Morro do Turano: mudanças entre as edições

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<p style="margin-bottom:.0001pt; text-align:justify"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:normal"><span style="color:black">Morro do Turano é uma localidade entre os bairros da Tijuca e do Rio Comprido, na Zona Norte da capital fluminense, onde existe uma favela. Esta favela localiza-se próximo a outras, como o Morro de São Carlos, no Estácio, Morro da Mineira e o Morro da Coroa, no Catumbi, Morro do Querosene, no Rio Comprido e Comunidade da Chacrinha, na Tijuca.</span></span></span></span></p> <p style="margin-bottom:.0001pt; text-align:justify"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:normal">Hoje, o conjunto de favelas é conhecido como Complexo do Turano e atualmente é formado por sete&nbsp;favelas, sendo duas delas localizadas no bairro da Tijuca, como o Morro da Liberdade e o Morro da Chacrinha, e no bairro do Rio Comprido, localizam-se Matinha, Pantanal, Rodo, Bispo e o Sumaré. O Censo Demográfico 2010, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), diz, que a população total do Morro do Turano é de 10.569 pessoas. Mas, até abril de 2013, o Centro Municipal de Saúde Turano informa que havia sido mapeado pelo Programa Saúde da Família, do Ministério da Saúde, 13.200 moradores no local.</span></span></span></p> <p style="margin-bottom:.0001pt; text-align:justify"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:normal"><span style="color:black">Em 30 de setembro de 2010 a comunidade passou a ser atendida pela 12° UPP.</span></span></span></span></p>  
<p style="margin-bottom:.0001pt; text-align:justify"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:normal"><span style="color:black">Morro do Turano é uma localidade entre os bairros da Tijuca e do Rio Comprido, na Zona Norte da capital fluminense, onde existe uma favela. Esta favela localiza-se próximo a outras, como o Morro de São Carlos, no Estácio, Morro da Mineira e o Morro da Coroa, no Catumbi, Morro do Querosene, no Rio Comprido e Comunidade da Chacrinha, na Tijuca.</span></span></span></span></p> <p style="margin-bottom:.0001pt; text-align:justify"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:normal">Hoje, o conjunto de favelas é conhecido como Complexo do Turano e atualmente é formado por sete&nbsp;favelas, sendo duas delas localizadas no bairro da Tijuca, como o Morro da Liberdade e o Morro da Chacrinha, e no bairro do Rio Comprido, localizam-se Matinha, Pantanal, Rodo, Bispo e o Sumaré. O Censo Demográfico 2010, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), diz, que a população total do Morro do Turano é de 10.569 pessoas. Mas, até abril de 2013, o Centro Municipal de Saúde Turano informa que havia sido mapeado pelo Programa Saúde da Família, do Ministério da Saúde, 13.200 moradores no local.</span></span></span></p> <p style="margin-bottom:.0001pt; text-align:justify"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:normal"><span style="color:black">Em 30 de setembro de 2010 a comunidade passou a ser atendida pela 12° UPP.</span></span></span></span></p>  
= História =
= História =
<p style="margin-bottom:.0001pt; text-align:justify"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:normal"><span style="color:black">Grande parte dos morros da Tijuca faziam parte de antigas fazendas de café da Zona Norte. Alguns foram batizados com o mesmo sobrenome da família proprietária das terras. Um deles foi o Morro do Turano, em homenagem a Emilio Turano, imigrante italiano que comprou a posse do morro de uma baronesa no ano 1928, com licença da Mitra Episcopal. Na época foi explorada uma pedreira e iniciou-se a construção do casario na sua base. Há duas histórias sobre a formação da favela no local. A primeira diz que a família perdeu a posse das terras com o advento da Guerra Mundial e quando voltou ao Brasil a favela já estava instaurada e não conseguiu mais retomar o controle do espaço.&nbsp;[[File:Turano 02 - Tanque.jpg|thumb|center|500px|Crianças posam na localidade conhecida como Tanque. O lugar tem esse nome pois, no passado, mulheres lavavam roupas dos patrões das casas onde trabalhavam no asfalto em tanques coletivos que ficavam na região]]</span></span></span></span></p> <p style="margin-bottom:.0001pt; text-align:justify"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:normal"><span style="color:black">A segunda versão diz que Emílio Turano, dono da região, alugava o espaço que se auto intitulara proprietário, mas com a alta valoração do solo ele passara a cobrar aluguéis absurdamente altos, com aumentos muito grandes. Assim, começaram a surgir os atritos entre moradores e supostos donos de terras na região. A tensão explodiu quando ele tentou aumentar de uma só vez um percentual muito alto de todas as casas, num nível considerado excessivo. Muitos moradores não questionavam a cobrança de aluguéis em si, mas rejeitaram o aumento que comprometia o&nbsp;seu orçamento mais fundamental e consequentemente inviabilizada sua permanência no local. Segundo uma pesquisa feita por Gomes (2018), frente a isso, diversos moradores decidiram coletivamente suspender o pagamento de aluguéis e começaram a questionar a propriedade daquelas terras, o que ocasionou uma série de violências e arbitrariedades perpetradas por Turano. Além desses movimentos de articulação interna, os moradores estabeleceram alianças com advogados, jornais e partidos políticos, principalmente com o PCB.