Memórias do Morro Santa Marta: mudanças entre as edições
Sem resumo de edição |
Sem resumo de edição |
||
| Linha 1: | Linha 1: | ||
<p style="margin-bottom:12.0pt; text-align:justify">'''Autor: Itamar Silva'''</p> | <p style="margin-bottom:12.0pt; text-align:justify">'''Autor: Itamar Silva'''</p> | ||
= Introdução = | == Introdução == | ||
< | <blockquote> | ||
<br/> “''Morar no morro pra mim é felicidade. Eu levo a vida maior tranquilidade. No meu barraco a tristeza não mora porque lá em cima a alegria é toda hora. Não acredita, venha ver de perto o Morro é um verdadeiro paraíso aberto...''” (samba cantado pelo “Compositor” no documentário Duas Semanas no Morro - de Eduardo Coutinho - 1987) | |||
</blockquote> <p style="text-align: right;"> </p> | |||
Para começo de conversa e para que não sigamos a leitura deste texto com dúvidas, reproduzo aqui um trecho do estatuto da Associação de Moradores do Morro de Santa Marta registrado em 1965: | Para começo de conversa e para que não sigamos a leitura deste texto com dúvidas, reproduzo aqui um trecho do estatuto da Associação de Moradores do Morro de Santa Marta registrado em 1965: | ||
<p style="text-align: center;">''Art. 1o – A ASSOCIAÇÃO DOS MORADORES DO MORRO DE SANTA MARTA foi fundada em 24 de outubro de 1965,[...]''</p> <p style="text-align: center;">''Art. 2o – Pode ser reconhecido o seu nome por extenso de Associação dos Moradores do Morro de Santa Marta ou pelas siglas A.M.M.S.M.''</p> | <blockquote><p style="text-align: center;">''Art. 1o – A ASSOCIAÇÃO DOS MORADORES DO MORRO DE SANTA MARTA foi fundada em 24 de outubro de 1965,[...]''</p> <p style="text-align: center;">''Art. 2o – Pode ser reconhecido o seu nome por extenso de Associação dos Moradores do Morro de Santa Marta ou pelas siglas A.M.M.S.M.''</p> </blockquote> | ||
E também ofereço a leitura do Decreto 28674/07 | Decreto no 28674 de 12 de novembro de 2007 do Rio de janeiro: | E também ofereço a leitura do Decreto 28674/07 | Decreto no 28674 de 12 de novembro de 2007 do Rio de janeiro: | ||
<p style="text-align: center;">''O PREFEITO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO, no uso das atribuições legais e, CONSIDERANDO que a confusão a respeito dos nomes surgiu em função do Mirante Dona Marta, ponto turístico no cume do morro;''</p> <p style="text-align: center;">''CONSIDERANDO que o Morro Dona Marta foi assim chamado, em homenagem a Dona Marta Figueira de Mattos, mãe do Vigário Geral Dom Clemente José de Mattos, proprietário no século XVII, da Quinta São Clemente em Botafogo, cujas terras se estendiam até a Lagoa Rodrigo de Freitas. Nelas Dom Clemente abriu um caminho que dava acesso à Capela de São Clemente, por ele erguida, esse caminho deu origem à atual Rua São Clemente; e,''</p> <p style="text-align: center;">''CONSIDERANDO que a favela se chama Santa Marta por causa de uma imagem da Santa homônima situada dentro de uma capela na parte alta da comunidade. Essa imagem foi levada por uma antiga moradora no início do século XX. Com a chegada do Padre Veloso na década de 1930, foi construída essa pequena capela para abrigar a imagem de Santa Marta, consolidando assim o nome do local, DECRETA:''</p> <p style="text-align: center;">''“Art. 1o – Respeitando a tradição e a história, com base nas considerações deste Decreto, a nominação do morro localizado na Rua São Clemente é MORRO DONA MARTA e a comunidade local é FAVELA SANTA MARTA.''