O ato “Parem de nos Matar” aconteceu no dia 26 de maio de 2019, em Ipanema, com concentração no Posto 8 da praia.
Coordenado por moradores de favelas do Rio, com apoio de diversos movimentos sociais, o ato pretendeu ser um manifesto contra o massacre que ocorre nas favelas e áreas periféricas do estado, com ação da polícia nesses territórios, em horários indiscriminados, com “ordem de abate”, ações policiais de helicópteros e “autos de resistência” forjados.
A data do protesto tem um porquê: o dia 26 de maio é o primeiro domingo após completar 1 mês do assassinato do gari comunitário William dos Santos Mendonça, conhecido como Nera, no Vidigal. "Mesmo dizendo que era trabalhador e vestido com a roupa de gari atiraram pelas costas. Na mesma data fizemos uma manifestação no Vidigal e fomos repreendidos pela polícia de forma brutal. Percebemos que não adianta fazer ato dentro da favela e resolvemos vir para o asfalto", explicou a professora Bárbara Nascimento, do coletivo Favela no Feminino e Politilaje. "Viemos mostrar nossos corpos negros e pedir, inclusive, o apoio de toda a sociedade e da classe média progressista, porque todas as vidam importam", acrescentou.
Dias antes da morte do gari Nera, o músico Evaldo Rosa dos Santos e o catador de papel Luciano Macedo foram executados pelo Exército depois de se tornarem alvo de 240 tiros em Guadalupe, zona oeste. Outro caso que motivou o ato foi a morte do estudante Lucas Brás de 17 anos, alvejado no Parque Royal, zona norte.
O ato foi sendo planejado desde o mês anterior e não tem qualquer relação com outras manifestações que possam vir a ocorrer na mesma data. “Em nada tem a ver com qualquer outro ato que possa ser marcado na mesma data”, diz Barbara Nascimento, porta-voz do ato. “É um ato a favor de nossa vidas, é para que parem de nos matar, parem de matar a juventude negra favelada, parem as incursões em horários escolares, parem de entrar em nossas casas sem mandato, parem de criminalizar nossa existência”.
O objetivo é que favela e asfalto se unam em um só grito. “Pelo fim do genocídio do povo das favelas”. Os dados são preocupantes. Nos primeiros meses de 2019, mais de 400 pessoas foram mortas pela polícia e exército.
"É muito forte dizer "parem de nos matar". A gente não quer mais uma política de segurança que não garante segurança e que viola uma série de direitos. Pedimos o fim desse genocídio, dessa barbárie porque no Estado Democrático de Direito isso não é aceitável", disse a moradora da Maré, Shyrlei Rosendo, do Redes da Maré.
Ainda de acordo com dados do Instituto de Segurança Pública (ISP), 4 mortes por dia foram ocasionadas pela intervenção policial no primeiro trimestre de 2019, o que representa aumento de 18% em relação ao ano anterior.
"Não é mais possível conviver com incursões da Polícia Militar dentro das favelas, que chegam atirando, metendo o pé na porta e matando a nossa população. É uma tal de bala perdida o tempo todo. Todos os dias nós acordamos com óbitos dentro das favelas", protestou Fátima Monteiro, coordenadora estadual do Movimento Negro Unificado (MNU).
Militantes do Levante Popular da Juventude realizaram uma intervenção para denunciar o silenciamento das juventudes negras das periferias. "Viemos de luto, todos de preto e amordaçados representando o silenciamento das vidas negras. Amarrados para mostrar o quanto nós somos limitados nessa sociedade, do quanto a falta de opções, de escolha e de direitos nos amarram a condições de vidas, muitas vezes, deprimentes", explicou Louise Lagoeiro, estudante da Universidade Federal Fluminense (UFF).
A manifestação também contou com apresentações artísticas de MC Leonardo, Filhas de Gandhi, de alunos da Biblioteca Parque, Slam da Poesia, Coletivo Favela Tem Voz, entre outros. Parlamentares também marcaram presença no atividade, como as deputadas federais Benedita da Silva (PT-RJ) e Jandira Feghali (PC do B), a deputada estadual Renata Souza (Psol-RJ) e o vereador Eduardo Suplicy (PT-SP).
Entre os organizadores do evento estiveram a Associação de moradores do Vidigal, o Movimento popular de favelas. Nós do Morro, Bando Cultural Favelados da Rocinha, Associação de Moradores da Rocinha, Redes da Maré, Nosso Jardim, Movimento Negro Unificado, Rede de Mães e Familiares da Baixada, Favela não se cala, Frente de Juristas Negras e Negros do Estado do Rio de Janeiro, UNEGRO – União de negras e negros por igualdade, Mães e Familiares Vítimas de Violência do Estado, além de muitos outros movimentos sociais.
“Nossos mortos tem voz”, dizem eles.
“Parem de nos matar!”
Organizadores do ato
Associação de moradores do Vidigal Politilaje Favela no Feminino Coletivo Jararaca RJ Movimento popular de favelas Movimento Moleque B’nai B’rith Redes da Maré Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro Coletivo Juntos pela Paz Nós do Morro Bando Cultural Favelados da Rocinha Associação de Moradores da Rocinha Mães e Familiares Vítimas de Violência do Estado Rede de Comunidades Movimentos Contra a Violência Rede de Mães e Familiares da Baixada Levante Popular da Juventude Favelação Funperj MTST Fórum de Educação de Jovens e Adultos Comissão Popular da Verdade Movimento Negro Unificado Favela não se cala Frente Brasil Popular Radio Estilo Livre Vidigal Frente de Juristas Negras e Negros do Estado do Rio de Janeiro Frente Democrática da Advocacia UNEGRO – União de negras e negros por igualdade Movimento Nosso Jardim Coletivo União Comunitária Ser Consciente Frente Favela Brasil Militantes em Cena Frente Povo Sem Medo Quilombo Raça e Classe Torcedores pela Democracia FAFERJ FAM-RIO Conselho Popular MST Grupo de Resistência Bando Cultural Favelados ASA – Associação Scholem Aleichem. RioOnWatch Movimento dos Atingidos por Barragens