</span></span></span></span></p> <p style="margin-bottom:.0001pt; text-align:justify"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Logo depois, com a saída de Vargas da presidência, em 1945, há uma ascenção popular das ideias de esquerda na cidade e o debate de habitação popular ganha mais força e militantes comunistas se aproximam dos moradores de favelas a partir dos Comitês Populares Democráticos (CPDs), inclusive do Turano. Segundo Gomes (2018):</span></span></p> <blockquote><p style="margin-bottom:.0001pt; text-align:justify">Esses comitês atuaram oferecendo apoio e incentivando a formação de subcomitês, ligados aos comitês dos bairros, responsáveis por gerar visibilidade às precárias condições de vida dos favelados, suscitando o debate de seus problemas mais urgentes em esferas públicas, exercendo pressão para fossem incorporados na agenda dos governantes. Mas não se limitavam a isso. Os comitês se propunham também a prestar assistência social básica (serviços de medicina preventiva, cursos de alfabetização, etc.) fortalecer ações coletivas (que, em grande medida, sempre foram levadas a cabo nessas localidades) na resolução de problemas mais imediatos e a articular a mediação entre as demandas da população local e as instituições públicas no que acreditavam ser obrigações do Estado, fornecendo, por exemplo, apoio jurídico nas batalhas judiciais que eventualmente os moradores se envolviam e apoio técnico na formulação de documentação reivindicatória destinada aos governantes.</p> </blockquote> <p style="margin-bottom:.0001pt; text-align:justify">As reivindicações que se viabilizaram a partir do fortalecimento do movimento associativista local foram muito importantes para o estabelecimento da população não apenas do Turano mas de diversas localidades da cidade, mas não de imediato. As primeiras respostas que os moradores tiveram foi o aumento da violência, autoritarismo e agressividade nas favelas. Ainda que Turano tivesse perdido na justiça o pagamento de alugueis no Morro do Salgueiro, vizinho do Turano, executou práticas de ameaças, espancamentos, destruição de moradias e muitas outras violências na tentativa de recuperar o controle do local, em ações similares ao que as milicias hoje exercem no Rio de Janeiro. A midia se dividiu muito na cobertura do caso - de acordo com o posicionamento político, defendia os moradores ou Turano; já que havia uma forte ligação entre os moradores e os comunistas, a sua defesa não era uniforme na sociedade.&nbsp;</p> <p style="margin-bottom:.0001pt; text-align:justify">[[File:Turano 03.jpg|frame|center|500px|Na localidade conhecida como Tanque, ainda existem algumas casas feitas de madeira ou chapas de metal. A precariedade das construções gera perigo aos moradores, por conta do risco de desabamento]]</p>  
<p style="margin-bottom:.0001pt; text-align:justify"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:normal"><span style="color:black">Grande parte dos morros da Tijuca faziam parte de antigas fazendas de café da Zona Norte. Alguns foram batizados com o mesmo sobrenome da família proprietária das terras. Um deles foi o Morro do Turano, em homenagem a Emilio Turano, imigrante italiano que comprou a posse do morro de uma baronesa no ano 1928, com licença da Mitra Episcopal. Na época foi explorada uma pedreira e iniciou-se a construção do casario na sua base. Há duas histórias sobre a formação da favela no local. A primeira diz que a família perdeu a posse das terras com o advento da Guerra Mundial e quando voltou ao Brasil a favela já estava instaurada e não conseguiu mais retomar o controle do espaço.&nbsp;[[File:Turano 02 - Tanque.jpg|thumb|center|500px|Crianças posam na localidade conhecida como Tanque. O lugar tem esse nome pois, no passado, mulheres lavavam roupas dos patrões das casas onde trabalhavam no asfalto em tanques coletivos que ficavam na região]]</span></span></span></span></p> <p style="margin-bottom:.0001pt; text-align:justify"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:normal"><span style="color:black">A segunda versão diz que Emílio Turano, dono da região, alugava o espaço que se auto intitulara proprietário, mas com a alta valoração do solo ele passara a cobrar aluguéis absurdamente altos, com aumentos muito grandes. Assim, começaram a surgir os atritos entre moradores e supostos donos de terras na região. A tensão explodiu quando ele tentou aumentar de uma só vez um percentual muito alto de todas as casas, num nível considerado excessivo. Muitos moradores não questionavam a cobrança de aluguéis em si, mas rejeitaram o aumento que comprometia o&nbsp;seu orçamento mais fundamental e consequentemente inviabilizada sua permanência no local. Segundo uma pesquisa feita por Gomes (2018), frente a isso, diversos moradores decidiram coletivamente suspender o pagamento de aluguéis e começaram a questionar a propriedade daquelas terras, o que ocasionou uma série de violências e arbitrariedades perpetradas por Turano. Além desses movimentos de articulação interna, os moradores estabeleceram alianças com advogados, jornais e partidos políticos, principalmente com o PCB.</span></span></span></span></p> <p style="margin-bottom:.0001pt; text-align:justify"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Logo depois, com a saída de Vargas da presidência, em 1945, há uma ascenção popular das ideias de esquerda na cidade e o debate de habitação popular ganha mais força e militantes comunistas se aproximam dos moradores de favelas a partir dos Comitês Populares Democráticos (CPDs), inclusive do Turano. Segundo Gomes (2018):</span></span></p> <blockquote><p style="margin-bottom:.0001pt; text-align:justify">Esses comitês atuaram oferecendo apoio e incentivando a formação de subcomitês, ligados aos comitês dos bairros, responsáveis por gerar visibilidade às precárias condições de vida dos favelados, suscitando o debate de seus problemas mais urgentes em esferas públicas, exercendo pressão para fossem incorporados na agenda dos governantes. Mas não se limitavam a isso. Os comitês se propunham também a prestar assistência social básica (serviços de medicina preventiva, cursos de alfabetização, etc.) fortalecer ações coletivas (que, em grande medida, sempre foram levadas a cabo nessas localidades) na resolução de problemas mais imediatos e a articular a mediação entre as demandas da população local e as instituições públicas no que acreditavam ser obrigações do Estado, fornecendo, por exemplo, apoio jurídico nas batalhas judiciais que eventualmente os moradores se envolviam e apoio técnico na formulação de documentação reivindicatória destinada aos governantes.