</p> <p style="text-align: center;">''Art. 2o – Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação”. ''</p> <p style="text-align: center;">''Rio de Janeiro, 13 de novembro de 2007 - 443o de Fundação da Cidade''</p> <p style="text-align: center;">''CESAR MAIA''</p> <p style="text-align: center;"> </p> | <blockquote><p style="text-align: center;">''O PREFEITO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO, no uso das atribuições legais e, CONSIDERANDO que a confusão a respeito dos nomes surgiu em função do Mirante Dona Marta, ponto turístico no cume do morro;''</p> <p style="text-align: center;">''CONSIDERANDO que o Morro Dona Marta foi assim chamado, em homenagem a Dona Marta Figueira de Mattos, mãe do Vigário Geral Dom Clemente José de Mattos, proprietário no século XVII, da Quinta São Clemente em Botafogo, cujas terras se estendiam até a Lagoa Rodrigo de Freitas. Nelas Dom Clemente abriu um caminho que dava acesso à Capela de São Clemente, por ele erguida, esse caminho deu origem à atual Rua São Clemente; e,''</p> <p style="text-align: center;">''CONSIDERANDO que a favela se chama Santa Marta por causa de uma imagem da Santa homônima situada dentro de uma capela na parte alta da comunidade. Essa imagem foi levada por uma antiga moradora no início do século XX. Com a chegada do Padre Veloso na década de 1930, foi construída essa pequena capela para abrigar a imagem de Santa Marta, consolidando assim o nome do local, DECRETA:''</p> <p style="text-align: center;">''“Art. 1o – Respeitando a tradição e a história, com base nas considerações deste Decreto, a nominação do morro localizado na Rua São Clemente é MORRO DONA MARTA e a comunidade local é FAVELA SANTA MARTA.''</p> <p style="text-align: center;">''Art. 2o – Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação”. ''</p> <p style="text-align: center;">''Rio de Janeiro, 13 de novembro de 2007 - 443o de Fundação da Cidade''</p> <p style="text-align: center;">''CESAR MAIA''</p> </blockquote> <p style="text-align: center;"> </p> | ||
Então, parece-me que não pairam dúvidas sobre como deve ser chamado este local, por todos: de dentro e de fora e, principalmente, pela imprensa que tanto busca se basear em fatos. Lá se vão, no mínimo, quarenta e cinco anos desde que a opção do morador foi oficializada. Continuar chamando de "dona" esconde interesses que não ficam muito claros. | Então, parece-me que não pairam dúvidas sobre como deve ser chamado este local, por todos: de dentro e de fora e, principalmente, pela imprensa que tanto busca se basear em fatos. Lá se vão, no mínimo, quarenta e cinco anos desde que a opção do morador foi oficializada. Continuar chamando de "dona" esconde interesses que não ficam muito claros. | ||
| Linha 38: | Linha 40: | ||
Uma vez situado este que vos fala, deixemos fluir a história: | Uma vez situado este que vos fala, deixemos fluir a história: | ||
== O Santa Marta == | |||
= O Santa Marta = | |||
O que me faz sustentar que o Santa Marta existe desde 1939 é o depoimento de Dona Madalena, que diz que chegou com 19 anos em 1941. | O que me faz sustentar que o Santa Marta existe desde 1939 é o depoimento de Dona Madalena, que diz que chegou com 19 anos em 1941. | ||
| Linha 86: | Linha 86: | ||
Também nesse período era comum, em dias de chuva, encontrar grupos de moradores limpando trechos de vala. Era necessário desobstruir o caminho das águas, do contrário, os barracos desciam junto. A necessidade forçou a realização de muitos mutirões. Hoje, se você convida um jovem ou mesmo um adulto do Santa Marta para limpar uma vala, é bem provável que a resposta seja: “eu não sou gari pra limpar vala”. Mas nem sempre foi assim. Limpar vala era uma necessidade daqueles que moravam em cima de uma ou tinha seus barracos nas margens da rota do lixo. Quando chovia, principalmente temporal forte, era hora de “cair dentro”, enxada, ancinho, garfo, pedaço de pau ou qualquer coisa que ajudasse a empurrar o lixo vala abaixo. Os objetivos eram claros: abrir caminho para a água que vinha com muita velocidade e