As lutas do povo do Borel: mudanças entre as edições
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<p style="text-align:justify"><span style="line-height:150%"><span style="font-size:12.0pt"><span style="line-height:150%"><span style="font-family:">O livro “As lutas do povo do Borel” foi editado pela livraria e editora Muro. Segundo a memória de um ex-militante do PCB, a livraria Muro teria sido fundada a partir de um grupo, ligado ao Partido, que atuava na área cultural no bairro da Tijuca desde meados dos anos 1970. Esse foi um período de reorganização da atuação de base dos movimentos de oposição à ditadura, após o desmantelamento dos grupos que optaram pela luta armada e o exílio de diversas lideranças de relevância nesse cenário.</span></span></span></span></p> <p style="text-align:justify"><span style="line-height:150%"><span style="font-size:12.0pt"><span style="line-height:150%"><span style="font-family:">A matriz da livraria e editora surgiu em 1975 no bairro de Ipanema, criada pelo empresário e atual dono da rede de livrarias Travessa, Rui Campos. A filial tijucana é criada posteriormente. Sua localização se dá ao lado do tradicional Café Palheta, no coração da praça Sáenz Peña, um dos principais pontos do bairro e possuidora de uma aura de efervescência cultural, devido aos inúmeros cinemas que lá existiram, e que lhe fizeram valer o apelido de “a Cinelândia da Tijuca”, a partir da década de 1940.</span></span></span></span></p> <p style="text-align:justify"><span style="line-height:150%"><span style="font-size:12.0pt"><span style="line-height:150%"><span style="font-family:">O processo de elaboração da obra envolveu diversos personagens, como Fernanda Carneiro, militante da Ação Popular (AP) e principal responsável pela preparação dos originais. A AP foi um dos principais grupos de resistência armada ao regime militar, mas que nos anos 1970 e 1980 concentrou suas ações em iniciativas culturais junto às classes populares, incluindo moradores de favelas. Manoel Gomes foi um operário com papel de destaque na UTF, sendo uma figura simbólica no morro do Borel. Contudo, Manoel Gomes já não residia no Borel na época em que redigiu a obra, embora continuasse frequentando a favela. Sua residência era em São Gonçalo, para onde Fernanda se deslocava com frequência para datilografar a obra.</span></span></span></span></p> <p style="text-align:justify"><span style="line-height:150%"><span style="font-size:12.0pt"><span style="line-height:150%"><span style="font-family:">Outra passagem importante diz respeito à escolha de Prestes como prefaciador do livro. No início dos anos 1980, o Cavaleiro da Esperança encontrava-se com as relações estremecidas com o próprio PCB, o que culminaria em sua saída definitiva em janeiro 1984. No entanto, sua escolha foi simbólica pelo peso de sua figura histórica e pela mítica que exercia entre os militantes, principalmente os novos. Sendo assim, podemos ver que o lançamento do livro foi possível graças à atuação de dois grupos de esquerda que atuavam no Borel do período, ligados ao PCB e à AP.</span></span></span><span style="font-size:12.0pt"><span style="line-height:150%"><span style="font-family:">A livraria e editora Muro encerra suas atividades em meados dos anos <st1:metricconverter productid="1980. A" w:st="on">1980. A</st1:metricconverter> filial do Catete, última a ser aberta, foi a primeira a fechar as portas. Logo depois, a filial tijucana segue o mesmo caminho. A principal causa do fim da atividade das duas sedes seriam problemas financeiros.</span></span></span></span></p> <p style="text-align:justify"><span style="line-height:150%"><span style="font-size:12.0pt"><span style="line-height:150%"><span style="font-family:">Apesar de não ser muito conhecida, a obra de Manoel Gomes é de suma importância. Lançada em um período de abertura política, reorganização de movimentos sociais e mobilização da sociedade contra o autoritarismo, revela a visão de uma geração de moradores favelados sobre seu poder de união como forma de alcançar seus direitos. Por mais que estes pareçam cada vez mais distantes, a memória dessa geração é de grande relevância para se entender a junção de forças dos moradores de favelas como um fator histórico definidor desse próprio grupo social.</span></span></span></span></p> | <p style="text-align:justify"><span style="line-height:150%"><span style="font-size:12.0pt"><span style="line-height:150%"><span style="font-family:">O livro “As lutas do povo do Borel” foi editado pela livraria e editora Muro. Segundo a memória de um ex-militante do PCB, a livraria Muro teria sido fundada a partir de um grupo, ligado ao Partido, que atuava na área cultural no bairro da Tijuca desde meados dos anos 1970. Esse foi um período de reorganização da atuação de base dos movimentos de oposição à ditadura, após o desmantelamento dos grupos que optaram pela luta armada e o exílio de diversas lideranças de relevância nesse cenário.