</p> </blockquote> <p style="margin-bottom:.0001pt; text-align:justify">As reivindicações que se viabilizaram a partir do fortalecimento do movimento associativista local foram muito importantes para o estabelecimento da população não apenas do Turano mas de diversas localidades da cidade, mas não de imediato. As primeiras respostas que os moradores tiveram foi o aumento da violência, autoritarismo e agressividade nas favelas. Ainda que Turano tivesse perdido na justiça o pagamento de alugueis no Morro do Salgueiro, vizinho do Turano, executou práticas de ameaças, espancamentos, destruição de moradias e muitas outras violências na tentativa de recuperar o controle do local, em ações similares ao que as milicias hoje exercem no Rio de Janeiro. A midia se dividiu muito na cobertura do caso - de acordo com o posicionamento político, defendia os moradores ou Turano; já que havia uma forte ligação entre os moradores e os comunistas, a sua defesa não era uniforme na sociedade.&nbsp;</p> <p style="margin-bottom:.0001pt; text-align:justify">[[File:Turano 03.jpg|thumb|center|500px|Na localidade conhecida como Tanque, ainda existem algumas casas feitas de madeira ou chapas de metal. A precariedade das construções gera perigo aos moradores, por conta do risco de desabamento]]</p>  
== Morro da Liberdade ==
== Morro da Liberdade ==
<p style="text-align: justify;">Uma parte importante da disputa pela propriedade do terreno passou pela disputa do seu nome. Uma parcela dos moradores, ainda nos anos 1940, tentou mudar o nome do Morro do Turano para Morro da LIberdade, tentando afastar do imaginário social a propriedade do espaço vinculada ao italiano. Apesar da vitória dos moradores frente ao italiano, ao longo das décadas o nome de Turano prevaleceu como designação mais difundida dessa comunidade, que se tornou um complexo de favelas. Contudo, a localidade conhecida como Morro da Liberdade (justamente a área que concentrava a maior parte casas naquela época) constitui uma das sete favelas que compõe de forma contígua a área do complexo do Turano. Como apresenta Gomes (2018), ao narrar o episódio, a disputa também se estabeleceu no plano simbólico, onde se disputou a identidade e a memória em relação a esse espaço e que se refletiu na imprensa, uma vez que nas décadas imediatamente posteriores encontramos ambas nomenclaturas nos jornais ao referirem-se a este local.</p> <p style="text-align: justify;">[[File:Turano 04.jpg|frame|center|500px|Vista privilegiada a partir da Divisa, caminho por dentro da mata que separa o Turano do Morro do Salgueiro. Dali dá para enxergar o bairro da Tijuca e parte dos municípios de Duque de Caxias e Niterói]]</p>  
<p style="text-align: justify;">Uma parte importante da disputa pela propriedade do terreno passou pela disputa do seu nome. Uma parcela dos moradores, ainda nos anos 1940, tentou mudar o nome do Morro do Turano para Morro da LIberdade, tentando afastar do imaginário social a propriedade do espaço vinculada ao italiano. Apesar da vitória dos moradores frente ao italiano, ao longo das décadas o nome de Turano prevaleceu como designação mais difundida dessa comunidade, que se tornou um complexo de favelas. Contudo, a localidade conhecida como Morro da Liberdade (justamente a área que concentrava a maior parte casas naquela época) constitui uma das sete favelas que compõe de forma contígua a área do complexo do Turano. Como apresenta Gomes (2018), ao narrar o episódio, a disputa também se estabeleceu no plano simbólico, onde se disputou a identidade e a memória em relação a esse espaço e que se refletiu na imprensa, uma vez que nas décadas imediatamente posteriores encontramos ambas nomenclaturas nos jornais ao referirem-se a este local.</p> <p style="text-align: justify;">[[File:Turano 04.jpg|thumb|center|500px|Vista privilegiada a partir da Divisa, caminho por dentro da mata que separa o Turano do Morro do Salgueiro. Dali dá para enxergar o bairro da Tijuca e parte dos municípios de Duque de Caxias e Niterói]]</p>  
== A vitória gradual ==
== A vitória gradual ==


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*<span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:normal"><span style="color:black">Chapa, em homenagem a um grupo antigo também de rapazes amigos das décadas de 1960 e 1970, que se reuniam no local e era chamado de Turma do Chapa;</span></span></span></span>  
*<span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:normal"><span style="color:black">Chapa, em homenagem a um grupo antigo também de rapazes amigos das décadas de 1960 e 1970, que se reuniam no local e era chamado de Turma do Chapa;</span></span></span></span>  
*<span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:normal"><span style="color:black">A ladeira, conhecida como Estradinha Nova, onde se corria atrás de doces no dia de Cosme e Damião.</span></span></span></span>  
*<span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:normal"><span style="color:black">A ladeira, conhecida como Estradinha Nova, onde se corria atrás de doces no dia de Cosme e Damião.</span></span></span></span>  
<p style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:normal"><span style="color:black">[[File:Turano 05.jpg|frame|center|500px|Na parte alta da comunidade, conhecida como Pedacinho do Céu, é comum a criação de animais pelos moradores. A vista ao fundo do Maracanã, um dos estádios de futebol mais importantes do Mundo, contrasta com a presença de cavalos pastando no lugar]]</span></span></span></span></p>  