aproveitar essa força para fazer o lixo chegar até a rua, onde a Comlurb o recolhia. Mas a motivação principal era evitar que a água levasse os barracos juntamente com o lixo. Em dia após uma chuva forte a cena era a mesma: a escadaria entulhada de paus, ferro, restos de madeira, colchões de mola muito velhos, muita lata e uma quantidade grande de lama. Esse lixo chegava até a Rua São Clemente onde os trabalhadores da DLU (Departamento de Limpeza Urbana) passavam dois a três dias limpando. | Também nesse período era comum, em dias de chuva, encontrar grupos de moradores limpando trechos de vala. Era necessário desobstruir o caminho das águas, do contrário, os barracos desciam junto. A necessidade forçou a realização de muitos mutirões. Hoje, se você convida um jovem ou mesmo um adulto do Santa Marta para limpar uma vala, é bem provável que a resposta seja: “eu não sou gari pra limpar vala”. Mas nem sempre foi assim. Limpar vala era uma necessidade daqueles que moravam em cima de uma ou tinha seus barracos nas margens da rota do lixo. Quando chovia, principalmente temporal forte, era hora de “cair dentro”, enxada, ancinho, garfo, pedaço de pau ou qualquer coisa que ajudasse a empurrar o lixo vala abaixo. Os objetivos eram claros: abrir caminho para a água que vinha com muita velocidade e aproveitar essa força para fazer o lixo chegar até a rua, onde a Comlurb o recolhia. Mas a motivação principal era evitar que a água levasse os barracos juntamente com o lixo. Em dia após uma chuva forte a cena era a mesma: a escadaria entulhada de paus, ferro, restos de madeira, colchões de mola muito velhos, muita lata e uma quantidade grande de lama. Esse lixo chegava até a Rua São Clemente onde os trabalhadores da DLU (Departamento de Limpeza Urbana) passavam dois a três dias limpando. | ||
= O samba = | == O samba == | ||
A Furiosa, pelo que contam os antigos, era um bloco “de sujo” que saía nos dias de carnaval e circulava pelo bairro, indo inclusive até Copacabana. No entanto, a Furiosa passou a ser perseguida pela polícia acusada de ser bloco de arrumação (saía para roubar). Tem história de o bloco ter saído e voltado completamente desfeito, porque a polícia havia dado em cima. Pelos relatos, a Furiosa saiu até 1957, talvez. O Bloco do Boi, sob a coordenação do Seu Adauto – que tinha uma birosca quase chegando ao Cantão, até 1976 foi a expressão do carnaval do Santa Marta. Puxado por uma armação que representava o boi e outra que representava uma mulinha, o bloco animava os dias de carnaval. O Seu Waldomiro, ou melhor, simplesmente Miro, brincou dentro daquela armação por vários anos seguidos. Hoje ainda lembra com saudades: “o Bloco do Boi é a nossa alegria... O boi samba, o boi da pesada, o nosso bloco anima a rapaziada ....” (samba de quadra do Império de Botafogo). | A Furiosa, pelo que contam os antigos, era um bloco “de sujo” que saía nos dias de carnaval e circulava pelo bairro, indo inclusive até Copacabana. No entanto, a Furiosa passou a ser perseguida pela polícia acusada de ser bloco de arrumação (saía para roubar). Tem história de o bloco ter saído e voltado completamente desfeito, porque a polícia havia dado em cima. Pelos relatos, a Furiosa saiu até 1957, talvez. O Bloco do Boi, sob a coordenação do Seu Adauto – que tinha uma birosca quase chegando ao Cantão, até 1976 foi a expressão do carnaval do Santa Marta. Puxado por uma armação que representava o boi e outra que representava uma mulinha, o bloco animava os dias de carnaval. O Seu Waldomiro, ou melhor, simplesmente Miro, brincou dentro daquela armação por vários anos seguidos. Hoje ainda lembra com saudades: “o Bloco do Boi é a nossa alegria... O boi samba, o boi da pesada, o nosso bloco anima a rapaziada ....” (samba de quadra do Império de Botafogo). | ||
