê-se que esse modelo de organização não era devedor apenas das trocas entre presos políticos e bandidos comuns, mas o desdobramento dessa forma associativa voltada ao crime e à corrupção alimentada pelo Estado.</font></font></font></span> | ||
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<span style="line-height:150%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Os conflitos se realizam, cada vez mais, com o uso de armamento pesado, o que torna o tráfico de armas tão expressivo quanto o de drogas. A população local vê crescer e assumir importância desmedida as atividades ligadas à venda de drogas, assim como a interferência dos assuntos ligados à economia dessa atividade no cotidiano da comunidade. Confrontos entre polícia-traficantes e traficantes-traficantes criam rotinas de toques de recolher, tiroteios repentinos, profusão de mortes, fragmentação do espaço de circulação na comunidade em função da delimitação territorial estabelecida pelos donos das bocas de fumo, em uma palavra, desestabilizam as rotinas da população local, desde então atravessadas por insegurança, incertezas, medo e terror. A violência que grassava pelo país naqueles anos encontra uma forma precisa de manifestação local, que será tomada pela mídia como especificidade exclusiva da Cidade de Deus, consubstanciada na máxima de comunidade “mais violenta do país”.</font></font></font></span> | <span style="line-height:150%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Os conflitos se realizam, cada vez mais, com o uso de armamento pesado, o que torna o tráfico de armas tão expressivo quanto o de drogas. A população local vê crescer e assumir importância desmedida as atividades ligadas à venda de drogas, assim como a interferência dos assuntos ligados à economia dessa atividade no cotidiano da comunidade. Confrontos entre polícia-traficantes e traficantes-traficantes criam rotinas de toques de recolher, tiroteios repentinos, profusão de mortes, fragmentação do espaço de circulação na comunidade em função da delimitação territorial estabelecida pelos donos das bocas de fumo, em uma palavra, desestabilizam as rotinas da população local, desde então atravessadas por insegurança, incertezas, medo e terror. A violência que grassava pelo país naqueles anos encontra uma forma precisa de manifestação local, que será tomada pela mídia como especificidade exclusiva da Cidade de Deus, consubstanciada na máxima de comunidade “mais violenta do país”.</font></font></font></span> | ||
<span style="line-height:150%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Admitir ser morador da Cidade de Deus poderia significar o fim de uma oportunidade de emprego ou da possibilidade de encontrar aceitação fora da comunidade, | <span style="line-height:150%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Admitir ser morador da Cidade de Deus poderia significar o fim de uma oportunidade de emprego ou da possibilidade de encontrar aceitação fora da comunidade, em função dos dos estigmas e preconceitos em curso na cidade. Para isso, contribui, involuntariamente, a pesquisa realizada ao longo das décadas de 1980 e 1990, conduzidas pela antropóloga Alba Zaluar, que culminaram com a publicação do livro </font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''Cidade de Deus''</font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">, de Paulo Lins, em 1997, e com o filme homônimo em 2002, quando foram trazidos a público aspectos da violência cotidiana dos grupos ligados às atividades do tráfico de drogas. Essas obras deram ensejo às críticas que aludiam a representações metonímicas ao reduzirem as diversas experiências de existência e modos de vida das populações locais às definidas pelo recorte metodológico orientador da pesquisa. De denúncia sobre as condições de vida local dos grupos envolvidos no tráfico de drogas, esses trabalhos foram tomados como expressões totalizante dos modos de existência na comunidade, gerando incompreensões e reações diversas entre os moradores. Esse dilema, no entanto, ocultava outro: ao se atribuir às obras representação fidedigna da população local, por postular a violência como </font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''modus vivendi ''</font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">próprio à totalidade dos moradores da Cidade de Deus, promovia-se o apagamento, por um lado, do quão arraigada era a violência na cultura nacional e não apenas em Cidade de Deus, deixando escapar seus lastros e a responsabilidade do Estado e da sociedade pelo que ali ocorria e, por outro, da riqueza da pluralidade de manifestações e experiências de vida que ali pululavam, juntamente com as diversas formas de organizações político-culturais - configurações essas que estavam para além do recorte da pesquisa do livro.</font></font></font></span> | ||