</span></span></span></span></p> <p style="text-align:justify"><span style="line-height:150%"><span style="font-size:12.0pt"><span style="line-height:150%"><span style="font-family:">A matriz da livraria e editora surgiu em 1975 no bairro de Ipanema, criada pelo empresário e atual dono da rede de livrarias Travessa, Rui Campos. A filial tijucana é criada posteriormente. Sua localização se dá ao lado do tradicional Café Palheta, no coração da praça Sáenz Peña, um dos principais pontos do bairro e possuidora de uma aura de efervescência cultural, devido aos inúmeros cinemas que lá existiram, e que lhe fizeram valer o apelido de “a Cinelândia da Tijuca”, a partir da década de 1940.</span></span></span></span></p> <p style="text-align:justify"><span style="line-height:150%"><span style="font-size:12.0pt"><span style="line-height:150%"><span style="font-family:">O processo de elaboração da obra envolveu diversos personagens, como Fernanda Carneiro, militante da Ação Popular (AP) e principal responsável pela preparação dos originais. A AP foi um dos principais grupos de resistência armada ao regime militar, mas que nos anos 1970 e 1980 concentrou suas ações em iniciativas culturais junto às classes populares, incluindo moradores de favelas. Manoel Gomes foi um operário com papel de destaque na UTF, sendo uma figura simbólica no morro do Borel. Contudo, Manoel Gomes já não residia no Borel na época em que redigiu a obra, embora continuasse frequentando a favela. Sua residência era em São Gonçalo, para onde Fernanda se deslocava com frequência para datilografar a obra.</span></span></span></span></p> <p style="text-align:justify"><span style="line-height:150%"><span style="font-size:12.0pt"><span style="line-height:150%"><span style="font-family:">Outra passagem importante diz respeito à escolha de Prestes como prefaciador do livro. No início dos anos 1980, o Cavaleiro da Esperança encontrava-se com as relações estremecidas com o próprio PCB, o que culminaria em sua saída definitiva em janeiro 1984. No entanto, sua escolha foi simbólica pelo peso de sua figura histórica e pela mítica que exercia entre os militantes, principalmente os novos. Sendo assim, podemos ver que o lançamento do livro foi possível graças à atuação de dois grupos de esquerda que atuavam no Borel do período, ligados ao PCB e à AP.</span></span></span><span style="font-size:12.0pt"><span style="line-height:150%"><span style="font-family:">A livraria e editora Muro encerra suas atividades em meados dos anos <st1:metricconverter productid="1980. A" w:st="on">1980. A</st1:metricconverter> filial do Catete, última a ser aberta, foi a primeira a fechar as portas. Logo depois, a filial tijucana segue o mesmo caminho. A principal causa do fim da atividade das duas sedes seriam problemas financeiros.</span></span></span></span></p> <p style="text-align:justify"><span style="line-height:150%"><span style="font-size:12.0pt"><span style="line-height:150%"><span style="font-family:">Apesar de não ser muito conhecida, a obra de Manoel Gomes é de suma importância. Lançada em um período de abertura política, reorganização de movimentos sociais e mobilização da sociedade contra o autoritarismo, revela a visão de uma geração de moradores favelados sobre seu poder de união como forma de alcançar seus direitos. Por mais que estes pareçam cada vez mais distantes, a memória dessa geração é de grande relevância para se entender a junção de forças dos moradores de favelas como um fator histórico definidor desse próprio grupo social.</span></span></span></span></p> | ||
= <span style="line-height:150%"><span style="font-size:12.0pt"><span style="line-height:150%"><span style="font-family:">Referências bibliográficas</span></span></span></span> = | = <span style="line-height:150%"><span style="font-size:12.0pt"><span style="line-height:150%"><span style="font-family:">Referências bibliográficas</span></span></span></span> = | ||
<p style="text-align:justify"><span style="line-height:150%"><span style="font-size:12.0pt"><span style="line-height:150%"><span style="font-family:">AMOROSO, Mauro.</span></span></span></span>''Caminhos do lembrar: a construção e os usos políticos da memória no morro do Borel.'' Rio de Janeiro: Ponteio, 2015.</p> <p style="text-align:justify"><span style="line-height:150%"><span style="font-size:12.0pt"><span style="line-height:150%"><span style="font-family:">GOMES, Manoel.</span></span></span></span>''As lutas do povo do Borel.'' Rio de Janeiro: Muro, 1980.</p> | <p style="text-align:justify"><span style="line-height:150%"><span style="font-size:12.0pt"><span style="line-height:150%"><span style="font-family:">AMOROSO, Mauro.</span></span></span></span>''Caminhos do lembrar: a construção e os usos políticos da memória no morro do Borel.'' Rio de Janeiro: Ponteio, 2015.</p> <p style="text-align:justify"><span style="line-height:150%"><span style="font-size:12.0pt"><span style="line-height:150%"><span style="font-family:">GOMES, Manoel.</span></span></span></span>''As lutas do povo do Borel.'' Rio de Janeiro: Muro, 1980.</p> | ||
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