| Linha 112: | Linha 112: | ||
Em 1992 foi fundada a Escola de Samba Mocidade Unida do Santa Marta, agora com quadra própria, localizada no final da rua Jupira, entrada da favela, que passa a sonhar com a Marques de Sapucaí, local de desfile do grupo especial. Estar entre as grandes é o desejo de muitos e a Mocidade Unida alimenta esse sonho. | Em 1992 foi fundada a Escola de Samba Mocidade Unida do Santa Marta, agora com quadra própria, localizada no final da rua Jupira, entrada da favela, que passa a sonhar com a Marques de Sapucaí, local de desfile do grupo especial. Estar entre as grandes é o desejo de muitos e a Mocidade Unida alimenta esse sonho. | ||
= A televisão = | == A televisão == | ||
Antes de chegar a antena parabólica no Santa Marta, que antecedeu o “gato net”, não se podia ver a fisionomia dos artistas. A imagem era duplicada, nos melhores casos, e triplicada ou quadruplicada na maioria deles. Eram os chamados fantasmas. Havia situações muito intrigantes, as pessoas olhavam para uma tela em preto e branco, cheia de chuvisco, onde na verdade não se via nada. Não sei como era possível achar alguém bonito ou feio com aquelas imagens. Acho mesmo que cada um abstraía-se da dificuldade, ouvia o que estava sendo dito e criava a sua imagem ideal. | Antes de chegar a antena parabólica no Santa Marta, que antecedeu o “gato net”, não se podia ver a fisionomia dos artistas. A imagem era duplicada, nos melhores casos, e triplicada ou quadruplicada na maioria deles. Eram os chamados fantasmas. Havia situações muito intrigantes, as pessoas olhavam para uma tela em preto e branco, cheia de chuvisco, onde na verdade não se via nada. Não sei como era possível achar alguém bonito ou feio com aquelas imagens. Acho mesmo que cada um abstraía-se da dificuldade, ouvia o que estava sendo dito e criava a sua imagem ideal. | ||
| Linha 132: | Linha 132: | ||
Hoje todos no morro têm televisão e alguns têm mais de uma na mesma casa. | Hoje todos no morro têm televisão e alguns têm mais de uma na mesma casa. | ||
= O rádio = | == O rádio == | ||
Minha avó, Dona Quinha, era apaixonada pelo Getúlio e por rádio. Ouvia vários programas enquanto cuidava da casa: “Teatro de Mistério” (incrível, fantástico, extraordinário!), “Teatro Orniex”, “Jerônimo o Herói do Sertão”, “O Anjo”, “Balança mais não cai”. Penso que o “Balança” acontecia à noite e também tinha o patrocínio da Camisaria Progresso. “Histórias do Tio Janjão”, “Vinte Mil Léguas Submarinas” e outros. Bem, também era muito comum sintonizar a rádio relógio: “Galeria Silvestre, a galeria da luz ...” e, então, se informava a hora certa. Impressionante que hoje não faz o menor sentido uma rádio relógio. Mas naquele tempo relógio era artigo de luxo. Usar um relógio de pulso ou na parede não era para qualquer um. Hoje, com qualquer dez reais se compra um no camelô da esquina. | Minha avó, Dona Quinha, era apaixonada pelo Getúlio e por rádio. Ouvia vários programas enquanto cuidava da casa: “Teatro de Mistério” (incrível, fantástico, extraordinário!), “Teatro Orniex”, “Jerônimo o Herói do Sertão”, “O Anjo”, “Balança mais não cai”. Penso que o “Balança” acontecia à noite e também tinha o patrocínio da Camisaria Progresso. “Histórias do Tio Janjão”, “Vinte Mil Léguas Submarinas” e outros. Bem, também era muito comum sintonizar a rádio relógio: “Galeria Silvestre, a galeria da luz ...” e, então, se informava a hora certa. Impressionante que hoje não faz o menor sentido uma rádio relógio. Mas naquele tempo relógio era artigo de luxo. Usar um relógio de pulso ou na parede não era para qualquer um. Hoje, com qualquer dez reais se compra um no camelô da esquina. | ||
= O futebol = | == O futebol == | ||
