Marielle Franco: mudanças entre as edições

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'''Autoria: Mandata Marielle Franco | Por [https://wikifavelas.com.br/index.php?title=Usuário:Iara_Amora&action=edit&redlink=1 <bdi>Iara Amora</bdi>] e [https://wikifavelas.com.br/index.php?title=Usuário:Marivedder&action=edit&redlink=1 Mariana Gomes]'''''[[File:Marielle Franco.jpeg|thumb|left|200px|Marielle Franco]]''
'''Autoria: Mandata Marielle Franco | Por <bdi>[[Usuário:Iara Amora&action=edit&redlink=1|Iara Amora]]</bdi> e [[Usuário:Marivedder&action=edit&redlink=1|Mariana Gomes]]'''''[[File:Marielle Franco.jpeg|thumb|left|200px|Marielle Franco]]''
<p style="text-align: justify;">'''Marielle Francisco da Silva''', Marielle Franco,&nbsp;'''vereadora''' da cidade do Rio de Janeiro, mundialmente conhecida após ter sido assassinada, junto com seu motorista Anderson Gomes, em 14 de Março de 2018. Mais de um ano após esse crime brutal, a sociedade, sua família e suas eleitoras e eleitores ainda continuam sem saber quem mandou matá-la e porquê. &nbsp;Entre as poucas certezas, sabemos que foi um crime político. &nbsp;'''Eleita com 46.502 votos''' em 2016, aos 37 anos, foi a quinta parlamentar mais votada da cidade e a segunda mulher com mais votos, mas não pode concluir o seu mandato de quatro anos. A incidência política de Marielle não começou na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, nem se encerrou após sua morte.</p> <p style="text-align: justify;">Mari, como era conhecida entre suas amigas, amigos&nbsp;e colegas de trabalho,&nbsp;apresentava-se recorrentemente como '''mulher, negra, mãe, socióloga e cria da Maré'''! Agora, Marielle Franco passa a ser também símbolo das lutas de todas as mulheres que desejam um mundo livre de opressões. Não à toa, a frase “'''Marielle é semente'''” tomou conta do mundo.</p>  
<p style="text-align: justify;">'''Marielle Francisco da Silva''', Marielle Franco,&nbsp;'''vereadora''' da cidade do Rio de Janeiro, mundialmente conhecida após ter sido assassinada, junto com seu motorista Anderson Gomes, em 14 de Março de 2018. Mais de um ano após esse crime brutal, a sociedade, sua família e suas eleitoras e eleitores ainda continuam sem saber quem mandou matá-la e porquê. &nbsp;Entre as poucas certezas, sabemos que foi um crime político. &nbsp;'''Eleita com 46.502 votos''' em 2016, aos 37 anos, foi a quinta parlamentar mais votada da cidade e a segunda mulher com mais votos, mas não pode concluir o seu mandato de quatro anos. A incidência política de Marielle não começou na Câmara de Vereadores do Rio de Janeiro, nem se encerrou após sua morte.</p> <p style="text-align: justify;">Mari, como era conhecida entre suas amigas, amigos&nbsp;e colegas de trabalho,&nbsp;apresentava-se recorrentemente como '''mulher, negra, mãe, socióloga e cria da Maré'''! Agora, Marielle Franco passa a ser também símbolo das lutas de todas as mulheres que desejam um mundo livre de opressões. Não à toa, a frase “'''Marielle é semente'''” tomou conta do mundo.</p>  




=== Cria da Maré ===
=== Cria da Maré ===
<p style="text-align: justify;">Cria, gíria que, nas favelas do Rio de Janeiro, se refere a quem nasceu e cresceu - foi criado - em determinado território. Maré nome popular do '''[https://wikifavelas.com.br/index.php?title=O_Bairro_da_Maré Conjunto de Favelas da Maré]''', localizado na zona norte do Rio de Janeiro. A Maré abriga 16 favelas (Baixa do Sapateiro, Morro do Timbau, Parque Maré, Nova Maré, Nova Holanda, Rubens Vaz, Parque União, Conjunto Esperança, Conjunto Pinheiros, Vila do Pinheiro, Vila do João, 'Salsa e Merengue', Marcílio Dias, Roquete Pinto, Praia de Ramos, Bento Ribeiro Dantas e Mandacaru) e 129 mil moradores segundo o Censo Maré 2010. Ao se apresentar como Cria da Maré, Marielle reivindicava a sua identidade de favelada e a importância deste lugar em sua trajetória e também formação.</p> <p style="text-align: justify;">Como grande partes das favelas Cariocas, a Maré é composta por uma maioria negra, nordestina, ou descendente de nordestinos. A família de Marielle não é diferente.