Ecomuseu: mudanças entre as edições
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'''Autor: Dell Delambre.''' | '''Autor: Dell Delambre.''' | ||
= Sustentabilidade Inteira = | |||
<span style="line-height:107%"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">O Ecomuseu no Brasil é um museu da Favela, da Comunidade, do Complexo, de um bairro periférico ou de uma expressão artística, cultural ou política da periferia que também pode ser chamado de Museu Comunitário, Museu de Território e outros nomes que possuem significados semelhantes, a saber, produção coletiva e participativa, a partir do ponto de vista do próprio grupo.</font></font></font></span> | <span style="line-height:107%"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">O Ecomuseu no Brasil é um museu da Favela, da Comunidade, do Complexo, de um bairro periférico ou de uma expressão artística, cultural ou política da periferia que também pode ser chamado de Museu Comunitário, Museu de Território e outros nomes que possuem significados semelhantes, a saber, produção coletiva e participativa, a partir do ponto de vista do próprio grupo.</font></font></font></span> | ||
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<p style="text-align: center;">[[File:Eco1.jpg|thumb|center|600px|Foto Antes: Mutirão de limpeza de uma área histórica de memória no alto do morro Andaraí: A Pedra da Mina - Ecomuseu Amigos do Rio de Joana.]]</p> <p style="text-align: center;"> </p> <p style="text-align: center;">[[File:Eco2.jpg|thumb|center|600px|Foto Depois: Pedra Mina limpa, memória local resgatada.]]</p> | <p style="text-align: center;">[[File:Eco1.jpg|thumb|center|600px|Foto Antes: Mutirão de limpeza de uma área histórica de memória no alto do morro Andaraí: A Pedra da Mina - Ecomuseu Amigos do Rio de Joana.]]</p> <p style="text-align: center;"> </p> <p style="text-align: center;">[[File:Eco2.jpg|thumb|center|600px|Foto Depois: Pedra Mina limpa, memória local resgatada.]]</p> | ||
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= Memória = | |||
<span style="line-height:107%"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Em minha pesquisa, defino que existe uma “Tensão Criativa” ou “Tensão de Sentido” entre a proposta de um Ecomuseu ou Museu Comunitário e um Museu Tradicional. No Ecomuseu, a prioridade é a comunidade, o território, a produção coletiva e o significado que os moradores do local dão para o seu território e o que eles escolhem como suas representações nesse espaço. Por isso, o conceito “Ecomuseu Inteiro” ou “Ecomuseu Tenso” ´foi desenvolvido a partir de minhas pesquisas para marcar a diferença entre os ecomuseus no Brasil e na América Latina dos ecomuseus na Europa e outros continentes nos quais a</font></font></font><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''Tensão''</font></font></font><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">não é a razão de existência do Ecomuseu.</font></font></font></span> | <span style="line-height:107%"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Em minha pesquisa, defino que existe uma “Tensão Criativa” ou “Tensão de Sentido” entre a proposta de um Ecomuseu ou Museu Comunitário e um Museu Tradicional. No Ecomuseu, a prioridade é a comunidade, o território, a produção coletiva e o significado que os moradores do local dão para o seu território e o que eles escolhem como suas representações nesse espaço. Por isso, o conceito “Ecomuseu Inteiro” ou “Ecomuseu Tenso” ´foi desenvolvido a partir de minhas pesquisas para marcar a diferença entre os ecomuseus no Brasil e na América Latina dos ecomuseus na Europa e outros continentes nos quais a</font></font></font><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''Tensão''</font></font></font><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">não é a razão de existência do Ecomuseu.</font></font></font></span> | ||
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= Social = | |||
<span style="line-height:107%"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">O fato Museu tradicional ter outras prioridades não significa dizer que ele também possa ter o foco na comunidade, inclusive já existem museus influenciados por essa abordagem da Nova Museologia. Porém, ainda há uma grande diferença porque o Ecomuseu ou Museu comunitário ou Museu de Território começa a pensar toda sua prática a partir da comunidade e da favela e o Museu Tradicional, na sua maioria, estabelece uma pauta que não precisa, necessariamente, dialogar ou responder a uma demanda do contexto social e cultural onde ele está localizado.[[#sdfootnote1sym|<sup>1</sup>]] O Museu da República, Diretor Mário Chagas, é um apoiador de vários museus comunitários e ecomuseus no Rio de Janeiro e no Brasil.</font></font></font></span> | <span style="line-height:107%"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">O fato Museu tradicional ter outras prioridades não significa dizer que ele também possa ter o foco na comunidade, inclusive já existem museus influenciados por essa abordagem da Nova Museologia. Porém, ainda há uma grande diferença porque o Ecomuseu ou Museu comunitário ou Museu de Território começa a pensar toda sua prática a partir da comunidade e da favela e o Museu Tradicional, na sua maioria, estabelece uma pauta que não precisa, necessariamente, dialogar ou responder a uma demanda do contexto social e cultural onde ele está localizado.[[#sdfootnote1sym|<sup>1</sup>]] O Museu da República, Diretor Mário Chagas, é um apoiador de vários museus comunitários e ecomuseus no Rio de Janeiro e no Brasil.</font></font></font></span> | ||