O futebol, desde o início, cumpre um papel duplo no Santa Marta: por um lado, é espaço de agregação e alternativa de lazer, por outro, serve para reforçar identidades territoriais e manter um clima de tensão, principalmente entre os jovens. Isso fica mais evidente entre o final dos anos 60 e o início dos 80. Podemos dizer que a década de 70 foi o auge das disputas internas marcadas pelo futebol. | O futebol, desde o início, cumpre um papel duplo no Santa Marta: por um lado, é espaço de agregação e alternativa de lazer, por outro, serve para reforçar identidades territoriais e manter um clima de tensão, principalmente entre os jovens. Isso fica mais evidente entre o final dos anos 60 e o início dos 80. Podemos dizer que a década de 70 foi o auge das disputas internas marcadas pelo futebol. | ||
| Linha 160: | Linha 160: | ||
Nos anos 80, esses times vão aos poucos se diluindo e perdem esse per l territorial. Hoje, o futebol organizado tem sua expressão mais permanente no Peladão, uma atividade que começou na praia e hoje se estrutura como um grupo que organiza várias atividades. | Nos anos 80, esses times vão aos poucos se diluindo e perdem esse per l territorial. Hoje, o futebol organizado tem sua expressão mais permanente no Peladão, uma atividade que começou na praia e hoje se estrutura como um grupo que organiza várias atividades. | ||
= A religião = | == A religião == | ||
Não se pode contar e nem mesmo entender a história do Santa Marta, ao menos até a década de 80, sem levar em consideração a atuação e o papel da Igreja Católica nesta localidade e, muito particularmente, a participação dos padres jesuítas e a sua rede de apoio. Nomes como Padre Veloso, Padre Hélio, Padre Agostinho, D. Helder Câmara e Dona Laura estão diretamente ligados às melhorias ocorridas nesta favela até o início dos anos 80. | Não se pode contar e nem mesmo entender a história do Santa Marta, ao menos até a década de 80, sem levar em consideração a atuação e o papel da Igreja Católica nesta localidade e, muito particularmente, a participação dos padres jesuítas e a sua rede de apoio. Nomes como Padre Veloso, Padre Hélio, Padre Agostinho, D. Helder Câmara e Dona Laura estão diretamente ligados às melhorias ocorridas nesta favela até o início dos anos 80. | ||
| Linha 176: | Linha 176: | ||
Bem, hoje não há no Santa Marta um único espaço para os adeptos da umbanda ou do candomblé. No passado existiram vários pais e mães de santo por aqui: | Bem, hoje não há no Santa Marta um único espaço para os adeptos da umbanda ou do candomblé. No passado existiram vários pais e mães de santo por aqui: | ||
*Dona Guiomar; | |||
*Dona Lapide; | |||
*Dona Maria Portuguesa; | |||
*Dona Maria Batuca; | |||
*Dona Rosa; | |||
*Dona Maria Bela; | |||
*Zé Jacinto; | |||
*Olavo; | |||
*Seu Manuel perna torta; | |||
*Seu Zé do Santo; | |||
*Pai Guedes; | |||
*Pai Abrão. | |||
Esses espaços e suas lideranças desapareceram totalmente na década de 90. | Esses espaços e suas lideranças desapareceram totalmente na década de 90. | ||
| Linha 210: | Linha 199: | ||
Cada um desses líderes teve sob sua responsabilidade um determinado número de moradores que os tinham como referência. Essa diversidade religiosa ajudava a enfrentar as dificuldades físicas da favela. Assim era o Santa Marta até a década de 80. | Cada um desses líderes teve sob sua responsabilidade um determinado número de moradores que os tinham como referência. Essa diversidade religiosa ajudava a enfrentar as dificuldades físicas da favela. Assim era o Santa Marta até a década de 80. | ||
= A saúde = | == A saúde == | ||