<span style="line-height:150%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Outras guerras pelo controle do tráfico de drogas | <span style="line-height:150%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Outras guerras pelo controle do tráfico de drogas, travadas em outras comunidades do Rio de Janeiro, horizontalizaram essas realidades. A todas coube e cabe ainda reação aguerrida no intuito de não se deixar cooptar pelo reducionismo das representações da violência, da criminização e do racismo, evidenciando as armadilhas dos usos políticos-ideológicos das representações sociais e das lutas que articulam as construções identitárias dessas populações no conjunto da cidade do Rio de Janeiro. O episódio é paradigmático do jogo de forças que intenta demarcar esses territórios como seara do vale-tudo, justificando as ações violentas das forças policiais, o “abate” dos bandidos, a indiferença - e mesmo anuência (de setores) - da sociedade.</font></font></font></span> | ||
<span style="line-height:150%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">O tráfico permanece em Cidade de Deus e a comunidade continua existindo em sua multiplicidade para além disso. A visão idílica do traficante como provedor das necessidades locais, há muito cedeu lugar ao reconhecimento do tráfico como forma de opressão e como expressão da ausência de interesse do Estado | <span style="line-height:150%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">O tráfico permanece em Cidade de Deus e a comunidade continua existindo em sua multiplicidade e diversidade para além disso. A visão idílica do traficante como provedor das necessidades locais, há muito cedeu lugar ao reconhecimento do tráfico como forma de opressão e como expressão da ausência de interesse do Estado em alterar esse estado de coisas. Em que pese o fato de os donos da boca de fumo serem, em geral, cria local, hoje há poucas ilusões sobre o poder implacável e inclemente desses chefes. O alinhamento às grandes organizações do crime organizado demonstra esse fato, pois, como qualquer escola, as "pratas da casa" têm sido cooptadas a servirem aos interesses corporativo do narcotráfico. A despeito disso, as táticas do tráfico de drogas permanecem imiscuídas às práticas de sociabilidade locais. Pablo das Oliveiras (2019) ao descrever o papel do mutirão da laje e a função social da laje, abre à possibilidade de compreender como a laje é utilizada pelos traficantes como espaço de vigilância, como posto avançado de “olheiros” e “fogueteiros” que avisam da chegada da polícia e da presença de estranho à localidade.</font></font></font></span> | ||
<span style="line-height:150%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">De todo modo, as questões relativas às drogas na Cidade de Deus, como de resto, nas outras regiões do país, não são as drogas ilícitas as únicas a trazerem problemas à população local. As drogas lícitas, quase sempre minimizadas quanto à capacidade de gerar riscos e danos frente às drogas ilícitas, também são geradoras de grandes transtornos à população local. Os altos índices de alcoolismo e de suas comorbidades, o uso excessivo de medicamentos controlados como estratégia da população para suportar o cotidiano implacável e violento.</font></font></font></span> | <span style="line-height:150%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">De todo modo, as questões relativas às drogas na Cidade de Deus, como de resto, nas outras regiões do país, não são as drogas ilícitas as únicas a trazerem problemas à população local. As drogas lícitas, quase sempre minimizadas quanto à capacidade de gerar riscos e danos frente às drogas ilícitas, também são geradoras de grandes transtornos à população local. Os altos índices de alcoolismo e de suas comorbidades, o uso excessivo de medicamentos controlados como estratégia da população para suportar o cotidiano implacável e violento.</font></font></font></span> | ||
= '''<span style="line-height:150%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Considerações Gerais</font></font></font></span>''' = | |||
