Favelas de Niterói: mudanças entre as edições
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<span style="line-height:150%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Niterói, por sua vez, apesar de não ter sido Araribóia seu primeiro desbravador, escolheu-o como imagem de “pai fundador” e rendeu-lhe diversas homenagens, imortalizando sua figura idealizada em monumentos, prédios públicos, nomes de ruas, entre outros[[#sdfootnote20sym|<sup>20</sup>]]. O mito político deste bravo temiminó pode ser considerado um dos exemplos mais bem-acabados de projeção de uma imagem invertida, romântica, das relações de poder na sociedade brasileira. Para a constituição de nosso ideal de “nação”, tendemos a escolher a cultura do oprimido como traço de identidade nacional[[#sdfootnote21sym|<sup>21</sup>]] e fundamos o mito de uma “democracia racial”[[#sdfootnote22sym|<sup>22</sup>]]. Projeto político historicamente datado[[#sdfootnote23sym|<sup>23</sup>]], o ideal de “nação miscigenada” tendeu a esvaziar as tensões entre grupos dominantes e dominados no Brasil, mascarando o funcionamento de estruturas de poder profundas, implicadas na reprodução social do </font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''status quo''</font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">.</font></font></font></span> | <span style="line-height:150%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">Niterói, por sua vez, apesar de não ter sido Araribóia seu primeiro desbravador, escolheu-o como imagem de “pai fundador” e rendeu-lhe diversas homenagens, imortalizando sua figura idealizada em monumentos, prédios públicos, nomes de ruas, entre outros[[#sdfootnote20sym|<sup>20</sup>]]. O mito político deste bravo temiminó pode ser considerado um dos exemplos mais bem-acabados de projeção de uma imagem invertida, romântica, das relações de poder na sociedade brasileira. Para a constituição de nosso ideal de “nação”, tendemos a escolher a cultura do oprimido como traço de identidade nacional[[#sdfootnote21sym|<sup>21</sup>]] e fundamos o mito de uma “democracia racial”[[#sdfootnote22sym|<sup>22</sup>]]. Projeto político historicamente datado[[#sdfootnote23sym|<sup>23</sup>]], o ideal de “nação miscigenada” tendeu a esvaziar as tensões entre grupos dominantes e dominados no Brasil, mascarando o funcionamento de estruturas de poder profundas, implicadas na reprodução social do </font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''status quo''</font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">.</font></font></font></span> | ||
<span style="line-height:150%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">A principal delas - imortalizada na epopeia de Araribóia - é a estrutura fundiária do país, construída sobre os escombros das comunidades indígenas brasileiras, da absoluta desconsideração de seus direitos sobre a terra, bem como do holocausto da população escrava negra na lavoura monocultora de exportação. Seguindo esse raciocínio, nas linhas que seguem, mostraremos que uma dimensão crucial da reprodução do</font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''status quo''</font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">das relações de poder na cidade de Niterói reside igualmente sobre a distribuição da posse e da propriedade da terra | <span style="line-height:150%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">A principal delas - imortalizada na epopeia de Araribóia - é a estrutura fundiária do país, construída sobre os escombros das comunidades indígenas brasileiras, da absoluta desconsideração de seus direitos sobre a terra, bem como do holocausto da população escrava negra na lavoura monocultora de exportação. Seguindo esse raciocínio, nas linhas que seguem, mostraremos que uma dimensão crucial da reprodução do</font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''status quo''</font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">das relações de poder na cidade de Niterói reside igualmente sobre a [[Posse_e_Propriedade|distribuição da posse e da propriedade]] da terra</font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">[[#sdfootnote24sym|<sup>24</sup>]]. Como a historiografia local nos mostra, os desenvolvimentos relacionados a organização da </font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''urbe niteroiense''</font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">, com as suas respectivas transformações na distribuição e regulação da propriedade, encontram-se intimamente relacionados às origens de sua </font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''pobreza urbana''</font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">e de seus locais de moradia na cidade.</font></font></font></span> | ||
<span style="line-height:150%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">A estrutura fundiária atual de Niterói se originou a partir de um processo simultâneo de segmentação da propriedade e avanço do “espaço público” sobre os domínios da vida privada e dos sujeitos, ocorridas majoritariamente no século XIX[[#sdfootnote25sym|<sup>25</sup>]]. As referências históricas sobre a cidade identificam uma relação direta entre a complexificação da estrutura da sociedade e a crise progressiva do modelo da </font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''plantation''</font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">, fundada sobre a tríade monocultura intensiva, mão de obra escrava e produção voltada para o mercado externo[[#sdfootnote26sym|<sup>26</sup>]]. À medida que esse modelo perde espaço, dissolvem-se também os núcleos de povoamento em torno da “casa grande”[[#sdfootnote27sym|<sup>27</sup>]], liberando mão-de-obra e favorecendo o surgimento de estruturas de propriedades menores. Ainda segundo a historiografia local, esse dado estaria na raiz, tanto da complexificação da estrutura de classes da sociedade</font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''niteroiense''</font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">, quanto de um “acelerado processo de desorganização social” que teria se seguido a esse movimento.