&nbsp;Marinete da Silva e Antônio Francisco da Silva Neto (Seu Toinho), seus pais, são descendentes de paraibanos. Seu avô paterno&nbsp;foi um dos primeiros moradores da Maré, ainda na época em que a maioria das casas eram palafitas. Parte de sua “tendinha” encontra-se exposto no Museu da Maré. A primeira filha do casal, Marielle Francisco da Silva, nasceu em 27 de julho de 1979. A menina comunicativa e serelepe cresceu na &nbsp;Maré, morando em diferentes localidades ao longo da vida, Conjunto Esperança, Timbau, Baixa do Sapateiro e Conjunto Manoel Nóbrega. Ainda criança, Marielle ganha uma irmã, Anielle, por quem muitas vezes enfrentou garotos encrenqueiros e a quem já&nbsp;ensinava a não baixar a cabeça para ninguém. &nbsp;Marielle ressaltava que foi uma adolescente favelada, que estudou em escolas públicas, frequentou o grupo jovem da Igreja Católica, brincava na rua e fugia para ir ao [[Baile_Funk|'''baile funk''']].</p>  
<p style="text-align: justify;">Cria, gíria que, nas favelas do Rio de Janeiro, se refere a quem nasceu e cresceu - foi criado - em determinado território. Maré nome popular do '''[[O Bairro da Maré|Conjunto de Favelas da Maré]]''', localizado na zona norte do Rio de Janeiro. A Maré abriga 16 favelas (Baixa do Sapateiro, Morro do Timbau, Parque Maré, Nova Maré, Nova Holanda, Rubens Vaz, Parque União, Conjunto Esperança, Conjunto Pinheiros, Vila do Pinheiro, Vila do João, 'Salsa e Merengue', Marcílio Dias, Roquete Pinto, Praia de Ramos, Bento Ribeiro Dantas e Mandacaru) e 129 mil moradores segundo o Censo Maré 2010. Ao se apresentar como Cria da Maré, Marielle reivindicava a sua identidade de favelada e a importância deste lugar em sua trajetória e também formação.</p> <p style="text-align: justify;">Como grande partes das favelas Cariocas, a Maré é composta por uma maioria negra, nordestina, ou descendente de nordestinos. A família de Marielle não é diferente.&nbsp;Marinete da Silva e Antônio Francisco da Silva Neto (Seu Toinho), seus pais, são descendentes de paraibanos. Seu avô paterno&nbsp;foi um dos primeiros moradores da Maré, ainda na época em que a maioria das casas eram palafitas. Parte de sua “tendinha” encontra-se exposto no Museu da Maré. A primeira filha do casal, Marielle Francisco da Silva, nasceu em 27 de julho de 1979. A menina comunicativa e serelepe cresceu na &nbsp;Maré, morando em diferentes localidades ao longo da vida, Conjunto Esperança, Timbau, Baixa do Sapateiro e Conjunto Manoel Nóbrega. Ainda criança, Marielle ganha uma irmã, Anielle, por quem muitas vezes enfrentou garotos encrenqueiros e a quem já&nbsp;ensinava a não baixar a cabeça para ninguém. &nbsp;Marielle ressaltava que foi uma adolescente favelada, que estudou em escolas públicas, frequentou o grupo jovem da Igreja Católica, brincava na rua e fugia para ir ao [[Baile_Funk|'''baile funk''']].</p>  


=== Mãe ===
=== Mãe ===
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=== Socióloga ===
=== Socióloga ===
<p style="text-align: justify;">Em 2000, &nbsp;ainda com a filha pequena, Marielle consegue retomar os estudos e o plano &nbsp;de ingressar em uma faculdade. A jovem, então, retorna ao &nbsp;pré-vestibular comunitário no [https://wikifavelas.com.br/index.php?title=O_Centro_de_Estudos_e_Ações_Solidárias_da_Maré '''Centro de Ações Solidárias da Maré (CEASM)'''], o qual já tinha frequentado a primeira turma e saído por conta da maternidade. Foi neste pré-vestibular que Marielle depositou suas esperanças em conquistar uma vaga na universidade e após 2 anos ingressou na universidade. Foi também no CEASM que a jovem conseguiu um de seus primeiros empregos, na secretaria da ONG.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">A partir de então, Marielle começa a ocupar espaços pouco acessíveis para a maioria das/os moradores de favelas e periferias da cidade. Em 2002, ingressou na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), onde cursou Ciências Sociais com uma bolsa integral obtida pelo Programa Universidade para Todos (Prouni). Enfrentou a dupla e tripla jornada de trabalho como grande parte das mulheres, não foi fácil conciliar os estudos com o trabalho e a maternidade. As dificuldades eram enormes, para além das questões financeiras, bem comuns ao cotidiano das classes mais baixas, sobretudo a juventude negra e periférica. Havia também a distância entre sua casa e a universidade, a precariedade e o alto preço do transporte público, a falta de políticas públicas para as mulheres mães, além do racismo cotidiano.