<p style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;"><span style="line-height:normal"><span style="color:black">[[File:Turano 05.jpg|thumb|center|500px|Na parte alta da comunidade, conhecida como Pedacinho do Céu, é comum a criação de animais pelos moradores. A vista ao fundo do Maracanã, um dos estádios de futebol mais importantes do Mundo, contrasta com a presença de cavalos pastando no lugar]]</span></span></span></span></p>  
= Conheça o Morro do Turano - Tour da Cria =
= Conheça o Morro do Turano - Tour da Cria =
 
<p style="text-align: right;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Apresentação da favela por Carla Regina, nascida e criada no Turano. Texto retirado do portal da Agência de Notícias de Favelas (ANF).&nbsp;</span></span></p> <blockquote><p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Na parte alta do&nbsp;''Morro do Turano''&nbsp;temos o&nbsp;'''''Pedacinho do Céu''''', que fica bem lá no alto mesmo e podemos ter uma vista deslumbrante do bairro da&nbsp;''Tijuca''&nbsp;e boa parte da cidade. Um pouco mais abaixo, temos o&nbsp;'''''Tanque''''', onde no passado as mulheres lavavam suas roupas e de seus patrões nos tanques coletivos que havia no local, segundo relatos de moradores mais antigos. Bem ali ao lado do&nbsp;''Tanque'', temos a&nbsp;'''''Divisa''''', um caminho por dentro da mata que separam o&nbsp;''Morro do Turano''&nbsp;e o&nbsp;'''''Morro do Salgueiro''''', com uma vista encantadora da Tijuca, adjacências e até de parte dos municípios de&nbsp;'''''Duque de Caxias&nbsp;'''''e'''''&nbsp;Niterói''''', sem esquecer é claro, da visão linda que temos do&nbsp;'''''Maracanã''''', relíquia carioca.</span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Ainda continuando o rolé lá em cima,&nbsp;&nbsp;descendo mais um pouco temos a'''''&nbsp;Raia''''', cujo a versão contada por alguns antigos moradores, esse nome foi dado, devido à época de formação da favela, o local fazia parte da fazenda de&nbsp;''Turano''&nbsp;e o primeiro nome dado para essa área foi de'''''&nbsp;Fazendinha'''''. E por causa do grande arraiá que os moradores faziam nos períodos de festa junina, acabou virando&nbsp;'''''Arraiá'''''&nbsp;e como de costume carioca, abreviado para&nbsp;''Raia''. E nesse local a sub divisões, como a'''''&nbsp;Fazendinha''''', o&nbsp;'''''Miolo''''',&nbsp;'''''Entradinha da Chacrinha''''',&nbsp;'''''Caminho da Caixa D’Água''''', e a famosa&nbsp;'''''Quadra da Vista Alegre'''''&nbsp;ou&nbsp;'''''Quadra da Raia''''', como muitos preferem chamar. Espaço onde a criançada se reúne para jogar uma bolinha, os adolescentes e os mais velhos também jogam suas peladas. Nas noites de fins de semana, rola o famoso&nbsp;'''''baile de swing''''', o conhecidíssimo na Comunidade&nbsp;'''''Swing da Raia''''', que a galera parte para curtir e dançar ao som de&nbsp;'''''Bebeto''''',&nbsp;'''''Jorge Benjor''''',&nbsp;'''''Banda Copa Sete''''',&nbsp;'''''Elson do Forrogode''''', etc.'''''&nbsp;&nbsp;'''''</span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">E vamos descer mais uma pouco, mas continuando ainda na Raia, pois mais abaixo temos o local chamado de&nbsp;'''''Televisão''''', que tem esse nome por ter uma visão bem ampla da&nbsp;'''''Matinha'''''&nbsp;e de outras partes favela que ficam no&nbsp;''Rio Comprido''. Mais uma descidinha e chegamos no&nbsp;'''''Piauí''''', local onde funcionava a vendinha de antigo morador, infelizmente já falecido, cujo, assim era chamado pelos vizinhos por ter vindo desse estado nordestino. O mesmo, além da vendinha, também alugava quitinetes para quem precisasse de moradia, e quem ia morar lá dizia que morava no&nbsp;''Piauí'', e por conta disso, o local acabou sendo batizado com esse nome.</span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Que rolezão, né? E nem andei pelo alto do&nbsp;'''''Morro'''''&nbsp;todo, pois essa favela como eu disse no início, é muito grande, uma das maiores da&nbsp;''Zona Norte''&nbsp;e estou passeando por uma das partes que fica na&nbsp;''Tijuca''. Mas vamos continuar descendo, porque estou chegando na&nbsp;'''''Igrejinha''''', local que ainda é chamado assim pelo antigos moradores, pois ali funciona até hoje uma Igreja Evangélica bem antiga. Alguns moradores mais jovens chamam de&nbsp;'''''Jamaica''''',&nbsp;'''''Escadaria''''', ou&nbsp;'''''Forninho''''', nome dado ao pequeno espaço que há nessa área próximo a igreja e onde as pessoas fazem comemorações de aniversários e festas em geral. Abaixo temos o&nbsp;'''''Beco da Macua''''', ou simplesmente&nbsp;'''''Macua'''''. Local que durante algum tempo foi considerado uma das partes mais agitadas do Morro, devido os moradores serem pessoas bem decididos, digamos assim, e quando há qualquer injustiça por parte da PM, eles se unem e fazem bastante barulho, mobilizando até mesmo moradores de outras áreas mais próximas. &nbsp;</span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Logo no início da&nbsp;''Macua'', bem na entrada, funciona a&nbsp;'''''Creche Chapeuzinho Marrom''''', uma das primeiras a serem inauguradas nesta área do morro, entre o final da década de 1980 e o início da década de 1990. Ao lado da entrada do beco funciona uma pequena&nbsp;''Igreja Católica'', que chamamos de&nbsp;'''''Capelinha''''', fundada pelo&nbsp;'''''Frei Cassiano'''''&nbsp;e pelos&nbsp;'''''Frades'''''&nbsp;'''''Capuchinhos'''''&nbsp;da&nbsp;'''''Paróquia de São Sebastião''''', localizada na rua&nbsp;'''''Haddock Lobo''''', na&nbsp;''Tijuca''. Aos domingos e em datas festivas da&nbsp;'''''Igreja Católica''''', os padres sobem o morro para celebrarem as missas. Saímos da&nbsp;''Macua''&nbsp;e chegamos a&nbsp;'''''Escolinha''''', nome dado devido a funcionar ali a&nbsp;'''''Escola Municipal Frei Cassiano''''', que os antigos contam que o próprio Frei ajudou a construir e a inaugurou no início da década de 1970, assim como fez também o&nbsp;'''Posto Policial da Polícia Militar,'''&nbsp;que foi desativado por um tempo para instalação da&nbsp;'''''Unidade de Polícia Pacificadora'''''&nbsp;'''''(UPP)''''', no período do governo de&nbsp;'''''Sérgio Cabral'''''&nbsp;e depois voltando a funcionar ali próximo. Ao lado tem um caminho que vai dá para&nbsp;''Matinha'', chamado&nbsp;'''''Beco do Posto''''', fazendo também parte da&nbsp;''Escolinha''.