Reuniões comunitárias das UPPs: mudanças entre as edições

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'''Autoria: Frank Andrew Davies'''


A realização de reuniões comunitárias, também chamadas de cafés comunitários em algumas localidades, foi uma características do modo de relação entre policiais e moradores no contexto do programa de "pacificação" de favelas. Realizadas nos primeiros anos enquanto atividades irregulares, as reuniões promovidas por comandantes de UPPs tornaram-se frequentes a partir de 2011, persistindo enquanto prática registrada por pesquisadores até 2016. 
A realização de reuniões comunitárias, também chamadas de cafés comunitários em algumas localidades, foi uma características do modo de relação entre policiais e moradores no contexto do programa de "pacificação" de favelas. Realizadas nos primeiros anos enquanto atividades irregulares, as reuniões promovidas por comandantes de UPPs tornaram-se frequentes a partir de 2011, persistindo enquanto prática registrada por pesquisadores até 2016. 
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Nem todos os comandos das UPP promoveram reuniões “comunitárias”. Entre 2013 e 2014, das 27 favelas arroladas ao projeto, apenas 12 contavam com a iniciativa desses espaços. Apesar disso, a Coordenadoria de Polícia Pacificadora, órgão diretor deste programa, emitiu em junho de 2013 uma resolução orientando todos os comandos das unidades policiais a participarem ou organizarem encontros “comunitários” com regularidade, no mínimo, trimestral.
Nem todos os comandos das UPP promoveram reuniões “comunitárias”. Entre 2013 e 2014, das 27 favelas arroladas ao projeto, apenas 12 contavam com a iniciativa desses espaços. Apesar disso, a Coordenadoria de Polícia Pacificadora, órgão diretor deste programa, emitiu em junho de 2013 uma resolução orientando todos os comandos das unidades policiais a participarem ou organizarem encontros “comunitários” com regularidade, no mínimo, trimestral.


Considerando as dinâmicas e os efeitos relacionados à promoção dessas reuniões, Davies frequentou e analisou ao longo de 2013 diferentes encontros ocorridos em 4 favelas ocupadas pela polícia. O que pode concluir é que esses espaços, em seus propósitos e na teatralidade típica dos eventos, pretende materializar a "presença do Estado", em territórios até então imaginados pela sua ausência. Os papéis e os cenários são variados em cada encontro e localidade, mas ainda que sob essa heterogeneidade, as reuniões comunitárias eram dotadas de formalidade e regularidade que mobilizavam uma performance dos ideais da “pacificação”. Além disso, apresentam um propósito claro, ou como diria a tradição antropológica, uma “eficácia”: aproximar moradores e representantes do Estado e do setor privado no intuito de encaminhar problemas e necessidades para, a partir disso, solucioná-los. Contudo, a análise de quatro casos constata a continuidade de um modelo de interlocução que ajusta para baixo os limites da possibilidade de participação dos moradores na esfera pública, buscando ensiná-los como reivindicar e se comportar frente a essa nova vida "pacificada".
Considerando as dinâmicas e os efeitos relacionados à promoção dessas reuniões, Davies frequentou e analisou ao longo de 2013 diferentes encontros ocorridos em 4 favelas ocupadas pela polícia. O que pode concluir é que esses espaços, em seus propósitos e na teatralidade típica dos eventos, pretende materializar a "presença do Estado", em territórios até então imaginados pela sua ausência. Os papéis e os cenários são variados em cada encontro e localidade, mas ainda que sob essa heterogeneidade, as reuniões comunitárias eram dotadas de formalidade e regularidade que mobilizavam uma performance dos ideais da “pacificação”. Além disso, apresentam um propósito claro, ou como diria a tradição antropológica, uma “eficácia”: aproximar moradores e representantes do Estado e do setor privado no intuito de encaminhar problemas e necessidades para, a partir disso, solucioná-los. Contudo, a análise de quatro casos constata a continuidade de um modelo de interlocução que ajusta para baixo os limites da possibilidade de participação dos moradores na esfera pública, buscando ensiná-los como reivindicar e se comportar frente a essa nova vida "pacificada".   Referência:
   
Referência:


DAVIES, Frank Andrew. Rituais de “pacificação”: uma análise das reuniões organizadas pelos comandos das UPPs. Rev. bras. segur. pública, São Paulo, v. 8, n. 1, 24-46, Fev/Mar 2014.
DAVIES, Frank Andrew. Rituais de “pacificação”: uma análise das reuniões organizadas pelos comandos das UPPs. Rev. bras. segur. pública, São Paulo, v. 8, n. 1, 24-46, Fev/Mar 2014.