</p> <p style="text-align: justify;">Alguns anos após se formar na graduação, Marielle queria continuar os estudos e fazer mestrado. Incentivada à época por seu companheiro, Eduardo Alves, pela família e amigas, decidiu ingressar no programa de mestrado em Administração Pública da Universidade Federal Fluminense (UFF). Em 2014, tornou-se mestra defendendo a dissertação intitulada "[https://wikifavelas.com.br/index.php?title=UPP_–_a_redução_da_favela_a_três_letras '''UPP - A redução da favela a três letras''']: uma análise da política de segurança pública do Estado do Rio de Janeiro". Após o assassinato de Marielle, sua família e amigas decidiram transformar sua dissertação em um livro de mesmo título.</p> <p style="text-align: justify;">A dissertação de mestrado de Marielle é fruto de uma intensa pesquisa, mas também de muita militância e experiência pessoal. O tema não foi escolhido por acaso, era resultado de sua personalidade: não se permitia viver em zona de conforto, queria se provocar o tempo todo, sem se acomodar em caminhos fáceis. Uma brilhante análise sobre a política de segurança pública implementada no estado do Rio de Janeiro entre 2008 e 2013, as Unidades de Polícia Pacificadora, alvo de tantas críticas por parte dos movimentos sociais, e ao mesmo tempo defendida com afinco por algumas parcelas da sociedade civil e representantes do Estado brasileiro.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">Para Marielle Franco, o objetivo da dissertação foi demonstrar que “enquanto política de segurança pública adotada no estado do Rio de Janeiro, [as UPPs] reforçam o modelo de Estado Penal”, além de tentar “identificar se as UPPs representam uma alteração nas políticas de segurança ou se estas se confirmam como maquiagem dessas políticas”. A análise de Marielle Franco compreende os anos entre 2008 e 2013, com foco na perspectiva das favelas, em especial a Favela da Maré, onde o Estado Penal, influenciado pelo acirramento do neoliberalismo, ainda segundo a autora, usa o discurso da ‘insegurança social’ e “aplica uma política voltada para repressão e controle dos pobres”.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">Ainda segundo Marielle, “o cerco militarista nas favelas e o processo crescente de encarceramento, no seu sentido mais amplo” eram representativos do contexto de implementação das UPPs. Elas, portanto, se apresentam como uma política que fortalece o Estado Penal para “conter os insatisfeitos ou ‘excluídos’ do processo, formados por uma quantidade significativa de pobres, cada vez mais colocados nos guetos das cidades e nas prisões”.</p> <p style="text-align: justify;">Enquanto pesquisava e escrevia este trabalho, Marielle Franco seguia atuando como militante defensora de Direitos Humanos. Luta a qual foi se reconhecendo a partir de sua vivência pessoal de mulher, negra e favelada. Em 2005, sua amiga Jaqueline da época do pré-vestibular, &nbsp;estudante de economia na UERJ, foi assassinada durante um tiroteio na favela. O crime aconteceu na mesma localidade onde também já havia sido morto, o menino Matheus, de apenas 7 anos, que havia saído para comprar pão. Este momento doloroso a aproximou ainda mais do debate sobre o direito à vida na favela e da segurança pública, mais tarde aprofundado em sua trajetória de militância e acadêmica, em especial no mestrado, e da construção da campanha contra o caveirão, no mesmo ano.</p> <p style="text-align: justify;">Marielle tinha a consciência da importância da ocupação de cada um dos espaços até onde chegou em sua trajetória, ela costumava dizer que ocupar a política é fundamental para reduzir as desigualdades que nos cercam e foi o que ela fez de diferentes formas em toda a sua trajetória.