</span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Nos fundos da escola forma um caminho como se fosse um corredor, onde funciona um comércio com algumas tendinhas, lojinhas, barraquinhas e um hortifruti. Algumas dessas tendinhas que funcionam por ali são bem antigas, como a&nbsp;'''''Tendinha do Manel do Cardoso''''', bar que pertencia a um senhor português, chamado&nbsp;'''''Manoel Cardoso'''''&nbsp;e com seu falecimento, acabou passando para o filho. O mesmo, assim como o&nbsp;''Piauí'', alugava quitinetes em beco próximo ao bar e com isso, o local acabou sendo batizado com seu sobrenome, o&nbsp;'''''Beco'''''&nbsp;'''''do Cardoso'''''. A antiga&nbsp;'''''Tendinha do Seu Zé''''', que passou também ser administrada por seus filhos após o mesmo ter adoecido e em seguida falecer. E por último, a&nbsp;'''''Tendinha do&nbsp;'''''<b>Pelado</b>, filho de&nbsp;''Seu Zé'', que herdou do pai o tino para os negócios, abrindo o seu próprio, mas, &nbsp;infelizmente em abril deste ano ele adoeceu e acabou nos deixando, para tristeza da maioria de nós que já éramos habituados a sua irreverência e alegria, usando o linguajar da favela, acostumados com sua zoação. Seu comércio passou a ser administrado por sua esposa.</span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Agora estou chegando na parte do Morro, que modéstia a parte, é a melhor e a que eu mais amo desde a infância. Não que as outras áreas da favela sejam ruins, mas essa muito especial para mim, pois foi onde nasci, cresci, me tornei mãe e agora avó. Acompanhei uma boa parte das transformações que ali aconteceram, vi chegar e partir várias pessoas que fizeram parte da minha infância, adolescência e também na fase adulta, e por esse motivo, falo de forma carinhosa e calorosa.</span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Fui descendo bem tranquila e cheguei no&nbsp;'''''Chapa''''', cujo esse nome foi dado por um grupo de amigos rapazes no início dos anos 1990, em homenagem a um outro grupo antigo também de rapazes amigos da década de 1960 e 1970, que se reuniam no local e era chamado de&nbsp;'''''Turma do Chapa'''''. Antes, ali era apenas chamado pelo nome da rua principal, a Joaquim Pizarro, e esses rapazes se reuniam ali para jogar bola, conversar, ouvir histórias contadas pelos mais antigos, fazerem festas, etc. E ouvindo uma dessas história contada por alguns dos integrantes do antigo grupo, decidiram se entitularem também com o nome do anterior.</span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Inicialmente, também chamados de&nbsp;'''''Turma do Chapa''''', mas alguns costumam chamar de&nbsp;'''''Bonde do Chapa''''', pois esse termo, “''bonde''” já estava sendo bem usado no vocabulário das favelas naquela época da formação do segundo grupo.</span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">O grupo além de reunir todos os dias, faziam festas na rua para os moradores e principalmente, no dia das crianças. Os mesmos, usavam camisetas com o nome da turma&nbsp;e de cada integrante. Tinham uma espécie de logomarca.</span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Com a fama da&nbsp;''Turma do Chapa'', os moradores, não só dessa parte, mas também das outras partes do&nbsp;''Morro'', passou a chamar aquela área de&nbsp;''Turma do Chapa&nbsp;''e depois simplificando, chamando apenas de&nbsp;''Chapa'', como é mais conhecido. Novas gerações de grupos amigos foram surgindo e perpetuando o nome dos antigos. Os dois grupos anteriores não se reúnem mais, mas o nome que deram ao local, acabou sendo eternizado na letras de funk do&nbsp;'''''MC'''''&nbsp;'''''Menor do Chapa''''', que também foi morador de lá.</span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Mas, não é porque a Turma do Chapa não se reúne mais que a animação parou, pois os fins de semana continuam “bombando”, com muito forró no&nbsp;'''''Bar do Ivanildo''''', com pessoas nos outros bares e na rua curtindo um funk, bebendo aquela cerveja gelada, crianças brincando e por aí vai. E nos dias de jogos, a galera se reúne nas portas das tendinhas para assistir aquele futebol como é de costume. Mesmo com tantos problemas, cujo todos nós sabemos quais são, ainda sim, tentamos levar a vida com um pouco de alegria.</span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Ali no&nbsp;''Chapa'', eu cresci, brinquei muito na rua, escorreguei na ladeira, conhecida como&nbsp;'''''Estradinha Nova''''', corri atrás de doces no dia de&nbsp;'''Cosme e Damião''', subi em árvores no terreno do antigo e já extinto&nbsp;'''''Colégio Santa Dorotéia'''''. Em dias de falta d’água, enfrentei filas juntos de outro moradores para pegar água na&nbsp;'''''Caixa D’Água'''''. Uma área bem ampla onde funciona uma subestação da&nbsp;'''''Companhia de Estadual de Água e Esgoto (CEDAE)''''', que por ter muitas residências é como se fosse mais um dos becos que tem no&nbsp;''Chapa''. Onde também a Turma do Chapa promovia suas festas e bailes funks e muitos moradores curtiam muito. Como uma criança de favela, tive uma infância e uma adolescência simples, mas bem legal. E quando meus filhos nasceram, mesmo em épocas bem diferentes, também puderam aproveitar a infância, apesar das inúmeras dificuldades e os muitos problemas que dentro de qualquer favela.