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[[File:Eco5.jpg|thumb|center|600px|1º Seminário do Ecomuseu Nega Vilma, Sta. Marta, no Museu da República. Parceria com Museu da República.]] | [[File:Eco5.jpg|thumb|center|600px|1º Seminário do Ecomuseu Nega Vilma, Sta. Marta, no Museu da República. Parceria com Museu da República.]] | ||
= Favela = | |||
<span style="line-height:107%"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">No Ecomuseu, o território e a memória dos moradores da favela são trabalhados como instrumentos de resistência, coesão, sentido de vida, festa, educação emancipadora, política, Sustentabilidade Inteira e qualquer outro tema que os participantes entendam ser importantes para eles. A regra é estabelecida pela comunidade, podendo o Ecomuseu ser permanente, provisório, itinerante, apenas nas redes sociais e até fora de qualquer tipo de qualificação. Todas as ações são construídas como expressão da comunidade local na relação com o território e a memória coletiva.</font></font></font></span> | <span style="line-height:107%"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">No Ecomuseu, o território e a memória dos moradores da favela são trabalhados como instrumentos de resistência, coesão, sentido de vida, festa, educação emancipadora, política, Sustentabilidade Inteira e qualquer outro tema que os participantes entendam ser importantes para eles. A regra é estabelecida pela comunidade, podendo o Ecomuseu ser permanente, provisório, itinerante, apenas nas redes sociais e até fora de qualquer tipo de qualificação. Todas as ações são construídas como expressão da comunidade local na relação com o território e a memória coletiva.</font></font></font></span> | ||
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= Morro = | |||
<span style="line-height:107%"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">O Ecomuseu ou o Museu Comunitário é uma experiência permanente de “Tensão Criativa de Sentido” porque revela o lugar dos moradores da favela dentro dos jogos de poder na cidade e na formação histórica da região e do próprio país. Essa é uma das diferenças do Ecomuseu para o museu tradicional. Qualquer inserção externa que retira da comunidade local seu protagonismo participativo no processo do Ecomuseu ou do museu comunitário fere sua “Identidade Tensa”. O Ecomuseu é da favela e para a favela; o Ecomuseu é da comunidade e para a comunidade. Essa é uma característica dos Ecomuseus e Museus Comunitários no Rio de Janeiro e em outros lugares no Brasil que o difere de alguns ecomuseus na Europa e em outros lugares do mundo. O trabalho, por exemplo, realizado pela Rede de Museologia Social do Rio de Janeiro tem buscado estabelecer o diálogo entre as proposta do ecomuseu, dos museus comunitários e os museus de território com os museus tradicionais e com o universo acadêmico. O mesmo trabalho também pode ser observado na vasta produção do Movimento Internacional para uma Nova Museologia.</font></font></font></span> | <span style="line-height:107%"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">O Ecomuseu ou o Museu Comunitário é uma experiência permanente de “Tensão Criativa de Sentido” porque revela o lugar dos moradores da favela dentro dos jogos de poder na cidade e na formação histórica da região e do próprio país. Essa é uma das diferenças do Ecomuseu para o museu tradicional. Qualquer inserção externa que retira da comunidade local seu protagonismo participativo no processo do Ecomuseu ou do museu comunitário fere sua “Identidade Tensa”. O Ecomuseu é da favela e para a favela; o Ecomuseu é da comunidade e para a comunidade. Essa é uma característica dos Ecomuseus e Museus Comunitários no Rio de Janeiro e em outros lugares no Brasil que o difere de alguns ecomuseus na Europa e em outros lugares do mundo. O trabalho, por exemplo, realizado pela Rede de Museologia Social do Rio de Janeiro tem buscado estabelecer o diálogo entre as proposta do ecomuseu, dos museus comunitários e os museus de território com os museus tradicionais e com o universo acadêmico. O mesmo trabalho também pode ser observado na vasta produção do Movimento Internacional para uma Nova Museologia.</font></font></font></span> | ||
= Comunidade = | |||
<span style="line-height:107%"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">O primeiro Ecomuseu tem a data de 1971 na França e se chamava Museu do Homem e da Indústria. Mais tarde, em 1974, seu nome seria mudado para “Ecomuseu Le Creusot- Montceau.” A história do desenvolvimento do conceito de Ecomuseu tem relação direta com a Mesa-Redonda de Santiago do Chile, 1972, ICOM (Conselho Internacional de Museus) e com dois grandes museólogos, Georges Rivière (1897 - 1985) e Hugues de Varine (1935-). Nesse importante evento, discutiu-se o papel do Museu como agente de transformação social, o que foi chamado de Museu Integrado. Alguns anos depois, as discussões também abririam portas para o surgimento do Movimento Internacional para uma Nova Museologia (MINOM), fundado em 1985, em Lisboa, Portugal. Na verdade, a origem do MINOM está no 2º Seminário Internacional da Nova Museologia, resultado do 1º Atelier Internacional de Ecomuseus/Nova Museologia, que aconteceu em 1984, em Quebec, no Canadá.</font></font></font></span> | <span style="line-height:107%"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">O primeiro Ecomuseu tem a data de 1971 na França e se chamava Museu do Homem e da Indústria. Mais tarde, em 1974, seu nome seria mudado para “Ecomuseu Le Creusot- Montceau.” A história do desenvolvimento do conceito de Ecomuseu tem relação direta com a Mesa-Redonda de Santiago do Chile, 1972, ICOM (Conselho Internacional de Museus) e com dois grandes museólogos, Georges Rivière (1897 - 1985) e Hugues de Varine (1935-). Nesse importante evento, discutiu-se o papel do Museu como agente de transformação social, o que foi chamado de Museu Integrado. Alguns anos depois, as discussões também abririam portas para o surgimento do Movimento Internacional para uma Nova Museologia (MINOM), fundado em 1985, em Lisboa, Portugal. Na verdade, a origem do MINOM está no 2º Seminário Internacional da Nova Museologia, resultado do 1º Atelier Internacional de Ecomuseus/Nova Museologia, que aconteceu em 1984, em Quebec, no Canadá.</font></font></font></span> | ||