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">Em 2006, participou da campanha que elegeu Marcelo Freixo à deputado estadual do Rio de Janeiro. Desde o primeiro mandato de Freixo, Marielle atuou como assessora parlamentar. Entre as ações desenvolvidas por ela, estava a constante articulação com diversos movimentos sociais, desde o movimento feminista, aos movimentos de favelas e de cultura. Um exemplo foi sua atuação durante o processo de aprovação da Lei 5543/2009, conhecida como Lei Funk é Cultura, que define o funk como movimento cultural e musical de caráter popular. Atuou também &nbsp;como coordenadora da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (CDDHC/Alerj), presidida por Marcelo Freixo. Marielle se tornou referência no atendimento às violações aos direitos humanos no Rio de Janeiro e seu telefone um dos mais acionados nestas situações. O que não deixou de acontecer quando se tornou vereadora.</p> <p style="text-align: justify;">Na CDDHC/Alerj, Marielle passou a deixar sua marca e imprimir uma nova estratégia diante dos desafios colocados para a esquerda do Rio de Janeiro. Seu olhar para a favela era nítido e uma característica evidente de sua atuação, mas ela não aceitava ficar nesta “zona de conforto”. Foi então que ela passou a dar uma atenção especial não somente às vítimas de violações de Direitos Humanos, mas também às mães e familiares de vítimas de violência do Estado e, posteriormente, aos policiais e agentes de segurança pública vítimas de violações.&nbsp;
<p style="text-align: justify;">Em 2000, &nbsp;ainda com a filha pequena, Marielle consegue retomar os estudos e o plano &nbsp;de ingressar em uma faculdade. A jovem, então, retorna ao &nbsp;pré-vestibular comunitário no '''[[O Centro de Estudos e Ações Solidárias da Maré|Centro de Ações Solidárias da Maré (CEASM)]]''', o qual já tinha frequentado a primeira turma e saído por conta da maternidade. Foi neste pré-vestibular que Marielle depositou suas esperanças em conquistar uma vaga na universidade e após 2 anos ingressou na universidade. Foi também no CEASM que a jovem conseguiu um de seus primeiros empregos, na secretaria da ONG.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">A partir de então, Marielle começa a ocupar espaços pouco acessíveis para a maioria das/os moradores de favelas e periferias da cidade. Em 2002, ingressou na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio), onde cursou Ciências Sociais com uma bolsa integral obtida pelo Programa Universidade para Todos (Prouni). Enfrentou a dupla e tripla jornada de trabalho como grande parte das mulheres, não foi fácil conciliar os estudos com o trabalho e a maternidade. As dificuldades eram enormes, para além das questões financeiras, bem comuns ao cotidiano das classes mais baixas, sobretudo a juventude negra e periférica. Havia também a distância entre sua casa e a universidade, a precariedade e o alto preço do transporte público, a falta de políticas públicas para as mulheres mães, além do racismo cotidiano.</p> <p style="text-align: justify;">Alguns anos após se formar na graduação, Marielle queria continuar os estudos e fazer mestrado. Incentivada à época por seu companheiro, Eduardo Alves, pela família e amigas, decidiu ingressar no programa de mestrado em Administração Pública da Universidade Federal Fluminense (UFF). Em 2014, tornou-se mestra defendendo a dissertação intitulada "'''[[UPP – a redução da favela a três letras|UPP - A redução da favela a três letras]]''': uma análise da política de segurança pública do Estado do Rio de Janeiro". Após o assassinato de Marielle, sua família e amigas decidiram transformar sua dissertação em um livro de mesmo título.</p> <p style="text-align: justify;">A dissertação de mestrado de Marielle é fruto de uma intensa pesquisa, mas também de muita militância e experiência pessoal. O tema não foi escolhido por acaso, era resultado de sua personalidade: não se permitia viver em zona de conforto, queria se provocar o tempo todo, sem se acomodar em caminhos fáceis. Uma brilhante análise sobre a política de segurança pública implementada no estado do Rio de Janeiro entre 2008 e 2013, as Unidades de Polícia Pacificadora, alvo de tantas críticas por parte dos movimentos sociais, e ao mesmo tempo defendida com afinco por algumas parcelas da sociedade civil e representantes do Estado brasileiro.