</font></font></font></span> | <span style="line-height:150%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">A estrutura fundiária atual de Niterói se originou a partir de um processo simultâneo de segmentação da propriedade e avanço do “espaço público” sobre os domínios da vida privada e dos sujeitos, ocorridas majoritariamente no século XIX[[#sdfootnote25sym|<sup>25</sup>]]. As referências históricas sobre a cidade identificam uma relação direta entre a complexificação da estrutura da sociedade e a crise progressiva do modelo da </font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''plantation''</font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">, fundada sobre a tríade monocultura intensiva, mão de obra escrava e produção voltada para o mercado externo[[#sdfootnote26sym|<sup>26</sup>]]. À medida que esse modelo perde espaço, dissolvem-se também os núcleos de povoamento em torno da “casa grande”[[#sdfootnote27sym|<sup>27</sup>]], liberando mão-de-obra e favorecendo o surgimento de estruturas de propriedades menores. Ainda segundo a historiografia local, esse dado estaria na raiz, tanto da complexificação da estrutura de classes da sociedade</font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''niteroiense''</font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">, quanto de um “acelerado processo de desorganização social” que teria se seguido a esse movimento.</font></font></font></span> | ||
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<span style="line-height:150%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">A violência armada, infelizmente, é uma triste realidade para muitos dos moradores e moradoras das </font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''Favelas de Niterói''</font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">. Não só a violência de grupos armados de narcotraficantes[[#sdfootnote35sym|<sup>35</sup>]], mas perpetrada pelo próprio Estado, por meio de suas polícias. A favela é o lugar em que um Estado descredibilizado pode dar provas de sua força e materialidade, expandindo seus níveis de violência e fazendo do espetáculo de seus poderes a contrapartida de sua dissolução em interesses particularistas situados nas franjas de sua própria existência político-jurídica. As imagens dos tiroteios, dos armamentos, dos veículos blindados, dos mortos da “guerra urbana” não fornecem qualquer alento seja para o medo, seja para a descrença nos poderes constituídos. Pelo contrário. O espetáculo da segurança pública tem por efeito colateral o aumento da sensação de insegurança e dos níveis de corrupção nas corporações policiais. Em termos de direitos, cria ambientes tóxicos de precarização de garantias individuais em nome do “combate ao crime”. Em termos humanos, o custo é simplesmente irreparável, impresso nas paredes das favelas em mensagens de saudade e pedidos de liberdade para uma geração perdida para a “guerra às drogas” brasileira.</font></font></font></span> | <span style="line-height:150%"><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">A violência armada, infelizmente, é uma triste realidade para muitos dos moradores e moradoras das </font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">''Favelas de Niterói''</font></font></font><font face="Times New Roman, serif"><font size="3"><font style="font-size: 12pt">. Não só a violência de grupos armados de narcotraficantes[[#sdfootnote35sym|<sup>35</sup>]], mas perpetrada pelo próprio Estado, por meio de suas polícias. A favela é o lugar em que um Estado descredibilizado pode dar provas de sua força e materialidade, expandindo seus níveis de violência e fazendo do espetáculo de seus poderes a contrapartida de sua dissolução em interesses particularistas situados nas franjas de sua própria existência político-jurídica. As imagens dos tiroteios, dos armamentos, dos veículos blindados, dos mortos da “guerra urbana” não fornecem qualquer alento seja para o medo, seja para a descrença nos poderes constituídos. Pelo contrário. O espetáculo da segurança pública tem por efeito colateral o aumento da sensação de insegurança e dos níveis de corrupção nas corporações policiais. Em termos de direitos, cria ambientes tóxicos de precarização de garantias individuais em nome do “combate ao crime”. Em termos humanos, o custo é simplesmente irreparável, impresso nas paredes das favelas em mensagens de saudade e pedidos de liberdade para uma geração perdida para a “guerra às drogas” brasileira.</font></font></font></span> | ||
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*[https://pt.wikipedia.org/wiki/Morro_do_Bumba Morro do Bumba] | |||
*[https://pt.wikipedia.org/wiki/Morro_do_Cavalão Morro do Cavalão] | |||
*[https://pt.wikipedia.org/wiki/Morro_do_Céu Morro do Céu] | |||
*[https://pt.wikipedia.org/wiki/Morro_do_Estado Morro do Estado] | |||
*[https://pt.wikipedia.org/wiki/Morro_do_Palácio Morro do Palácio] | |||
*[https://pt.wikipedia.org/wiki/Vila_Ipiranga_(Niterói) Vila Ipiranga (Niterói)] | |||
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<span style="line-height:100%"><span style="page-break-before:always">[[#sdfootnote35anc|35]]<sup>�</sup><font face="Times New Roman, serif"><font size="2"><font style="font-size: 10pt">Não se tem notícia, em Niterói - pelo menos até a escritura desse verbete -, sobre a atuação de grupos milicianos.</font></font></font></span></span> | <span style="line-height:100%"><span style="page-break-before:always">[[#sdfootnote35anc|35]]<sup>�</sup><font face="Times New Roman, serif"><font size="2"><font style="font-size: 10pt">Não se tem notícia, em Niterói - pelo menos até a escritura desse verbete -, sobre a atuação de grupos milicianos.</font></font></font></span></span> | ||
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