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<span style="line-height:107%"><font color="#000000"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">A explicação de Odalice Priosti sobre Ecomuseu é importante:</font></font></font></font></span> | <span style="line-height:107%"><font color="#000000"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">A explicação de Odalice Priosti sobre Ecomuseu é importante:</font></font></font></font></span> | ||
<span style="line-height:107%"><font color="#000000"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">segundo nossa experiência em Santa Cruz, é um espaço de relações entre uma comunidade e seu ambiente natural e cultural, onde se desenvolve, através das ações de iniciativa comunitária, um processo gradativamente consciente e pedagógico de patrimonialização, apropriação e responsabilização dessa comunidade com a transmissão, cuidado e transformação do patrimônio comum e, conseqüentemente, com a criação do patrimônio do futuro. A partir dessa prática, a comunidade se conscientiza do seu papel e responsabilidade com o patrimônio, usando-o como um dos recursos para o desenvolvimento local.</font></font></font></font></span> | <span style="line-height:107%"><font color="#000000"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">"segundo nossa experiência em Santa Cruz, é um espaço de relações entre uma comunidade e seu ambiente natural e cultural, onde se desenvolve, através das ações de iniciativa comunitária, um processo gradativamente consciente e pedagógico de patrimonialização, apropriação e responsabilização dessa comunidade com a transmissão, cuidado e transformação do patrimônio comum e, conseqüentemente, com a criação do patrimônio do futuro. A partir dessa prática, a comunidade se conscientiza do seu papel e responsabilidade com o patrimônio, usando-o como um dos recursos para o desenvolvimento local."</font></font></font></font></span> | ||
<span style="line-height:107%"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Cada barraco na favela sempre foi um ecomuseu de histórias, cultura, espiritualidade, resistência, tensão, sofrimento e reorganização da vida bem antes de qualquer explicação acadêmica sobre o significado de Ecomuseu. Por isso, é importante dizer que o uso da memória, da cultura e dos símbolos da favela, como forma de sobrevivência, provoca uma </font></font></font><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''Tensão ''</font></font></font><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">com os modelos de preservação da memória nos museus tradicionais e nas outras áreas na cidade e até mesmo no meio acadêmico.</font></font></font></span> | <span style="line-height:107%"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Cada barraco na favela sempre foi um ecomuseu de histórias, cultura, espiritualidade, resistência, tensão, sofrimento e reorganização da vida bem antes de qualquer explicação acadêmica sobre o significado de Ecomuseu. Por isso, é importante dizer que o uso da memória, da cultura e dos símbolos da favela, como forma de sobrevivência, provoca uma </font></font></font><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''Tensão ''</font></font></font><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">com os modelos de preservação da memória nos museus tradicionais e nas outras áreas na cidade e até mesmo no meio acadêmico.</font></font></font></span> | ||
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<span style="line-height:107%"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">[[File:Eco8.jpg|thumb|center|600px|Após a limpeza da Pedra da Mina e o trabalho de memória com os moradores, foi criada a exposição de memória que conta a vida de moradores que contribuíram para a cultura e a memória no morro.]]</font></font></font></span> | <span style="line-height:107%"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">[[File:Eco8.jpg|thumb|center|600px|Após a limpeza da Pedra da Mina e o trabalho de memória com os moradores, foi criada a exposição de memória que conta a vida de moradores que contribuíram para a cultura e a memória no morro.]]</font></font></font></span> | ||
