Mil dias
"A noite não adormece
nos olhos das mulheres
a lua fêmea, semelhante nossa,
em vigília atenta vigia
a nossa memória"
Conceição Evaristo
Ainda que dos olhos surjam lágrimas de saudades de um tempo que não será vivido, haverá sempre uma força escondida para por no rosto de cada uma, de cada um, o marcante sorriso de confiança, certeza e fé, pois segue-se adiante pelo caminho, deixando mais perto o que parecia longe. E ainda se a estrada parecer dura ou algum peso se fizer sentir, sempre se pode dividí-lo com a colega, o colega ao lado, que resolveu acompanhar os mesmos firmes passos. Afinal, vale a pena a luta por tratar-se, acima de tudo, daquela palavra-vontade que é a Esperança: na vontade de ver acontecer. De fazer acontecer.
Páginas de livro escrito contém palavras marcadas de sentido. Feridas no corpo contém as cascas de pele que marcam a cicatrização. Entre as estradas que interligam as cidades há os marcos rodoviários: são pedras. No tempo que passa, as horas assomam-se para os dias, desde aquele, marcado, em noite não dormida e prolongada na constante vigília que insiste naquela mesma pergunta, gerando a numérica marcação das centenas, cuja grande quantidade demonstra a tragédia do acontecimento, com a ausência das respostas.
Enquanto isso, nas mesmas passagens dos dias, as sementes lançadas começam por desabrochar e florescer, gerando novos amanheceres, acrescentando outras vozes, lançando novas palavra-semente que, encontrando bom solo, darão bons frutos.
Este dia, que seguiu em madrugada chuvosa, resulta como um grande clamor, que dará ensejo, senão à definitiva resposta, para a decisiva pergunta. O coração de cada leitora, cada leitor, saberá fazê-la. Em coro - desperto por mil relógios - se preciso for.
{este texto seguirá em constante revisão}