<span style="line-height:150%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">O recrutamento de jovens pelo tráfico de drogas caminha progressivo e ascendente, atraindo cada vez mais jovens às atividades do tráfico. Contudo, percebe-se, ao longo desse período, que o consumo de drogas tem se afastado da condição simbiótica que mantinha com as ações criminosas e com o tráfico. Cada vez mais, os jovens usuários de drogas da Cidade de Deus separam o consumo de drogas das atividades do tráfico. O consumo é entendido como uma atividade de lazer, geradora de prazer, distração e se situa numa ordem de grandeza semelhante ao consumo de álcool, por exemplo. Não se trata mais de enfrentamento da lei, mas de ignorá-la. Não se trata de ato criminoso, mas de afirmação do direito ao divertimento, à recreação.</font></font></font></span> | <span style="line-height:150%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">O recrutamento de jovens pelo tráfico de drogas caminha progressivo e ascendente, atraindo cada vez mais jovens às atividades do tráfico. Contudo, percebe-se, ao longo desse período, que o consumo de drogas tem se afastado da condição simbiótica que mantinha com as ações criminosas e com o tráfico. Cada vez mais, os jovens usuários de drogas da Cidade de Deus separam o consumo de drogas das atividades do tráfico. O consumo é entendido como uma atividade de lazer, geradora de prazer, distração e se situa numa ordem de grandeza semelhante ao consumo de álcool, por exemplo. Não se trata mais de enfrentamento da lei, mas de ignorá-la. Não se trata de ato criminoso, mas de afirmação do direito ao divertimento, à recreação.</font></font></font></span> | ||
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<span style="line-height:150%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">As drogas têm sido usadas como um eficaz dispositivo de controle social que atinge soberanamente as populações jovens, masculinas, pobres, negras e mestiças. O tráfico da favela é um negócio lucrativo, uma empresa que atende aos ditames da lógica capitalista aliada aos preceitos neoliberais mais radicais, com valorização da competência para o empreendedorismo pessoal bem-sucedido, implicando sagacidade e coragem para os desafios que envolve. Há um estilo de vida demarcado pelas alegorias do sucesso pessoal, do poder, do dinheiro sustentado pela sociedade de consumo, dos riscos assumidos. O escopo dessa engrenagem traduz uma continuidade entre a lógica que ordena o recrutamento de jovens para o tráfico e a que vigora na sociedade de classes com larga vantagem àquele, porque não requisita acúmulo de capital pessoal como escolaridade ou especializações.</font></font></font></span> | <span style="line-height:150%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">As drogas têm sido usadas como um eficaz dispositivo de controle social que atinge soberanamente as populações jovens, masculinas, pobres, negras e mestiças. O tráfico da favela é um negócio lucrativo, uma empresa que atende aos ditames da lógica capitalista aliada aos preceitos neoliberais mais radicais, com valorização da competência para o empreendedorismo pessoal bem-sucedido, implicando sagacidade e coragem para os desafios que envolve. Há um estilo de vida demarcado pelas alegorias do sucesso pessoal, do poder, do dinheiro sustentado pela sociedade de consumo, dos riscos assumidos. O escopo dessa engrenagem traduz uma continuidade entre a lógica que ordena o recrutamento de jovens para o tráfico e a que vigora na sociedade de classes com larga vantagem àquele, porque não requisita acúmulo de capital pessoal como escolaridade ou especializações.</font></font></font></span> | ||
<span style="line-height:150%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Nesse aspecto, a Cidade de Deus tem dado mostra de que a educação formal não tem conseguido representar uma alternativa para os jovens. Segundo dados do Censo Escolar/INEP/MEC, no ano de 2013, houve um aumento de mais de 50% no número de de alunos reprovados no ensino médio em Cidade de Deus, e que o percentual de abandono do ensino médio entre 2013 e 2014 foi acima dos 60% | <span style="line-height:150%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Nesse aspecto, a Cidade de Deus tem dado mostra de que a educação formal não tem conseguido representar uma alternativa para os jovens. Segundo dados do Censo Escolar/INEP/MEC, no ano de 2013, houve um aumento de mais de 50% no número de de alunos reprovados no ensino médio em Cidade de Deus, e que o percentual de abandono do ensino médio entre 2013 e 2014 foi acima dos 60%<ref>Diagnóstico Cidade de Deus. Farmanguinhos/FIOCRUZ, 2017.</ref>. Do mesmo modo, o percentual de mães adolescentes na Cidade de Deus (abaixo dos 20 anos) está 7,7% acima da média da cidade do Rio de Janeiro.</font></font></font></span> | ||