<span style="line-height:107%"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Pela viés da</font></font></font><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''tensão''</font></font></font><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">, o Ecomuseu é a própria favela na cidade. Há décadas, existem vários trabalhos de memória na favela que os moradores não conhecem como estando dentro do conceito de Ecomuseu. Porém, eles usam a memória, a cultura do local e o território para formação de identidade e para o desenvolvimento sociocultural e comunitário. São rodas de memória, festas de jongo, pontos de cultura, festas culturais, samba, trabalhos de mídias, grafite, rodas de leitura, sarais, redes na internet, grupos de teatros, rádios comunitárias, festas religiosas e várias outras formas de preservar a memória, formar identidade e promover a participação coletiva.</font></font></font><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''O Ecomuseu é a própria favela em movimento e a céu aberto.''</font></font></font></span> | <span style="line-height:107%"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Pela viés da </font></font></font><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''tensão''</font></font></font><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">, o Ecomuseu é a própria favela na cidade. Há décadas, existem vários trabalhos de memória na favela que os moradores não conhecem como estando dentro do conceito de Ecomuseu. Porém, eles usam a memória, a cultura do local e o território para formação de identidade e para o desenvolvimento sociocultural e comunitário. São rodas de memória, festas de jongo, pontos de cultura, festas culturais, samba, trabalhos de mídias, grafite, rodas de leitura, sarais, redes na internet, grupos de teatros, rádios comunitárias, festas religiosas e várias outras formas de preservar a memória, formar identidade e promover a participação coletiva.</font></font></font><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''O Ecomuseu é a própria favela em movimento e a céu aberto.''</font></font></font></span> | ||
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<span style="line-height:107%"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">[[File:Eco10.jpg|thumb|center|600px|Exposição é inaugurada no morro do Andaraí e foi exposta em escolas e no Museu da República.]]</font></font></font></span> | <span style="line-height:107%"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">[[File:Eco10.jpg|thumb|center|600px|Exposição é inaugurada no morro do Andaraí e foi exposta em escolas e no Museu da República.]]</font></font></font></span> | ||
<span style="line-height:107%"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Com isso, muitas comunidades e favelas começaram a exigir seus direitos e a se unirem para lutar pelas mesmas causas. O exemplo mais recente se deu em torno das remoções. A união de várias comunidades para preservação da memória e ao direito à dignidade fez nascer coletivos de favelas que pressionaram diferentes setores do governo e da sociedade, aumentando a</font></font></font><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''Tensão''</font></font></font><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">entre os interesses do governo e seus parceiros e os direitos dos moradores das favelas e comunidades.</font></font></font><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''O Ecomuseu é a história da favela contada e vivida pelos próprios moradores.''</font></font></font></span> | <span style="line-height:107%"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Com isso, muitas comunidades e favelas começaram a exigir seus direitos e a se unirem para lutar pelas mesmas causas. O exemplo mais recente se deu em torno das remoções. A união de várias comunidades para preservação da memória e ao direito à dignidade fez nascer coletivos de favelas que pressionaram diferentes setores do governo e da sociedade, aumentando a </font></font></font><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''Tensão ''</font></font></font><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">entre os interesses do governo e seus parceiros e os direitos dos moradores das favelas e comunidades.</font></font></font><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''O Ecomuseu é a história da favela contada e vivida pelos próprios moradores.''</font></font></font></span> | ||
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= Santa Marta = | |||
<span style="line-height:107%"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Em uma entrevista com Cláudia Rose do Museu da Maré é possível perceber como o Ecomuseu é um ponto de</font></font></font><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''Tensão ''</font></font></font><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">dentro da cidade, justamente porque o morador pode contar a história da cidade a partir da sua leitura. A</font></font></font><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''tensão''</font></font></font><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">se dá, sobretudo, no poder pela disputa da memória que será contada. Há uma</font></font></font><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''tensão''</font></font></font><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">com a história oficial daqueles que vencem. Assim diz Cláudia Rose:</font></font></font></span> | <span style="line-height:107%"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Em uma entrevista com Cláudia Rose do Museu da Maré é possível perceber como o Ecomuseu é um ponto de</font></font></font><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''Tensão ''</font></font></font><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">dentro da cidade, justamente porque o morador pode contar a história da cidade a partir da sua leitura. A</font></font></font><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''tensão''</font></font></font><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">se dá, sobretudo, no poder pela disputa da memória que será contada. Há uma</font></font></font><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''tensão''</font></font></font><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">com a história oficial daqueles que vencem. Assim diz Cláudia Rose:</font></font></font></span> | ||