No período de 81 a 91, desenvolveu-se o projeto de saúde do Morro de Santa Marta - a princípio com atendimento na própria sede da associação de moradores, assim como um trabalho forte de cadastramento dos comunicantes (tuberculose) e, a partir de 83,inaugura-se o [https://wikifavelas.com.br/index.php?title=Ambulatório_Dedé_-_Sua_criação,_sua_gestão_e_o_término_das_atividades ambulatório Dedé], no alto do morro, com uma equipe de cinco médicos, uma enfermeira, uma psicóloga e cinco agentes de saúde da própria comunidade: grupos de mães, gestantes, diabéticos, hipertensos, visitação domiciliar, estímulo à participação nos grupos e controle da doença. | No período de 81 a 91, desenvolveu-se o projeto de saúde do Morro de Santa Marta - a princípio com atendimento na própria sede da associação de moradores, assim como um trabalho forte de cadastramento dos comunicantes (tuberculose) e, a partir de 83,inaugura-se o [https://wikifavelas.com.br/index.php?title=Ambulatório_Dedé_-_Sua_criação,_sua_gestão_e_o_término_das_atividades ambulatório Dedé], no alto do morro, com uma equipe de cinco médicos, uma enfermeira, uma psicóloga e cinco agentes de saúde da própria comunidade: grupos de mães, gestantes, diabéticos, hipertensos, visitação domiciliar, estímulo à participação nos grupos e controle da doença. | ||
| Linha 216: | Linha 205: | ||
Projeto liderado pelo Dr. José Luiz de Magalhães Rios, sobrinho do Padre Veloso, que faz a opção de morar no Morro no período de sua formação como médico. Em seguida, elabora e implanta, juntamente com a diretoria da Associação de Moradores, o projeto de saúde que teve apoio direto da Asia (Antigos Alunos dos Padres Jesuítas). O Ambulatório inaugurado no alto do morro, exatamente para facilitar o atendimento aos moradores do Pico do Morro, chamou-se ambulatório Dedé, em homenagem ao vice-presidente da Associação de Moradores que morrera eletrocutado prestando serviço à comunidade. | Projeto liderado pelo Dr. José Luiz de Magalhães Rios, sobrinho do Padre Veloso, que faz a opção de morar no Morro no período de sua formação como médico. Em seguida, elabora e implanta, juntamente com a diretoria da Associação de Moradores, o projeto de saúde que teve apoio direto da Asia (Antigos Alunos dos Padres Jesuítas). O Ambulatório inaugurado no alto do morro, exatamente para facilitar o atendimento aos moradores do Pico do Morro, chamou-se ambulatório Dedé, em homenagem ao vice-presidente da Associação de Moradores que morrera eletrocutado prestando serviço à comunidade. | ||
= A Folia de Reis = | == A Folia de Reis == | ||
A tradição de [https://wikifavelas.com.br/index.php?title=Folia_de_Reis_-_Os_Penitentes_do_Santa_Marta Folia de Reis] no Morro de Santa Marta é muito antiga, e encontrou aqui as condições para sua sobrevivência. Pessoas que vieram de São Fidelis, Itaperuna, Miracema e Sul de Minas puderam reencontrar suas raízes culturais, agora adaptadas às condições da cidade grande. | A tradição de [https://wikifavelas.com.br/index.php?title=Folia_de_Reis_-_Os_Penitentes_do_Santa_Marta Folia de Reis] no Morro de Santa Marta é muito antiga, e encontrou aqui as condições para sua sobrevivência. Pessoas que vieram de São Fidelis, Itaperuna, Miracema e Sul de Minas puderam reencontrar suas raízes culturais, agora adaptadas às condições da cidade grande. | ||
| Linha 238: | Linha 227: | ||
Esse núcleo familiar decidiu continuar com a missão de organizar a Folia de Reis do Santa Marta. | Esse núcleo familiar decidiu continuar com a missão de organizar a Folia de Reis do Santa Marta. | ||
= Associação de Moradores = | == Associação de Moradores == | ||
Segue abaixo a relação dos presidentes da Associação de Moradores do Santa Marta de 1965 a 2010: | Segue abaixo a relação dos presidentes da Associação de Moradores do Santa Marta de 1965 a 2010: | ||
| Linha 256: | Linha 245: | ||