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">Para Marielle Franco, o objetivo da dissertação foi demonstrar que “enquanto política de segurança pública adotada no estado do Rio de Janeiro, [as UPPs] reforçam o modelo de Estado Penal”, além de tentar “identificar se as UPPs representam uma alteração nas políticas de segurança ou se estas se confirmam como maquiagem dessas políticas”. A análise de Marielle Franco compreende os anos entre 2008 e 2013, com foco na perspectiva das favelas, em especial a Favela da Maré, onde o Estado Penal, influenciado pelo acirramento do neoliberalismo, ainda segundo a autora, usa o discurso da ‘insegurança social’ e “aplica uma política voltada para repressão e controle dos pobres”.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">Ainda segundo Marielle, “o cerco militarista nas favelas e o processo crescente de encarceramento, no seu sentido mais amplo” eram representativos do contexto de implementação das UPPs. Elas, portanto, se apresentam como uma política que fortalece o Estado Penal para “conter os insatisfeitos ou ‘excluídos’ do processo, formados por uma quantidade significativa de pobres, cada vez mais colocados nos guetos das cidades e nas prisões”.</p> <p style="text-align: justify;">Enquanto pesquisava e escrevia este trabalho, Marielle Franco seguia atuando como militante defensora de Direitos Humanos. Luta a qual foi se reconhecendo a partir de sua vivência pessoal de mulher, negra e favelada. Em 2005, sua amiga Jaqueline da época do pré-vestibular, &nbsp;estudante de economia na UERJ, foi assassinada durante um tiroteio na favela. O crime aconteceu na mesma localidade onde também já havia sido morto, o menino Matheus, de apenas 7 anos, que havia saído para comprar pão. Este momento doloroso a aproximou ainda mais do debate sobre o direito à vida na favela e da segurança pública, mais tarde aprofundado em sua trajetória de militância e acadêmica, em especial no mestrado, e da construção da campanha contra o caveirão, no mesmo ano.</p> <p style="text-align: justify;">Marielle tinha a consciência da importância da ocupação de cada um dos espaços até onde chegou em sua trajetória, ela costumava dizer que ocupar a política é fundamental para reduzir as desigualdades que nos cercam e foi o que ela fez de diferentes formas em toda a sua trajetória.&nbsp;</p> <p style="text-align: justify;">Em 2006, participou da campanha que elegeu Marcelo Freixo à deputado estadual do Rio de Janeiro. Desde o primeiro mandato de Freixo, Marielle atuou como assessora parlamentar. Entre as ações desenvolvidas por ela, estava a constante articulação com diversos movimentos sociais, desde o movimento feminista, aos movimentos de favelas e de cultura. Um exemplo foi sua atuação durante o processo de aprovação da Lei 5543/2009, conhecida como Lei Funk é Cultura, que define o funk como movimento cultural e musical de caráter popular. Atuou também &nbsp;como coordenadora da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (CDDHC/Alerj), presidida por Marcelo Freixo. Marielle se tornou referência no atendimento às violações aos direitos humanos no Rio de Janeiro e seu telefone um dos mais acionados nestas situações. O que não deixou de acontecer quando se tornou vereadora.</p> <p style="text-align: justify;">Na CDDHC/Alerj, Marielle passou a deixar sua marca e imprimir uma nova estratégia diante dos desafios colocados para a esquerda do Rio de Janeiro. Seu olhar para a favela era nítido e uma característica evidente de sua atuação, mas ela não aceitava ficar nesta “zona de conforto”. Foi então que ela passou a dar uma atenção especial não somente às vítimas de violações de Direitos Humanos, mas também às mães e familiares de vítimas de violência do Estado e, posteriormente, aos policiais e agentes de segurança pública vítimas de violações.&nbsp;


=== Mulher ===  
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