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<br/> “Se você não enfrentar o Demônio, ele vai viver na sua cola. Deus também. Os dois são iguais meu filho, querem você o tempo todo, e isso cansa a nossa beleza né” disse a mãe.<br/> Arrumou um trampo de babá, chegou na cidade de São Paulo sem ter o que comer e com uma promessa daquele que se dizia seu padrinho, que acabara de ter tido uma criança e precisava de alguém para cuidar, alguém que “fosse da família”. Pensou quando viu os prédios: que gigante. Lembrou de sua mãe, “pega no laço”, e disse para si mesmo que não precisaria de homem nenhum, só de trabalho, que é melhor que homem. Trabalhou muito. Um dia descendo o morro do S viu o sol nascer e tirou uma foto com seu celular. “O sol nasceu de novo”. Percebeu que uma vida comum não é a vida padrão que todos lhe apresentavam em fichas preenchidas. É ano de eleição de novo, choveu o dia inteiro, ontem o metrô deu problema e todos tiveram que descer a pé pelo trilho. Enquanto seguia caminhando pelos trilhos do trem, se equilibrou em um deles e se viu numa disputa mental consigo mesma: “por quanto tempo eu consigo equilibrar? ”. Seguiu andando em perfeito equilíbrio, olhando para dentro de si e para a frente. De que adiantaria falar sobre o custo de produção da força de trabalho e dizer que um estudante que passa a juventude despreocupado e alegre na universidade, tem o direito de ganhar salários dez vezes maiores do que os que são pagos ao filho de um pedreiro que desde os onze anos de idade definha embaixo de chuva e sol numa laje?
<br/> “Se você não enfrentar o Demônio, ele vai viver na sua cola. Deus também. Os dois são iguais meu filho, querem você o tempo todo, e isso cansa a nossa beleza né” disse a mãe.<br/> Arrumou um trampo de babá, chegou na cidade de São Paulo sem ter o que comer e com uma promessa daquele que se dizia seu padrinho, que acabara de ter tido uma criança e precisava de alguém para cuidar, alguém que “fosse da família”. Pensou quando viu os prédios: que gigante. Lembrou de sua mãe, “pega no laço”, e disse para si mesmo que não precisaria de homem nenhum, só de trabalho, que é melhor que homem. Trabalhou muito. Um dia descendo o morro do S viu o sol nascer e tirou uma foto com seu celular. “O sol nasceu de novo”. Percebeu que uma vida comum não é a vida padrão que todos lhe apresentavam em fichas preenchidas. É ano de eleição de novo, choveu o dia inteiro, ontem o metrô deu problema e todos tiveram que descer a pé pelo trilho. Enquanto seguia caminhando pelos trilhos do trem, se equilibrou em um deles e se viu numa disputa mental consigo mesma: “por quanto tempo eu consigo equilibrar? ”. Seguiu andando em perfeito equilíbrio, olhando para dentro de si e para a frente. De que adiantaria falar sobre o custo de produção da força de trabalho e dizer que um estudante que passa a juventude despreocupado e alegre na universidade, tem o direito de ganhar salários dez vezes maiores do que os que são pagos ao filho de um pedreiro que desde os onze anos de idade definha embaixo de chuva e sol numa laje?
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