</span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Dei uma parada no&nbsp;''Chapa'', mas vou continuar o rolé pelo&nbsp;''Turano&nbsp;''descendo e passando pela&nbsp;'''''Barra Funda'''''&nbsp;até chegar a&nbsp;'''''Escadinha''''', a escadaria que dá em frente a quadra do antigo&nbsp;'''''Bloco Carnavalesco Cometa do Bispo''''', que foi fundado no ano de 1962 e está ainda em atividade. Além dos ensaios do bloco, o espaço também é utilizado em comemorações de festas, bailes, etc. O terreno onde foi construída a quadra do bloco, era um campo de terra batida, que chamávamos de&nbsp;'''campinho'''. Ali, não só as crianças se reuniam para brincar e jogar bola, como os adultos também e faziam até campeonatos de futebol e queimado, com disputados por times de todas as áreas do&nbsp;''Morro do Turano''&nbsp;e de outros&nbsp;''Morros''&nbsp;próximos, como&nbsp;''Salgueiro'',&nbsp;''Formiga'',&nbsp;''Borel'',&nbsp;''Mangueira'', entre outros. No período de festas juninas, o campo era todo enfeitado e preparado para os festejos, havendo também campeonatos de “quadrilhas caipira”. Mas, no segundo governo César Maia, finalzinho da década de 1990, o campinho começou a ser desativado para as obras do projeto&nbsp;'''''Favela Bairro''''', e no terceiro governo do Prefeito, iniciou a construção da quadra do Bloco Cometa do Bispo e da&nbsp;'''''Creche Municipal Doutor Sérgio Arouca'''''&nbsp;que funciona ao lado. E além das moradias que já existiam por ali, outras foram sendo construídas e até mesmo, surgindo novos comércios.</span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Do outro lado da rua, fica a&nbsp;'''''Colégio Estadual Herbert de Souza''''', onde funcionava o antigo&nbsp;'''''Colégio de Aplicação da UERJ (Cap UERJ)''''', que foi desativado em meados dos anos 1990 e após alguns anos de fechado, foi reaberto pelo'''''&nbsp;Governador Anthony Garotinho'''''&nbsp;no seu segundo mandato. Mas antes de funcionar como colégio, os mais antigos relatam que ali era uma&nbsp;'''Escola de Enfermagem''', que com a transferência para um outro lugar, foi adquirida pela&nbsp;'''''Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)''''', passando a manter durante anos seu&nbsp;''Colégio de Aplicação&nbsp;''até a sua desativação entre o final do ano de 1996 e o início de 1997.</span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">O&nbsp;''Colégio Herbert de Souza&nbsp;''atende alunos não só do&nbsp;''Morro do Turano'', mas também de outras favelas adjacentes. Nos fins de semana, as quadras poliesportivas são liberadas para lazer das crianças e até escolinhas de futebol e de artes marciais. Próximo ao colégio agora passou funcionar um dos pontos de mototáxi, e a alguns anos naquela área, após as obras da&nbsp;''Favela Bairro'', passou a funcionar um comércio de prestação de serviços, como oficinas e barbearias, aumentou o números de moradias até a entrada do Morro, que chamamos de&nbsp;'''''Curva''''', onde funciona uma borracharia e agora mais recentemente, passou a funcionar um bar e lanchonete, que ficam mais precisamente na rua&nbsp;'''''Barão de Itapagipe''''', ou simplesmente&nbsp;'''''Barão'''''&nbsp;como nós moradores costumamos chamar.</span></span></p> </blockquote>  
= <span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Apresentação da favela por Carla Regina, nascida e criada no Turano. Texto retirado do portal da Agência de Notícias de Favelas (ANF).&nbsp;</span></span> =
<blockquote><p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Na parte alta do&nbsp;''Morro do Turano''&nbsp;temos o&nbsp;'''''Pedacinho do Céu''''', que fica bem lá no alto mesmo e podemos ter uma vista deslumbrante do bairro da&nbsp;''Tijuca''&nbsp;e boa parte da cidade. Um pouco mais abaixo, temos o&nbsp;'''''Tanque''''', onde no passado as mulheres lavavam suas roupas e de seus patrões nos tanques coletivos que havia no local, segundo relatos de moradores mais antigos. Bem ali ao lado do&nbsp;''Tanque'', temos a&nbsp;'''''Divisa''''', um caminho por dentro da mata que separam o&nbsp;''Morro do Turano''&nbsp;e o&nbsp;'''''Morro do Salgueiro''''', com uma vista encantadora da Tijuca, adjacências e até de parte dos municípios de&nbsp;'''''Duque de Caxias&nbsp;'''''e'''''&nbsp;Niterói''''', sem esquecer é claro, da visão linda que temos do&nbsp;'''''Maracanã''''', relíquia carioca.</span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Ainda continuando o rolé lá em cima,&nbsp;&nbsp;descendo mais um pouco temos a'''''&nbsp;Raia''''', cujo a versão contada por alguns antigos moradores, esse nome foi dado, devido à época de formação da favela, o local fazia parte da fazenda de&nbsp;''Turano''&nbsp;e o primeiro nome dado para essa área foi de'''''&nbsp;Fazendinha'''''. E por causa do grande arraiá que os moradores faziam nos períodos de festa junina, acabou virando&nbsp;'''''Arraiá'''''&nbsp;e como de costume carioca, abreviado para&nbsp;''Raia''. E nesse local a sub divisões, como a'''''&nbsp;Fazendinha''''', o&nbsp;'''''Miolo''''',&nbsp;'''''Entradinha da Chacrinha''''',&nbsp;'''''Caminho da Caixa D’Água''''', e a famosa&nbsp;'''''Quadra da Vista Alegre'''''&nbsp;ou&nbsp;'''''Quadra da Raia''''', como muitos preferem chamar. Espaço onde a criançada se reúne para jogar uma bolinha, os adolescentes e os mais velhos também jogam suas peladas. Nas noites de fins de semana, rola o famoso&nbsp;'''''baile de swing''''', o conhecidíssimo na Comunidade&nbsp;'''''Swing da Raia''''', que a galera parte para curtir e dançar ao som de&nbsp;'''''Bebeto''''',&nbsp;'''''Jorge Benjor''''',&nbsp;'''''Banda Copa Sete''''',&nbsp;'''''Elson do Forrogode''''', etc.'''''