Lançamento do Dicionário de Favelas Marielle Franco: mudanças entre as edições
m Gabriel moveu Wikifavelas:Lançamento do Dicionário de Favelas Marielle Franco para Lançamento do Dicionário de Favelas Marielle Franco sem deixar um redirecionamento |
Sem resumo de edição |
||
| Linha 6: | Linha 6: | ||
[https://youtu.be/uU-f9soXds4 https://youtu.be/uU-f9soXds4] | [https://youtu.be/uU-f9soXds4 https://youtu.be/uU-f9soXds4] | ||
[[File:Cleo e monica.png|600px]] | [[File:Cleo e monica.png|600px|Cleo e monica.png]] | ||
| | ||
= Lançamento = | |||
O lançamento do Dicionário de Favelas Marielle Franco, 16 abril de 2019, na Biblioteca de Manguinhos, na Fiocruz, no Rio de Janeiro foi marcado por homenagens à vereadora carioca, assassinada brutalmente em 2018, cujo nome batiza o dicionário. A cientista política Sônia Fleury, coordenadora do projeto, destacou como a militante, cria da Maré, conseguiu transcender a divisão entre favela e asfalto. E como a mobilização após sua morte acabou servindo como fator para a união e o engajamento de jovens da cidade. “Eles [os assassinos e mandantes do crime] pensaram que, matando Marielle, calariam sua voz. Mas não conseguirão fazê-la calar. O dicionário é um instrumento para aqueles que, como nós, compartilham da ideia de que nossa sociedade não pode ser discriminadora. É uma busca por reconhecer a importância da favela, a importância de suas lideranças e da população que está criando uma nova cidade. A tentativa de abraçar uma sociedade mais rica e plural. Perdemos uma pessoa querida, mas não sua potência. O dicionário é um instrumento dessa potência, um instrumento para a voz de Marielle. Não só a Marielle Franco, mas outras Marielles que têm falado em defesa da emancipação, da cidadania e da inclusão social.” | O lançamento do Dicionário de Favelas Marielle Franco, 16 abril de 2019, na Biblioteca de Manguinhos, na Fiocruz, no Rio de Janeiro foi marcado por homenagens à vereadora carioca, assassinada brutalmente em 2018, cujo nome batiza o dicionário. A cientista política Sônia Fleury, coordenadora do projeto, destacou como a militante, cria da Maré, conseguiu transcender a divisão entre favela e asfalto. E como a mobilização após sua morte acabou servindo como fator para a união e o engajamento de jovens da cidade. “Eles [os assassinos e mandantes do crime] pensaram que, matando Marielle, calariam sua voz. Mas não conseguirão fazê-la calar. O dicionário é um instrumento para aqueles que, como nós, compartilham da ideia de que nossa sociedade não pode ser discriminadora. É uma busca por reconhecer a importância da favela, a importância de suas lideranças e da população que está criando uma nova cidade. A tentativa de abraçar uma sociedade mais rica e plural. Perdemos uma pessoa querida, mas não sua potência. O dicionário é um instrumento dessa potência, um instrumento para a voz de Marielle. Não só a Marielle Franco, mas outras Marielles que têm falado em defesa da emancipação, da cidadania e da inclusão social.” | ||
| Linha 16: | Linha 16: | ||
Presentes à cerimônia, os pais da vereadora receberam uma placa homenageando a filha. “Marielle não acreditava que poderia acabar com a violência no Rio, mas sim que, com uma atuação segura e honesta na Câmara Municipal, poderia ajudar a amenizá-la. Infelizmente, não conseguiu. Por outro lado, seu assassinato acabou transmitindo para a sociedade do Rio que é possível, sim, com honestidade e com trabalho, diminuir um pouco essa violência”, narrou seu pai, Antônio Francisco da Silva Neto. | Presentes à cerimônia, os pais da vereadora receberam uma placa homenageando a filha. “Marielle não acreditava que poderia acabar com a violência no Rio, mas sim que, com uma atuação segura e honesta na Câmara Municipal, poderia ajudar a amenizá-la. Infelizmente, não conseguiu. Por outro lado, seu assassinato acabou transmitindo para a sociedade do Rio que é possível, sim, com honestidade e com trabalho, diminuir um pouco essa violência”, narrou seu pai, Antônio Francisco da Silva Neto. | ||
= Vivência como conhecimento = | |||
A ''WikiFavelas'' é uma iniciativa em prol da consolidação da cidadania plena, definiu a deputada estadual Mônica Francisco, que destacou como a plataforma promove o enlace “entre a produção acadêmica e as experiências vividas no chão da favela”. “O dicionário materializa o compromisso não só com a pesquisa acadêmica, com a produção do conhecimento e com os valores emancipatórios pelos quais lutamos. Materializa, também, a responsabilidade pela descriminalização das favelas”, afirmou. “Já dizíamos que a favela é cidade. Depois passamos a dizer que é potência. Hoje a favela e a periferia vêm, a partir dos processos de redistribuição democrática das universidades, produzindo epistemologia. Vêm se repensando e se ressignificando. E vêm produzindo a reorganização do pensamento a partir das experiências vividas em seu território”. | A ''WikiFavelas'' é uma iniciativa em prol da consolidação da cidadania plena, definiu a deputada estadual Mônica Francisco, que destacou como a plataforma promove o enlace “entre a produção acadêmica e as experiências vividas no chão da favela”. “O dicionário materializa o compromisso não só com a pesquisa acadêmica, com a produção do conhecimento e com os valores emancipatórios pelos quais lutamos. Materializa, também, a responsabilidade pela descriminalização das favelas”, afirmou. “Já dizíamos que a favela é cidade. Depois passamos a dizer que é potência. Hoje a favela e a periferia vêm, a partir dos processos de redistribuição democrática das universidades, produzindo epistemologia. Vêm se repensando e se ressignificando. E vêm produzindo a reorganização do pensamento a partir das experiências vividas em seu território”. | ||