<span style="font-size:smaller;">*Segundo depoimento do Cabo Ferreira, João Silva fez parte da comissão que elaborou o estatuto da associação. No entanto, há controvérsia quanto ao fato de ter sido ou não presidente por um período.</span> | <span style="font-size:smaller;">*Segundo depoimento do Cabo Ferreira, João Silva fez parte da comissão que elaborou o estatuto da associação. No entanto, há controvérsia quanto ao fato de ter sido ou não presidente por um período.</span> | ||
= Uma breve panorâmica do Santa Marta: uma síntese em décadas = | == Uma breve panorâmica do Santa Marta: uma síntese em décadas == | ||
Entre 1939 e 1950 – Período de formação da favela, todos os problemas e questões, que iriam tensionar a favela mais tarde, já estavam aí indicados: falta de água; precariedade da energia elétrica; ocupação do espaço interno; presença de agentes externos; iniciativa de escola dentro da favela; etc... | Entre 1939 e 1950 – Período de formação da favela, todos os problemas e questões, que iriam tensionar a favela mais tarde, já estavam aí indicados: falta de água; precariedade da energia elétrica; ocupação do espaço interno; presença de agentes externos; iniciativa de escola dentro da favela; etc... | ||
| Linha 270: | Linha 259: | ||
2000 – retomada da articulação comunitária: assembleia para reagir à proposta do Governo do Estado de construir prédios no Santa Marta; novas eleições para a direção da associação de moradores, com a primeira diretoria composta somente por mulheres (chapa rosa); criação da comissão de urbanização; discussão de um projeto de urbanização para o Santa Marta; início das obras; plano inclinado; entrada da UPP e novos projetos para a favela. Futuro em aberto. | 2000 – retomada da articulação comunitária: assembleia para reagir à proposta do Governo do Estado de construir prédios no Santa Marta; novas eleições para a direção da associação de moradores, com a primeira diretoria composta somente por mulheres (chapa rosa); criação da comissão de urbanização; discussão de um projeto de urbanização para o Santa Marta; início das obras; plano inclinado; entrada da UPP e novos projetos para a favela. Futuro em aberto. | ||
= E o futuro? = | == E o futuro? == | ||
A geração que tem hoje menos de 25 anos nasceu em um Santa Marta onde a água já chegava a todas as casas, diariamente. O banho de chuveiro já fazia parte de sua rotina. A falta de água um dia é um verdadeiro caos em suas vidas. A maioria também desconhece a luta coletiva de seus pais e avós para conquistar esse direito fundamental: a água. | A geração que tem hoje menos de 25 anos nasceu em um Santa Marta onde a água já chegava a todas as casas, diariamente. O banho de chuveiro já fazia parte de sua rotina. A falta de água um dia é um verdadeiro caos em suas vidas. A maioria também desconhece a luta coletiva de seus pais e avós para conquistar esse direito fundamental: a água. | ||
| Linha 297: | Linha 286: | ||
''Também me utilizei da organização temática do jornal comunitário Eco feita pelo sociólogo Atilio Peppe, para a sua tese de mestrado sobre o associativismo na favela de Santa Marta.'' | ''Também me utilizei da organização temática do jornal comunitário Eco feita pelo sociólogo Atilio Peppe, para a sua tese de mestrado sobre o associativismo na favela de Santa Marta.'' | ||
== Verbetes semelhantes == | == Verbetes semelhantes == | ||
| Linha 309: | Linha 296: | ||
| | ||
[[Category:Temática - Depoimentos]][[Category:Memória]][[Category:Santa Marta]][[Category:Temática - Associativismo e Movimentos Sociais]][[Category:Lideranças]] | [[Category:Temática - Depoimentos]] [[Category:Memória]] [[Category:Santa Marta]] [[Category:Temática - Associativismo e Movimentos Sociais]] [[Category:Lideranças]] | ||