&nbsp;&nbsp;'''''</span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">E vamos descer mais uma pouco, mas continuando ainda na Raia, pois mais abaixo temos o local chamado de&nbsp;'''''Televisão''''', que tem esse nome por ter uma visão bem ampla da&nbsp;'''''Matinha'''''&nbsp;e de outras partes favela que ficam no&nbsp;''Rio Comprido''. Mais uma descidinha e chegamos no&nbsp;'''''Piauí''''', local onde funcionava a vendinha de antigo morador, infelizmente já falecido, cujo, assim era chamado pelos vizinhos por ter vindo desse estado nordestino. O mesmo, além da vendinha, também alugava quitinetes para quem precisasse de moradia, e quem ia morar lá dizia que morava no&nbsp;''Piauí'', e por conta disso, o local acabou sendo batizado com esse nome.</span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Que rolezão, né? E nem andei pelo alto do&nbsp;'''''Morro'''''&nbsp;todo, pois essa favela como eu disse no início, é muito grande, uma das maiores da&nbsp;''Zona Norte''&nbsp;e estou passeando por uma das partes que fica na&nbsp;''Tijuca''. Mas vamos continuar descendo, porque estou chegando na&nbsp;'''''Igrejinha''''', local que ainda é chamado assim pelo antigos moradores, pois ali funciona até hoje uma Igreja Evangélica bem antiga. Alguns moradores mais jovens chamam de&nbsp;'''''Jamaica''''',&nbsp;'''''Escadaria''''', ou&nbsp;'''''Forninho''''', nome dado ao pequeno espaço que há nessa área próximo a igreja e onde as pessoas fazem comemorações de aniversários e festas em geral. Abaixo temos o&nbsp;'''''Beco da Macua''''', ou simplesmente&nbsp;'''''Macua'''''. Local que durante algum tempo foi considerado uma das partes mais agitadas do Morro, devido os moradores serem pessoas bem decididos, digamos assim, e quando há qualquer injustiça por parte da PM, eles se unem e fazem bastante barulho, mobilizando até mesmo moradores de outras áreas mais próximas. &nbsp;</span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Logo no início da&nbsp;''Macua'', bem na entrada, funciona a&nbsp;'''''Creche Chapeuzinho Marrom''''', uma das primeiras a serem inauguradas nesta área do morro, entre o final da década de 1980 e o início da década de 1990. Ao lado da entrada do beco funciona uma pequena&nbsp;''Igreja Católica'', que chamamos de&nbsp;'''''Capelinha''''', fundada pelo&nbsp;'''''Frei Cassiano'''''&nbsp;e pelos&nbsp;'''''Frades'''''&nbsp;'''''Capuchinhos'''''&nbsp;da&nbsp;'''''Paróquia de São Sebastião''''', localizada na rua&nbsp;'''''Haddock Lobo''''', na&nbsp;''Tijuca''. Aos domingos e em datas festivas da&nbsp;'''''Igreja Católica''''', os padres sobem o morro para celebrarem as missas. Saímos da&nbsp;''Macua''&nbsp;e chegamos a&nbsp;'''''Escolinha''''', nome dado devido a funcionar ali a&nbsp;'''''Escola Municipal Frei Cassiano''''', que os antigos contam que o próprio Frei ajudou a construir e a inaugurou no início da década de 1970, assim como fez também o&nbsp;'''Posto Policial da Polícia Militar,'''&nbsp;que foi desativado por um tempo para instalação da&nbsp;'''''Unidade de Polícia Pacificadora'''''&nbsp;'''''(UPP)''''', no período do governo de&nbsp;'''''Sérgio Cabral'''''&nbsp;e depois voltando a funcionar ali próximo. Ao lado tem um caminho que vai dá para&nbsp;''Matinha'', chamado&nbsp;'''''Beco do Posto''''', fazendo também parte da&nbsp;''Escolinha''.</span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Nos fundos da escola forma um caminho como se fosse um corredor, onde funciona um comércio com algumas tendinhas, lojinhas, barraquinhas e um hortifruti. Algumas dessas tendinhas que funcionam por ali são bem antigas, como a&nbsp;'''''Tendinha do Manel do Cardoso''''', bar que pertencia a um senhor português, chamado&nbsp;'''''Manoel Cardoso'''''&nbsp;e com seu falecimento, acabou passando para o filho. O mesmo, assim como o&nbsp;''Piauí'', alugava quitinetes em beco próximo ao bar e com isso, o local acabou sendo batizado com seu sobrenome, o&nbsp;'''''Beco'''''&nbsp;'''''do Cardoso'''''. A antiga&nbsp;'''''Tendinha do Seu Zé''''', que passou também ser administrada por seus filhos após o mesmo ter adoecido e em seguida falecer. E por último, a&nbsp;'''''Tendinha do&nbsp;'''''<b>Pelado</b>, filho de&nbsp;''Seu Zé'', que herdou do pai o tino para os negócios, abrindo o seu próprio, mas, &nbsp;infelizmente em abril deste ano ele adoeceu e acabou nos deixando, para tristeza da maioria de nós que já éramos habituados a sua irreverência e alegria, usando o linguajar da favela, acostumados com sua zoação. Seu comércio passou a ser administrado por sua esposa.</span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Agora estou chegando na parte do Morro, que modéstia a parte, é a melhor e a que eu mais amo desde a infância. Não que as outras áreas da favela sejam ruins, mas essa muito especial para mim, pois foi onde nasci, cresci, me tornei mãe e agora avó. Acompanhei uma boa parte das transformações que ali aconteceram, vi chegar e partir várias pessoas que fizeram parte da minha infância, adolescência e também na fase adulta, e por esse motivo, falo de forma carinhosa e calorosa.</span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Fui descendo bem tranquila e cheguei no&nbsp;'''''Chapa''''', cujo esse nome foi dado por um grupo de amigos rapazes no início dos anos 1990, em homenagem a um outro grupo antigo também de rapazes amigos da década de 1960 e 1970, que se reuniam no local e era chamado de&nbsp;'''''Turma do Chapa'''''. Antes, ali era apenas chamado pelo nome da rua principal, a Joaquim Pizarro, e esses rapazes se reuniam ali para jogar bola, conversar, ouvir histórias contadas pelos mais antigos, fazerem festas, etc. E ouvindo uma dessas história contada por alguns dos integrantes do antigo grupo, decidiram se entitularem também com o nome do anterior.</span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Inicialmente, também chamados de&nbsp;'''''Turma do Chapa''''', mas alguns costumam chamar de&nbsp;'''''Bonde do Chapa''''', pois esse termo, “''bonde''” já estava sendo bem usado no vocabulário das favelas naquela época da formação do segundo grupo.