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<span style="line-height:107%"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">[[File:Eco15.jpg|thumb|center|600px|Ecomuseu Nega Vilma realiza o evento de 50 anos do Grupo de Capoeira Senzala. Mestre Sorriso, ex morador do Pico do Santa Marta, irmão de Nega Vilma, participou da fundação do grupo.]]</font></font></font></span> | <span style="line-height:107%"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">[[File:Eco15.jpg|thumb|center|600px|Ecomuseu Nega Vilma realiza o evento de 50 anos do Grupo de Capoeira Senzala. Mestre Sorriso, ex morador do Pico do Santa Marta, irmão de Nega Vilma, participou da fundação do grupo.]]</font></font></font></span> | ||
= Andaraí = | |||
<span style="line-height:107%"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">A luta pelo direito à memória presente na prática das favelas cariocas é o ambiente no qual a produção das memórias material, imaterial e territorial dão contornos peculiares à prática de um ecomuseu no Brasil. As mais de 800 de 800 favelas do Estado do Rio de Janeiro têm diferentes tipos de produções de memórias que não são contempladas nos museus tradicionais e nas outras formas de registros da cidade. Os processos nos ecomuseus, pontos de memória ou nos centros de memória informais e não-normativas se fazem de forma diferente, e essa é uma das razões centrais porque os ecomuseus, no contexto do Brasil, guardando raras exceções, gira em torno da prática e difere das lógicas positivistas e cartesianas de acesso à realidade.</font></font></font></span> | <span style="line-height:107%"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">A luta pelo direito à memória presente na prática das favelas cariocas é o ambiente no qual a produção das memórias material, imaterial e territorial dão contornos peculiares à prática de um ecomuseu no Brasil. As mais de 800 de 800 favelas do Estado do Rio de Janeiro têm diferentes tipos de produções de memórias que não são contempladas nos museus tradicionais e nas outras formas de registros da cidade. Os processos nos ecomuseus, pontos de memória ou nos centros de memória informais e não-normativas se fazem de forma diferente, e essa é uma das razões centrais porque os ecomuseus, no contexto do Brasil, guardando raras exceções, gira em torno da prática e difere das lógicas positivistas e cartesianas de acesso à realidade.</font></font></font></span> | ||
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= Hugues de Varine = | |||
<span style="line-height:107%"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Hugues de Varine, que foi o criador do conceito de Ecomuseu, fez um balanço após 30 anos de trabalho, sobretudo como consultor para o desenvolvimento local. Em minha leitura, o conceito de ecomuseu também questiona o modelo de desenvolvimento de uma economia insustentável, na qual o beneficiado maior não é comunidade local onde está a material prima, a mão de obra e a sabedoria. É interessante notar porque o ecomuseu e os museus comunitários também são um ponto de</font></font></font><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''tensão''</font></font></font><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">com o modelo de economia e de desenvolvimento vigentes tanto no Brasil quanto na Europa e Estados Unidos. Embora Hugues de Varine não faça essa reflexão aqui, seu balanço também a ajuda a dialogar com o conceito de desenvolvimento com foco no local presente nos ecomuseus do Rio de Janeiro. Assim, pontua Hugues de Varine:</font></font></font></span> | <span style="line-height:107%"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Hugues de Varine, que foi o criador do conceito de Ecomuseu, fez um balanço após 30 anos de trabalho, sobretudo como consultor para o desenvolvimento local. Em minha leitura, o conceito de ecomuseu também questiona o modelo de desenvolvimento de uma economia insustentável, na qual o beneficiado maior não é comunidade local onde está a material prima, a mão de obra e a sabedoria. É interessante notar porque o ecomuseu e os museus comunitários também são um ponto de</font></font></font><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''tensão''</font></font></font><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">com o modelo de economia e de desenvolvimento vigentes tanto no Brasil quanto na Europa e Estados Unidos. Embora Hugues de Varine não faça essa reflexão aqui, seu balanço também a ajuda a dialogar com o conceito de desenvolvimento com foco no local presente nos ecomuseus do Rio de Janeiro. Assim, pontua Hugues de Varine:</font></font></font></span> | ||
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<span style="line-height:107%"><font color="#000000"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Esta é a razão para que eu me pergunte frequentemente, muito seriamente, se serão mesmo ‘museus’ ou se não é preciso fazer como os</font></font></font></font><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">promotores do Maestrazgo e da Quarta Colônia, e lhes dar outros nomes, para não agravar a confusão.” (Varine, 2012b, p. 183, 184)</font></font></font></span> | <span style="line-height:107%"><font color="#000000"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Esta é a razão para que eu me pergunte frequentemente, muito seriamente, se serão mesmo ‘museus’ ou se não é preciso fazer como os</font></font></font></font><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">promotores do Maestrazgo e da Quarta Colônia, e lhes dar outros nomes, para não agravar a confusão.” (Varine, 2012b, p. 183, 184)</font></font></font></span> | ||