<span style="line-height:150%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">A violência gerada nas guerras pelas drogas promoveu um deslocamento importante no perfil dos compradores que vão às bocas de fumo. Muitos usuários da cidade são abastecidos por intermediários e por uma variedade de drogas que não passam pelas bocas de fumo das comunidades. Essas bocas contam hoje com crescente número de consumidores locais entre estudantes e trabalhadores. Chegamos ao arcabouço perverso e bem urdido da guerra às drogas. É preciso interferir nesse modelo com urgência e encontrar formas de educar sobre as drogas de modo a promover relações saudáveis entre os homens e essas substâncias.</font></font></font></span> | <span style="line-height:150%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">A violência gerada nas guerras pelas drogas promoveu um deslocamento importante no perfil dos compradores que vão às bocas de fumo. Muitos usuários da cidade são abastecidos por intermediários e por uma variedade de drogas que não passam pelas bocas de fumo das comunidades. Essas bocas contam hoje com crescente número de consumidores locais entre estudantes e trabalhadores. Chegamos ao arcabouço perverso e bem urdido da guerra às drogas. É preciso interferir nesse modelo com urgência e encontrar formas de educar sobre as drogas de modo a promover relações saudáveis entre os homens e essas substâncias.</font></font></font></span> | ||
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<span style="line-height: | = '''<span style="line-height:150%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Bibliografia</font></font></font></span>''' = | ||
| <span style="line-height:100%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">DELMANTO, J. </font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''História social do LSD no Brasil: os primeiros usos medicinais e o começo da repressão''</font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">. (Tese de Doutoramento). Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São Paulo. São Paulo, p. 291, 2018.</font></font></font></span> | ||
<span style="line-height:100%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">FIOCRUZ.</font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''Roda de Conversa - diagnóstico Cidade de Deus''</font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">. Farmanguinhos, 2017. Disponível em: [http://www.far.fiocruz.br/wp-content/uploads/2017/09/RodaConversa_DiagnosticoCDD_Jacob.pdf http://www.far.fiocruz.br/wp-content/uploads/2017/09/RodaConversa_DiagnosticoCDD_Jacob.pdf].</font></font></font></span> | <span style="line-height:100%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">FIOCRUZ. </font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''Roda de Conversa - diagnóstico Cidade de Deus''</font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">. Farmanguinhos, 2017. Disponível em: [http://www.far.fiocruz.br/wp-content/uploads/2017/09/RodaConversa_DiagnosticoCDD_Jacob.pdf http://www.far.fiocruz.br/wp-content/uploads/2017/09/RodaConversa_DiagnosticoCDD_Jacob.pdf].</font></font></font></span> | ||
| <span style="line-height:100%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">FRANÇA, JMC. </font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''História da Maconha no Brasil.''</font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">São Paulo: Três Estrelas, 2015.</font></font></font></span> | ||
<span style="line-height:100%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt"> | <span style="line-height:100%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">LINS, P. </font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''Cidade de Deus''</font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.</font></font></font></span> | ||
| <span style="line-height:100%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">MISSE, Michel. </font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''Malandros, marginais e vagabundos & a acumulação social da violência no Rio de Janeiro''</font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">. Tese (doutorado), Iuperj, 1999.</font></font></font></span> | ||
<span style="line-height:100%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt"> | <span style="line-height:100%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">OLIVEIRAS, P. das. </font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''O Mutirão da Laje''</font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">. Dicionário Carioca de Favelas. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2019.</font></font></font></span> | ||
| <span style="line-height:100%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">SILVA, ML. </font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''Drogas – da medicina à repressão policial.''</font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Rio de Janeiro: Outras Letras, 2015.</font></font></font></span> | ||
<span style="line-height:100%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt"> | <span style="line-height:100%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">ZALUAR, A. </font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''A Máquina e a Revolta''</font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">. Rio de Janeiro: Brasiliense, 1984</font></font></font></span><span style="page-break-before:always">. </span> | ||
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