</span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">O grupo além de reunir todos os dias, faziam festas na rua para os moradores e principalmente, no dia das crianças. Os mesmos, usavam camisetas com o nome da turma&nbsp;e de cada integrante. Tinham uma espécie de logomarca.</span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Com a fama da&nbsp;''Turma do Chapa'', os moradores, não só dessa parte, mas também das outras partes do&nbsp;''Morro'', passou a chamar aquela área de&nbsp;''Turma do Chapa&nbsp;''e depois simplificando, chamando apenas de&nbsp;''Chapa'', como é mais conhecido. Novas gerações de grupos amigos foram surgindo e perpetuando o nome dos antigos. Os dois grupos anteriores não se reúnem mais, mas o nome que deram ao local, acabou sendo eternizado na letras de funk do&nbsp;'''''MC'''''&nbsp;'''''Menor do Chapa''''', que também foi morador de lá.</span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Mas, não é porque a Turma do Chapa não se reúne mais que a animação parou, pois os fins de semana continuam “bombando”, com muito forró no&nbsp;'''''Bar do Ivanildo''''', com pessoas nos outros bares e na rua curtindo um funk, bebendo aquela cerveja gelada, crianças brincando e por aí vai. E nos dias de jogos, a galera se reúne nas portas das tendinhas para assistir aquele futebol como é de costume. Mesmo com tantos problemas, cujo todos nós sabemos quais são, ainda sim, tentamos levar a vida com um pouco de alegria.</span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Ali no&nbsp;''Chapa'', eu cresci, brinquei muito na rua, escorreguei na ladeira, conhecida como&nbsp;'''''Estradinha Nova''''', corri atrás de doces no dia de&nbsp;'''Cosme e Damião''', subi em árvores no terreno do antigo e já extinto&nbsp;'''''Colégio Santa Dorotéia'''''. Em dias de falta d’água, enfrentei filas juntos de outro moradores para pegar água na&nbsp;'''''Caixa D’Água'''''. Uma área bem ampla onde funciona uma subestação da&nbsp;'''''Companhia de Estadual de Água e Esgoto (CEDAE)''''', que por ter muitas residências é como se fosse mais um dos becos que tem no&nbsp;''Chapa''. Onde também a Turma do Chapa promovia suas festas e bailes funks e muitos moradores curtiam muito. Como uma criança de favela, tive uma infância e uma adolescência simples, mas bem legal. E quando meus filhos nasceram, mesmo em épocas bem diferentes, também puderam aproveitar a infância, apesar das inúmeras dificuldades e os muitos problemas que dentro de qualquer favela.</span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Dei uma parada no&nbsp;''Chapa'', mas vou continuar o rolé pelo&nbsp;''Turano&nbsp;''descendo e passando pela&nbsp;'''''Barra Funda'''''&nbsp;até chegar a&nbsp;'''''Escadinha''''', a escadaria que dá em frente a quadra do antigo&nbsp;'''''Bloco Carnavalesco Cometa do Bispo''''', que foi fundado no ano de 1962 e está ainda em atividade. Além dos ensaios do bloco, o espaço também é utilizado em comemorações de festas, bailes, etc. O terreno onde foi construída a quadra do bloco, era um campo de terra batida, que chamávamos de&nbsp;'''campinho'''. Ali, não só as crianças se reuniam para brincar e jogar bola, como os adultos também e faziam até campeonatos de futebol e queimado, com disputados por times de todas as áreas do&nbsp;''Morro do Turano''&nbsp;e de outros&nbsp;''Morros''&nbsp;próximos, como&nbsp;''Salgueiro'',&nbsp;''Formiga'',&nbsp;''Borel'',&nbsp;''Mangueira'', entre outros. No período de festas juninas, o campo era todo enfeitado e preparado para os festejos, havendo também campeonatos de “quadrilhas caipira”. Mas, no segundo governo César Maia, finalzinho da década de 1990, o campinho começou a ser desativado para as obras do projeto&nbsp;'''''Favela Bairro''''', e no terceiro governo do Prefeito, iniciou a construção da quadra do Bloco Cometa do Bispo e da&nbsp;'''''Creche Municipal Doutor Sérgio Arouca'''''&nbsp;que funciona ao lado. E além das moradias que já existiam por ali, outras foram sendo construídas e até mesmo, surgindo novos comércios.</span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">Do outro lado da rua, fica a&nbsp;'''''Colégio Estadual Herbert de Souza''''', onde funcionava o antigo&nbsp;'''''Colégio de Aplicação da UERJ (Cap UERJ)''''', que foi desativado em meados dos anos 1990 e após alguns anos de fechado, foi reaberto pelo'''''&nbsp;Governador Anthony Garotinho'''''&nbsp;no seu segundo mandato. Mas antes de funcionar como colégio, os mais antigos relatam que ali era uma&nbsp;'''Escola de Enfermagem''', que com a transferência para um outro lugar, foi adquirida pela&nbsp;'''''Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ)''''', passando a manter durante anos seu&nbsp;''Colégio de Aplicação&nbsp;''até a sua desativação entre o final do ano de 1996 e o início de 1997.</span></span></p> <p style="text-align: justify;"><span style="font-size:small;"><span style="font-family:Arial,Helvetica,sans-serif;">O&nbsp;''Colégio Herbert de Souza&nbsp;''atende alunos não só do&nbsp;''Morro do Turano'', mas também de outras favelas adjacentes. Nos fins de semana, as quadras poliesportivas são liberadas para lazer das crianças e até escolinhas de futebol e de artes marciais. Próximo ao colégio agora passou funcionar um dos pontos de mototáxi, e a alguns anos naquela área, após as obras da&nbsp;''Favela Bairro'', passou a funcionar um comércio de prestação de serviços, como oficinas e barbearias, aumentou o números de moradias até a entrada do Morro, que chamamos de&nbsp;'''''Curva''''', onde funciona uma borracharia e agora mais recentemente, passou a funcionar um bar e lanchonete, que ficam mais precisamente na rua&nbsp;'''''Barão de Itapagipe''''', ou simplesmente&nbsp;'''''Barão'''''&nbsp;como nós moradores costumamos chamar.</span></span></p> </blockquote>  
= Referências =
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