= Museologia do Afeto = | |||
<span style="line-height:100%"><font color="#000000"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Georges Rivière, que também participou da construção do conceito “Ecomuseu” na França criou o conceito de </font></font></font></font><font color="#000000"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''definição evolutiva ''</font></font></font></font><font color="#000000"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">para o Ecomuseu. Ele também enfantiza a dinâmica local, mesmo que isso seja diferente dos Ecomuseus nas comunidades do Rio de Janeiro. O foco no local nos ecomuseus e Museus Comunitários nas comunidades cariocas está em constante</font></font></font></font><font color="#000000"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''tensão''</font></font></font></font><font color="#000000"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">com os modelos de desenvolvimento, urbanização e expansão conduzidos já há muitos anos pelos governos, instituições e empresas interessadas na exploração dessas áreas. Observe a ênfase dada por Georges Rivière:</font></font></font></font></span> | |||
<span style="line-height:107%"><font color="#000000">“<font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">O ecomuseu é o espelho no qual a população local se revê para descobrir sua própria imagem, no qual procura uma explicação do território, ao qual está ligada e das populações que lhe precederam, vistas como circunstâncias no tempo ou em termos de continuidades das gerações. Ele é um espelho no qual a população local mostra aos seus visitantes para que seja melhor entendida e para que a sua indústria, costumes e identidade possam inspirar respeito.” (Riviére, 1985, p. 182)</font></font></font></font></span> | <span style="line-height:107%"><font color="#000000">“<font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">O ecomuseu é o espelho no qual a população local se revê para descobrir sua própria imagem, no qual procura uma explicação do território, ao qual está ligada e das populações que lhe precederam, vistas como circunstâncias no tempo ou em termos de continuidades das gerações. Ele é um espelho no qual a população local mostra aos seus visitantes para que seja melhor entendida e para que a sua indústria, costumes e identidade possam inspirar respeito.” (Riviére, 1985, p. 182)</font></font></font></font></span> | ||
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<span style="line-height:107%"><font color="#000000"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Mesmo com as diferenças, percebo que a</font></font></font></font><font color="#000000"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''tensão''</font></font></font></font><font color="#000000"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">nas definições se dá exatamente porque o Ecomuseu reflete a realidade do local onde está inserido. Esse fato revela uma grande riqueza de possibilidades e práticas que podem ser trocadas para atender necessidades comuns, dentre elas, a necessidade da autossustentabilidade financeira para sustentar projetos locais que não são interessantes para os grupos que disputam o poder da memória e da permanência das comunidades nessas áreas. Enquanto se manter o paradigma de sociedade e de economia como temos hoje, a busca pela viabilidade econômica deveria ter certa prioridade nos Ecomuseus e nos museus comunitários. Nesse ponto, minha interpretação sobre o Ecomuseu se difere de muitos especialistas na área. Seria necessário transitar para outros paradigmas que não fossem ONGs, mas para outra qualificação que despertasse a criatividade para criar serviços e produtos com foco na economia local para manutenção dos espaços, produção de conteúdo e o pagamento de colaboradores que, em muitos casos, são voluntários. Esse é um desafio que percebo a fim de que o Ecomuseu e os Museus Comunitários realmente consigam também se inserirem nos espaços tradicionais de poder na cidade. A</font></font></font></font><font color="#000000"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''Tensão''</font></font></font></font><font color="#000000"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">precisa também ser feita do lado de fora da favela, sobretudo, para provocar a</font></font></font></font><font color="#000000"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''Tensão''</font></font></font></font><font color="#000000"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">nos centros acadêmicos, nas discussões do governo e nos locais na cidade onde grandes decisões são tomadas. O trabalho de Peter Davis mostra alguns fios condutores entre os ecomuseus de várias partes do mundo.</font></font></font></font></span> | = Museologia Social = | ||