| Linha 22: | Linha 22: | ||
A importância da experiência cotidiana na construção de saberes também foi destaque na fala de Cleonice Dias, líder comunitária na Cidade de Deus e representante do Conselho Editorial da ''WikiFavelas''. “Nosso dicionário celebra a articulação entre o conhecimento acadêmico e o conhecimento dos intelectuais orgânicos da favela. A favela já produz conhecimento quando, por exemplo, faz uma ata e registra momentos históricos no tempo de silêncio, ou no tempo de grande mobilização, ou no tempo de esvaziamento que estamos vivendo hoje”. Inerente a essa rede de saberes, o silêncio ocupa espaços cruciais. Evocando cenas recentes de violência e horror, como o desabamento dos prédios em Muzema e episódios da disputa entre milícias e traficantes, Cleonice reforça como a população tem se mantido calada. “O silêncio dos moradores é ensurdecedor. Eles não podem falar. É uma marca dos dias atuais. Um silêncio que é fabricado pela sabedoria da sobrevivência, da resiliência, da resistência. Não é preciso que seja dada nenhuma ordem [para que se calem]. É a sabedoria das avós que levam seus netos à escola. Ou que chegam às seis da manhã ao posto de saúde. É parte da resistência de ir e vir, de teimar em ser. Há um aprendizado de resistência no silêncio”, defende. | A importância da experiência cotidiana na construção de saberes também foi destaque na fala de Cleonice Dias, líder comunitária na Cidade de Deus e representante do Conselho Editorial da ''WikiFavelas''. “Nosso dicionário celebra a articulação entre o conhecimento acadêmico e o conhecimento dos intelectuais orgânicos da favela. A favela já produz conhecimento quando, por exemplo, faz uma ata e registra momentos históricos no tempo de silêncio, ou no tempo de grande mobilização, ou no tempo de esvaziamento que estamos vivendo hoje”. Inerente a essa rede de saberes, o silêncio ocupa espaços cruciais. Evocando cenas recentes de violência e horror, como o desabamento dos prédios em Muzema e episódios da disputa entre milícias e traficantes, Cleonice reforça como a população tem se mantido calada. “O silêncio dos moradores é ensurdecedor. Eles não podem falar. É uma marca dos dias atuais. Um silêncio que é fabricado pela sabedoria da sobrevivência, da resiliência, da resistência. Não é preciso que seja dada nenhuma ordem [para que se calem]. É a sabedoria das avós que levam seus netos à escola. Ou que chegam às seis da manhã ao posto de saúde. É parte da resistência de ir e vir, de teimar em ser. Há um aprendizado de resistência no silêncio”, defende. | ||
= Direito à comunicação = | |||
O lançamento do ''Dicionário de Favelas Marielle Franco'' também marcou o 33º aniversário do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz). “O dicionário para nós é um presente. Pois canaliza uma série de ideias e de atividades que já exercíamos, na busca pela defesa efetiva e cotidiana dos direitos humanos. Atua em linhas fundamentais também para o Icict, como a construção da ideia de ciência cidadã, a busca por diálogo permanente com a comunidade. Atua na preservação de direitos que são muito caros, como o direito à informação e à comunicação. E também na busca pela diversidade e pluralidade”, explicou Rodrigo Murtinho, diretor do Icict. | O lançamento do ''Dicionário de Favelas Marielle Franco'' também marcou o 33º aniversário do Instituto de Comunicação e Informação Científica e Tecnológica em Saúde (Icict/Fiocruz). “O dicionário para nós é um presente. Pois canaliza uma série de ideias e de atividades que já exercíamos, na busca pela defesa efetiva e cotidiana dos direitos humanos. Atua em linhas fundamentais também para o Icict, como a construção da ideia de ciência cidadã, a busca por diálogo permanente com a comunidade. Atua na preservação de direitos que são muito caros, como o direito à informação e à comunicação. E também na busca pela diversidade e pluralidade”, explicou Rodrigo Murtinho, diretor do Icict. | ||
| Linha 31: | Linha 31: | ||
Nísia também reforçou que a Fiocruz tem mantido relação longeva com a temática das favelas, em atividades, pesquisas e acervos de naturezas diversas. Uma experiência que inclui, por exemplo, o uso do teatro em ações de saúde feitas na Favela de Manguinhos, pelo diretor e ator teatral Luiz Mendonça. A trajetória do pesquisador Victor Valla, referência em educação popular. Os arquivos do médico Victor Tavares de Moura, que atuou na criação dos parques proletários. O acervo de fotos do antropólogo americano Anthony Leeds, que registrou na década de 1960 uma série de imagens de favelas do Rio de Janeiro, e que está a cargo da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz). “A criação deste ''Dicionário de Favelas'' vai permitir novos acervos e experiências”, aponta. | Nísia também reforçou que a Fiocruz tem mantido relação longeva com a temática das favelas, em atividades, pesquisas e acervos de naturezas diversas. Uma experiência que inclui, por exemplo, o uso do teatro em ações de saúde feitas na Favela de Manguinhos, pelo diretor e ator teatral Luiz Mendonça. A trajetória do pesquisador Victor Valla, referência em educação popular. Os arquivos do médico Victor Tavares de Moura, que atuou na criação dos parques proletários. O acervo de fotos do antropólogo americano Anthony Leeds, que registrou na década de 1960 uma série de imagens de favelas do Rio de Janeiro, e que está a cargo da Casa de Oswaldo Cruz (COC/Fiocruz). “A criação deste ''Dicionário de Favelas'' vai permitir novos acervos e experiências”, aponta. | ||
| |||