<span style="line-height:107%"><font color="#000000"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Mesmo com as diferenças, percebo que a </font></font></font></font><font color="#000000"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''tensão ''</font></font></font></font><font color="#000000"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">nas definições se dá exatamente porque o Ecomuseu reflete a realidade do local onde está inserido. Esse fato revela uma grande riqueza de possibilidades e práticas que podem ser trocadas para atender necessidades comuns, dentre elas, a necessidade da autossustentabilidade financeira para sustentar projetos locais que não são interessantes para os grupos que disputam o poder da memória e da permanência das comunidades nessas áreas. Enquanto se manter o paradigma de sociedade e de economia como temos hoje, a busca pela viabilidade econômica deveria ter certa prioridade nos Ecomuseus e nos museus comunitários. Nesse ponto, minha interpretação sobre o Ecomuseu se difere de muitos especialistas na área. Seria necessário transitar para outros paradigmas que não fossem ONGs, mas para outra qualificação que despertasse a criatividade para criar serviços e produtos com foco na economia local para manutenção dos espaços, produção de conteúdo e o pagamento de colaboradores que, em muitos casos, são voluntários. Esse é um desafio que percebo a fim de que o Ecomuseu e os Museus Comunitários realmente consigam também se inserirem nos espaços tradicionais de poder na cidade. A</font></font></font></font><font color="#000000"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''Tensão ''</font></font></font></font><font color="#000000"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">precisa também ser feita do lado de fora da favela, sobretudo, para provocar a</font></font></font></font><font color="#000000"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''Tensão''</font></font></font></font><font color="#000000"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">nos centros acadêmicos, nas discussões do governo e nos locais na cidade onde grandes decisões são tomadas. O trabalho de Peter Davis mostra alguns fios condutores entre os ecomuseus de várias partes do mundo.</font></font></font></font></span> | |||
<span style="line-height:107%"><font color="#000000">“<font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">A ideologia capturada pela palavra “ecomuseu” tem provado ser um catalisador de ações em uma variedade de situações geográficas e sociológicas. Nos bairros do Rio e na cidade do México, nas favelas de Dakar, nos subúrbios de Montreal e Paris; antigos centros industriais da França e da Suécia, em zonas rurais em declínio na Itália, Espanha e Canadá, em aldeias étnicas afastadas na China; os ecomuseus têm provado ser um conceito flexível que tem trazido de volta orgulho e energia dentro das comunidades. Identidades culturais têm sido reestabelecidas e usadas para promover economias locais. Essas mudanças têm sido alcançadas através da firme convicção de que um museu pode ser o que a comunidade quer que ele seja, um museu sem paredes e barreiras em todos os sentidos.” (Davis, 2011, p. 289)</font></font></font></font></span> | <span style="line-height:107%"><font color="#000000">“<font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">A ideologia capturada pela palavra “ecomuseu” tem provado ser um catalisador de ações em uma variedade de situações geográficas e sociológicas. Nos bairros do Rio e na cidade do México, nas favelas de Dakar, nos subúrbios de Montreal e Paris; antigos centros industriais da França e da Suécia, em zonas rurais em declínio na Itália, Espanha e Canadá, em aldeias étnicas afastadas na China; os ecomuseus têm provado ser um conceito flexível que tem trazido de volta orgulho e energia dentro das comunidades. Identidades culturais têm sido reestabelecidas e usadas para promover economias locais. Essas mudanças têm sido alcançadas através da firme convicção de que um museu pode ser o que a comunidade quer que ele seja, um museu sem paredes e barreiras em todos os sentidos.” (Davis, 2011, p. 289)</font></font></font></font></span> | ||
= MINOM(Movimento Internacional para uma Nova Museologia) = | |||
<span style="line-height: | <span style="line-height:100%"><font color="#000000"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Os ecomuseus no Brasil são representações genuínas, no contexto local, de outro modelo de organização da sociedade com protagonistas locais, participação comunitária, presença de pesquisadores, diálogo com a sociedade, luta pelo direito à memória e todas as qualidades que já citamos. Do ponto de vista da</font></font></font></font><font color="#000000"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''tensão''</font></font></font></font><font color="#000000"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">e do diálogo com o modelo de sociedade focado na disputa e não na cooperação, os ecomuseus e museus comunitários oferecem outras possibilidades de vivência. Tenho defendido que uma das representações atuais da grande</font></font></font></font><font color="#000000"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''Tensão de Mudança''</font></font></font></font><font color="#000000"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">que a sociedade em todo mundo terá que enfrentar. O modelo que explora a matéria prima das comunidades locais, no qual 10% dos mais afortunado ficam com 80 ou 90% do lucro, acaba por comprometer a capacidade da comunidade local de produzir mais e mais produtos; isso porque a comunidade local acaba não se beneficiando da riqueza que ela gerou. A lógica do Ecomuseu provoca uma grande </font></font></font></font><font color="#000000"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''Tensão ''</font></font></font></font><font color="#000000"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">com esse modelo de crescimento de sociedade e não serve apenas para o Brasil, mas para o o mundo todo. É uma crise de paradigma, crise de sociedade.</font></font></font></font>''<font color="#000000"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Os ecomuseus e, por conseguinte, a Ecomuseologia, são o questionamento da lógica de desenvolvimento vigente, onde o lucro com a riqueza da biodiversidade local é destinado para fora, isto é, administrado na lógica do acúmulo individualista que sobrepõe o suprimento das necessidades básicas do contexto local. Com ênfase no território, no desenvolvimento local, na valorização da memória local e da população local, os ecomuseus e museus comunitários serão a presença questionadora e incômoda que busca outra lógica de organização da sociedade dentro das cidades. Eles são a presença visível da</font></font></font></font>''<font color="#000000"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">tensão de sentido</font></font></font></font>''<font color="#000000"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">que marca de forma radical o esgotamento profundo do paradigma de sociedade gestado pela Modernidade nos últimos séculos.</font></font></font></font>''</span> | ||
| <span style="line-height:107%"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Nessa zona de conflitos permanentes, que é o ambiente das favelas no Rio de Janeiro, os ecomuseus e Museus Comunitários são lugares que não negam os problemas e os conflitos, pelo contrário, ele os reelabora como parte do processo de resistência que produz resiliência nas tensões internas e externas. Se partirmos do pressuposto que temos mais de 800 favelas no Rio de Janeiro e que isso configura a grande força de movimento de toda cidade, um dia alguém irá perceber onde realmente está o poder que faz a cidade girar. Nesse dia, quem sabe, junto com os outras instituições que trabalham para o protagonismo da comunidade local, o Ecomuseu possa ser um catalizador para possibilitar que todas as instituições das favelas se unam para preparar e colocar seus representantes nos lugares de poder na cidade onde a </font></font></font><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''Tensão,''</font></font></font><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">ao longo da história, tem beneficiado as organizações que não reconhecem os direitos das favelas e das comunidades.</font></font></font></span> | ||
= Referência Bibliográfica = | |||
<span style="line-height:107%"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Barbuy, Heloisa. (1995). A conformação do Ecomuseus: elementos para compreensão e análise. In. Anais do Museu Paulista. N. Ser. P. 209 a | <span style="line-height:107%"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Barbuy, Heloisa. (1995). A conformação do Ecomuseus: elementos para compreensão e análise. In. Anais do Museu Paulista. N. Ser. P. 209 a 36, Jan/Dez</font></font></font></span> | ||
<span style="line-height:107%"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Chagas, Mário. (2001). Memória e Poder: contribuição para a teoria e a prática nos ecomuseus. In: Movimento Internacional para a Nova Museologia [MINON] & Subcomitê Regional do ICOFOM para a América Latina e o Caribe [ICOFOM LAM].</font></font></font><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''II Encontro Internacional de Ecomuseus / IX ICOFOM LAM''</font></font></font><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">. (1 St. pp. 12-19). Rio de Janeiro: Tacnet Cultural Ltda.</font></font></font></span> | <span style="line-height:107%"><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Chagas, Mário. (2001). Memória e Poder: contribuição para a teoria e a prática nos ecomuseus. In: Movimento Internacional para a Nova Museologia [MINON] & Subcomitê Regional do ICOFOM para a América Latina e o Caribe [ICOFOM LAM].</font></font></font><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''II Encontro Internacional de Ecomuseus / IX ICOFOM LAM''</font></font></font><font face="Arial, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">. (1 St. pp. 12-19). Rio de Janeiro: Tacnet Cultural Ltda.</font></font></font></span> | ||
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<span style="page-break-before:always">[[#sdfootnote1anc|1]]<sup>�</sup> Se fosse falar com linguagem acadêmica, diria que uma das diferenças entre o Ecomuseu/Museu Comunitário e o Museu Tradicional está no ponto de partida, isto é, “no locus museológico”, que definirá a diferença de método que, por sua vez, terá uma diferença nas escolhas dos assuntos e temas, que terá uma diferença nos conteúdos que terão prioridade na vida do Museu. Sendo assim, a vida orgânica ou inorgânica desses museus serão diferentes e, portanto, as conclusões e os resultados práticos para manutenção do ''status quo'' da cidade ou para provocar a mudança e democratizar as oportunidades.</span> | <span style="page-break-before:always">[[#sdfootnote1anc|1]]<sup>�</sup> Se fosse falar com linguagem acadêmica, diria que uma das diferenças entre o Ecomuseu/Museu Comunitário e o Museu Tradicional está no ponto de partida, isto é, “no locus museológico”, que definirá a diferença de método que, por sua vez, terá uma diferença nas escolhas dos assuntos e temas, que terá uma diferença nos conteúdos que terão prioridade na vida do Museu. Sendo assim, a vida orgânica ou inorgânica desses museus serão diferentes e, portanto, as conclusões e os resultados práticos para manutenção do ''status quo'' da cidade ou para provocar a mudança e democratizar as oportunidades.</span> | ||
<p style="margin-bottom: 0.28cm; text-align: center;"> </p> | |||
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